Brasil precisa assumir responsabilidades globais, diz ministro alemão

Jornal GGN – Frank-Walter Steinmeier, ministro de Relações Exteriores da Alemanha, disse que espera que o Brasil tenha a mesma ambição que seu país tem mostrado nas políticas para lidar com a mudança climática. Uma comitiva alemã, liderada pela chanceler Angela Merkel, chegará ao país nesta quarta-feira (19) e as negociações para a conferência da ONU sobre o clima serão prioridade.

Steinmeier ainda afirma que “independentemente dos desafios atuais que a política interna brasileira esteja enfrentando”, o Brasil é o parceiro mais importante da Alemanha na América Latina, ressaltando o histórico de relações bilaterais entre os dois países.

Da Folha

Para ministro alemão, Brasil tem de assumir responsabilidades globais
 
A comitiva alemã liderada pela chanceler Angela Merkel que chega a Brasília nesta quarta-feira (19) tem uma extensa pauta para as reuniões com o governo brasileiro, mas as negociações para a conferência da ONU sobre o clima, em dezembro, são um assunto prioritário para a Alemanha.

 
Em entrevista por e-mail à Folha às vésperas de embarcar para Brasília, o ministro alemão de Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, disse esperar do Brasil a mesma ambição que seu país tem apresentado em políticas para lidar com a mudança climática –ainda que o governo brasileiro não tenha estipulado uma meta de redução dos gases causadores do efeito estufa.
 
Steinmeier, 59, sabe que chega ao Brasil em um momento de turbulência política, mas vê o país como o parceiro mais importante da América Latina, independentemente do atual momento vivido pelo governo Dilma.
 
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
 

Folha – A menos de quatro meses da COP 21, a conferência da ONU sobre clima, em Paris, o Brasil ainda não estipulou uma meta de redução de gases causadores do efeito estufa. Uma vez que a chanceler Merkel está à frente dos esforços para cortar as emissões globais, ela cobrará da presidente Dilma uma posição mais clara? O que a Alemanha espera do Brasil nessa área?
Frank-Walter Steinmeier – Um tratado abrangente e ambicioso sobre o clima é um fator chave para um futuro sustentável de nosso planeta. Tanto o Brasil como a Alemanha precisam assumir suas responsabilidades globais. Queremos desempenhar um papel de liderança no caminho para uma conferência do clima exitosa em Paris em dezembro.

Atualmente estamos trabalhando numa declaração conjunta de intenções com relação à COP 21. A Alemanha está fortemente empenhada em contribuir para todos os elementos do acordo da COP 21 –descarbonização [transição para uma economia baseada em energia limpa], adaptação, finanças do clima. A “Energiewende” (transição energética) alemã se tornou sinônimo de reformas ambiciosas para alterar de forma fundamental nossa abordagem à produção e ao consumo de energia de um modo sustentável. Estou certo de que o Brasil não vai ser menos ambicioso.

Qual será a estratégia alemã em Paris para evitar um fracasso como o de 2009, na COP de Copenhague?
Nossos anfitriões franceses tomaram a decisão de entrar muito cedo na fase decisiva de pré-negociações. Estou convencido de que essa é a forma certa de abordar estas questões. Paris conta com nosso apoio inequívoco. Sente-se um ambiente construtivo e positivo na fase de preparação da conferência e um compromisso geral com a liderança política –tal como foi o caso na cúpula do G7 na Alemanha em junho passado. Precisamos garantir que a dinâmica positiva vá ajudar a fazer progressos substanciais durante as negociações propriamente ditas.

O sr. e a chanceler Angela Merkel chegam ao Brasil em um momento de instabilidade política no país. Como o governo alemão tem visto a situação brasileira?

Nossas relações bilaterais profundas e amigáveis são antigas. Os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Brasil há quase 200 anos. Empresas alemãs começaram a se instalar no Brasil há 150 anos. O Brasil, e São Paulo em particular, se tornou desde então uma das mais importantes bases da indústria alemã fora da Alemanha, um importante polo de know-how, engenharia e design alemães.

Esse exemplo é a melhor forma de ilustrar que nossas relações bilaterais são marcadas por uma perspectiva de longo prazo. Nossa relação se assenta em um fundamento de confiança mútua e valores compartilhados. O Brasil é e continuará sendo nosso parceiro mais importante na América Latina –independentemente dos desafios atuais que a política interna brasileira esteja enfrentando. Uma parceria Brasil-Alemanha fortalecida não é só de nosso interesse comum, mas também local e global.

Quais são os principais temas que a comitiva alemã colocará na mesa neste diálogo bilateral em Brasília?

O fato de o governo alemão atravessar o Atlântico para visitar o Brasil e realizar as primeiras consultas intergovernamentais com nossos parceiros brasileiros em Brasília é uma expressão forte e globalmente visível de nossa parceria estratégica com o Brasil. São poucos os países da Europa, e ainda menos os países fora das fronteiras europeias, com os quais a Alemanha tem um relacionamento tão intenso.
Como atores importantes em suas respectivas regiões, a Alemanha e o Brasil desejam intensificar a cooperação e o intercâmbio em temas internacionais, tal como foi quando, recentemente, conseguimos um consenso para nossas resoluções teuto-brasileiras sobre privacidade na internet, na ONU.

Vamos também refletir sobre o futuro das missões de manutenção da paz, a promoção de questões de direitos humanos e o fortalecimento da segurança marítima.

Essas consultas vão também dar à nossa cooperação bilateral uma dinâmica importante. A Alemanha e o Brasil vão intensificar sua cooperação, atualmente já bastante forte, nas áreas de ciência, tecnologia e educação. Permita-me mencionar alguns exemplos: vamos assinar um acordo-quadro sobre cooperação intensificada em pesquisa e ciência.

Desenvolvemos acordos de projeto para o Observatório da Torre Alta da Amazônia [uma estrutura de 325 metros no meio da floresta, em São Sebastião do Uatumã (AM), que servirá para estudar a interação entre a mata e o clima]. Queremos criar novas oportunidades para jovens brasileiros que desejam aprender alemão em escolas no Brasil. Vamos nos debruçar sobre planos para um Centro de Estudos Alemães e Europeus no Brasil. Queremos estabelecer um quadro novo para cooperações futuras em desenvolvimento urbano, incluindo gerenciamento de água, energias renováveis, eficiência energética e transporte público.

O que falta para as negociações do acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia avançarem? Como Brasil e Alemanha podem ajudar a destravar isso?

Discutimos formas de progresso possíveis à margem da reunião ministerial da cúpula da UE-Celac e da reunião ministerial Mercosul-União Europeia no início de junho. Estou confiante de que isso irá dar novo ímpeto às negociações e contribuir para completar um acordo ambicioso, abrangente e equilibrado. Temos, de ambos os lados do oceano Atlântico, muito a ganhar com um reforço de nossas relações comerciais e de investimentos. Tanto dentro da UE como junto a nossos parceiros do Mercosul, vamos continuar envidando esforços no sentido de alcançar um acordo que ajude a intensificar e a fortalecer as relações UE-Mercosul. Sei que o mesmo se aplica ao Brasil, que está igualmente empenhado nesse processo.

Além da crise econômica, a Grécia tem sofrido com o fluxo maciço de imigrantes tentando chegar à Europa. A Alemanha tem planos de ajudar financeiramente os gregos nesse caso?

A situação de milhões de refugiados fugindo de guerras civis e instabilidade política no Oriente Médio e na África é verdadeiramente dramática. O aumento drástico do fluxo de refugiados chegando à costa europeia é um enorme desafio à nossa humanidade e solidariedade. É verdade que a Grécia está sendo muito afetada pela chegada de refugiados. A solidariedade é uma importante pedra angular da ideia europeia, e isso se aplica particularmente ao caso da Grécia, que acabou de começar com a implementação de mais reformas exigentes, profundas e abrangentes.

Precisamos e iremos apoiar a Grécia nesta questão. É nossa obrigação moral oferecer abrigo àqueles que fogem da guerra e da opressão. A própria Alemanha se tornou um porto seguro para centenas de milhares de refugiados.

Não há nenhum país fora da região que tenha aceitado mais refugiados da Síria do que a Alemanha. Prestamos apoio aos refugiados na Grécia por meio das missões do Acnur [agência de refugiados da ONU] e da Cruz Vermelha, mas é nítido que é preciso fazer mais. Estamos em diálogo com o governo grego sobre canais de apoio adicionais.

Com o mundo em turbulência e em busca de uma nova ordem, temos de nos conscientizar de que grandes fluxos de refugiados são um desafio com que teremos de lidar durante décadas. É certamente uma das questões mais urgentes do nosso tempo. Temos de cooperar não só em nível europeu mas também em âmbito global.

Um elemento fundamental é certamente abordar as causas subjacentes da migração, melhorando a situação nos países de origem e de trânsito. 

 

Redação

7 Comentários

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  1. A velha pauta do clima para

    A velha pauta do clima para deixar o países do terceiro mundo mais fracos e dependentes, uma vez que qualquer demanda verde prejudica mais o Brasil do que os paises europeus, pois estes não tem mais o que demandar ecologicamente, pois nem floresta não tem mais. E ainda assim querem dar lição de como “conservar” as floresta dos outros.

    O que está por tras de tudo isso chama-se: comercio internacional. Quanto mais vc dificulta os concorrentes a produzir, imbutindo aí um custo extra pela pauta verde, mais fácil fica o produto do concorrente para impor e exportar para o terceiro mundo.

    E ainda tem inocentes que acreditam nisso…

  2. chega de colonialismo

     A montadora está escondendo o ouro.
    Quando o Brasil chega aos mercados internaconais , os preços também acompanham. Está na hora dos preços se equipararem aos valores de fora. Absurdo vc pagar por um carro aqui quase 100% mais caro que na gringa. O lucro absurdo e suas remessas são segredos em contrato, e como sabemos, não é só imposto que encarece. Chega de colonialismo!

    – Do Facebook:

     

    https://www.facebook.com/smabc/photos/a.10150233139535462.470087.450898475461/10155870352480462/?type=1&theater&notif_t=like

    Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

     16 h · Editado ·    
    Comunicado aos Trabalhadores na Mercedes-Benz

    Após a assembleia do último sábado, dia 15, na qual os trabalhadores autorizaram o Sindicato a negociar o Programa de Proteção ao Emprego, o PPE, o CSE esteve reunido com a empresa nos dias 17 e 18 de agosto e, lamentavelmente, por intransigência da montadora, não houve acordo.

    A empresa alega que o PPE é insuficiente para a situação atual e insiste em recuperar a proposta rejeitada em 2 de julho.

    Apesar de outras propostas que fizemos na mesa de negociação, a empresa permaneceu irredutível. A Mercedes-Benz sequer concordou em aguardar o retorno dos companheiros em licença remunerada no próximo dia 24, para que pudéssemos discutir, com esses trabalhadores, alternativas possíveis.

    A empresa manifestou que irá iniciar o processo de demissões do excedente ainda antes do retorno do pessoal.

     

  3. Eh!
    Como pode?
    Se saimos de colonial e a casa grande nao deixa nem a senzala trabalhar em paz!
    Querem nos calar, nos rotular, estampar e ainda colocar targeta preta.
    Ufa! O mundo grita e berraaa Brasil e os vermes e a velha mentalidade so ver um metro de distancia do seu universo.

  4. Seja qual for a meta do

    Seja qual for a meta do Brasil, seja qual for o investimento alemão, o Povo brasileiro tem uma matriz muito mais limpa que o povo alemão.

    Devido a influência ambientalista, e ao grande teor de analfabetismo funcional nesta classe, estamos paulatinamente sujando nossa matriz mas vai levar tempo até chegar nos níveis porcos europeus!

     

    Do que ele estava falando mesmo?

  5. Adorei a proposta da

    Adorei a proposta da Wolkswagen do Brasil

     

    veja só,:

    Quando não precisarem dos seus funcionários, eles ficam em casa e O Povo Brasileiro paga os salários…. Até serem chamados de volta.

    Coisa de Jenio! 

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