ONU rejeita pedido palestino de retirada dos assentamentos israelenses

Jornal GGN – Negociações de paz entre palestinos e israelenses resultaram em novo fracasso, com a rejeição do Conselho de Segurança da ONU da resolução palestina, que buscava estabelecer prazos para a retirada dos assentamentos israelenses.

 O chanceler palestino Riyad al-Maliki deu entrevista à Folha de S. Paulo e disse que o texto não foi aprovado por pressão dos EUA sobre Nigéria e Coreia do Sul, que se abstiveram da votação. “O governo americano ultrapassou todos os limites, e isso nos permite também ultrapassá-los”, disse Maliki.

“Quando se trata dos nossos direitos fundamentais, não podemos ceder. Não temos de nos equilibrar entre a pressão americana e do Hamas”.

EUA nos fizeram ultrapassar limites, diz chanceler palestino

Por Isabel Fleck

Da Folha de S. Paulo

A última tentativa palestina de estabelecer prazos para a retirada dos assentamentos israelenses e para a retomada das negociações de paz falhou com a rejeição de uma resolução pelo Conselho de Segurança da ONU na terça (30).

Para o chanceler palestino, Riyad al-Maliki, o texto não foi aprovado por pressão imposta pelos EUA sobre dois países –Nigéria e Coreia do Sul, que se abstiveram.

Chanceler palestino, Riyad al-Maliki, em reunião da Liga Árabe, em setembro de 2014

“O governo americano ultrapassou todos os limites, e isso nos permite também ultrapassá-los”, disse Maliki à Folha, ao chegar ao Brasil para a posse da presidente Dilma Rousseff.

O primeiro “limite ultrapassado”, segundo o chanceler, foi a adesão do governo palestino ao TPI (Tribunal Penal Internacional), na quarta (31). Com isso, eles poderão acusar Israel por “crimes contra o povo palestino”.

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Folha – Como o senhor recebeu a derrota da resolução palestina na ONU?

Riyad al Maliki – A intervenção e mesmo coerção do governo americano forçaram a abstenção de pelo menos um país que votaria a favor, o que é inaceitável. O governo americano ultrapassou todos os limites, e isso nos permite também ultrapassá-los. Os americanos não queriam usar seu poder de veto, então eles trabalharam até o último minuto para que fracassássemos.

Que limites os palestinos estão dispostos a ultrapassar?

O meu presidente assinou nossa adesão ao TPI, e isso nos abre uma oportunidade para processar Israel pelos crimes contra o povo palestino. Ainda é preciso esperar 60 dias para que seja confirmada nossa adesão, e, nesse período, vamos preparar ações para a Corte começar a analisar, como sobre o ataque contra Gaza em julho.

A decisão de aderir ao TPI pode prejudicar a retomada das negociações de paz?

Pode, mas não foi uma escolha nossa. [O secretário de Estado americano John] Kerry disse que em seis meses conseguiríamos um acordo de paz. Em nove meses, nada aconteceu, e vemos os assentamentos engolindo o território palestino. Então como nos defender? Fomos obrigados.

Segundo os EUA, os prazos estabelecidos na resolução para as negociações de paz foram arbitrários. O grupo islâmico Hamas diz que o texto previa muitas concessões. É possível equilibrar?

Não acho que temos obrigação de equilibrar nada. Só olhamos o interesse da comunidade palestina e agimos. A ocupação começou em 1967. Se, mesmo 47 anos depois, colocar prazos para o fim da ocupação ainda é algo arbitrário, então não entendo a lógica americana. Quando se trata dos nossos direitos fundamentais, não podemos ceder. Não temos de nos equilibrar entre a pressão americana e do Hamas.

O Hamas também diz defender os interesses palestinos.

Nem sempre defende. Quando deram um golpe contra as autoridades legítimas palestinas em 2007, não representaram o interesse palestino. Nem quando tentaram se desassociar do resto do projeto nacional palestino, tirando Gaza desse contexto. Na democracia você tem opiniões diferentes, e nós respeitamos a voz do Hamas, só que é uma voz minoritária.

Israel acusa seu governo de incentivar os recentes ataques de palestinos contra israelenses. Como é possível reduzir as tensões?

Os ataques são uma resposta dos palestinos a algo feito antes pelos israelenses. Israel decidiu bloquear o acesso a lugares sagrados em Jerusalém, e isso foi uma provocação. Muitos anos atrás, criamos, com Israel e EUA, um comitê trilateral antiprovocações, que funcionou apenas por dois encontros. Queríamos reativar esse comitê, mas os israelenses se opõem.

Um representante do governo israelense chamou o Brasil de anão diplomático’ após criticar sua ação em Gaza. Como o senhor vê a atuação do Brasil?

Respeitamos o Brasil por essa posição corajosa, apesar da reação que poderia vir de Israel ou de outros países. O Brasil é um país importante não só na sua região, mas em todo o mundo, e precisa agir e se comportar como tal.

Redação

1 Comentário

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  1. É por essas e outras

    É por essas e outras cafagestadas que surgiram o Bin Laden, o Hamas e agora o  “Estado Islâmico”.

    Êles continuam jogando gasolina na fogueira. Hitler já renasceu há muito tempo, só que agora veste a cartola azul e verrmelha de “tio Sam” e é adepto do judaísmo.

    Seu principal “campo de concentração” fica, não por acaso, na Ilha de Cuba, em GUANTÁNAMO.

    Gringo

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