Os interesses do “encarregado de negócios” do Brasil e o contrabando do senador boliviano

Quais interesses defendeu o “encarregado de negócios” do Brasil na Bolívia, Eduardo Saboia, ao contrabandear o rico senador Roger Pinto, acusado no país vizinho de crime comum (corrupção, venda de terras públicas, promoção de jogo ilegal). Quais os motivos do ex-chanceler Celso Lafer, do PSDB, ao defender a legalidade do ato, baseado em  convenções internacionais?

O “encarregado” arriscaria mesmo sua carreira pelo boliviano, indo contra toda a hierarquia e os interesses do Estado Brasileiro, ao qual jurou servir, por ouvir a voz de Deus ou por achar que se sentia desconfortável? Como ficaríamos se cada embaixador ou simples encarregado de negócios decidisse com esses argumentos o que deve fazer na representação do país no exterior? Ou se os demais diplomatas estrangeiros em nosso país aderissem à moda e começassem a contrabandear os dirigentes do Comando Vermelho para fora (afinal, também se poderia alegar questões humanitárias; falta de espaço na embaixada, etc).

Certamente o episódio merece suspeitas de interesses mais amplos que os contidos nas explicações dadas até agora. Quem sabe um dia apareçam.

Mais lamentável ainda é a oposição brasileira confundir seus conflitos com o governo federal com oposição aos direitos do Estado Brasileiro e a democracia. Celso Lafer, açodadamente,  para aproveitar o explosivo episódio, que pode resultar em um incidente internacional com um país amigo, querendo dar embasamento  jurídico ao ato ilegal, à evidente quebra de hierarquia,  disse que a ação clandestina do “encarregado” foi legal, com base em tratados internacionais.

Lamentável que um professor da faculdade de direito da USP chegue a tanto ao fazer política. Ainda que assim  fosse, quem interpreta atos concretos em função de convenções internacionais em um caso já submetido a instâncias legais, é o Estado Brasileiro, através do executivo, do legislativo e do judiciário e não um “encarregado de negócios” de embaixada.

A presença ilegal no país do tal senador deve ser repudiada pelos brasileiros.

Também se deve  suspeitar da conduta do referido senador, a começar pelo fato dele procurar a embaixada do Brasil, quando há tantos países da América Latina ou mesmo os EUA, simpáticos a suas posições políticas. E, agora,  com o agravante de não vacilar em agravar o incidente e provocar um tremendo problema para o governo brasileiro e em especial para o antigo Ministro do Exterior, que foi obrigado a renunciar. Mais ainda:  mal chegou já se prontificou a fazer política, comparecendo ao Senado Brasileiro, ao qual foi convidado por senadores do agronegócio, e só desistindo momentaneamente devido a renúncia do chanceler brasileiro, uma de suas vítimas.

O “encarregado de negócio” também pouco se importou com a repercussão de seu ato para o seu chefe. E mostrou  mais uma vez seu caráter ao ameaçar com revelações de atos imorais de seus superiores ou de companheiros da chancelaria que nele confiaram. Se existem imoralidades, deveria revelar desde quando tomou conhecimento, mas diz que só vai usá-las se quiserem apurar sua conduta e puní-lo

Entre as  justificativas o “encarregado de negócios” citou o  que aconteceu aos  presos políticos durante a ditadura. Mais um desastre.

Comparar a situação do boliviano com o que aconteceu com  presos políticos do Brasil é uma ignomínia. A  Bolívia não queria que o senador fosse julgado por tribunais militares de exceção, com base em lei de segurança nacional aprovado por este ou aquele general, ou torturado em porões, como acontecia na ditadura brasileira, mas sim processado perante o Judiciário do país, onde vigora o Estado Democrático de Direito,  por crimes comuns. Será que o “encarregado” também se achou no direito de julgá-los? Sentenciou que o senador era inocente? É pelo menos o que parece. Ele assumiu não só poderes do Presidente da República do Brasil como o do Poder Judiciário boliviano, tudo legalmente, como diz Celso Lafer.

O episódio, clandestino e ilegal, merece ser exemplarmente apurado e os culpados, partícipes diretos ou indiretos, penalizados. Este não é um problema do governo federal, de situação ou oposição, mas de respeito ao Estado Brasileiro.

Redação

1 Comentário

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  1. O caso boliviano

    Espero que seja tudo apurado, que o senhor Saboia seja exemplarmente punido, que o tal senador boliviano seja devolvido para as autoridades bolivianas o quanto antes.

    Quanto ao senhor Lafer, nãpo importa o que diga, não importa o que faça, estará sempre marcado como aquele que se curva para tirar os sapatos enquanto exibe o traseiro.

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