04 de Dezembro, dia de Santa Bárbara, por Mariana Nassif

Santa Bárbara, a santa guerreira, é sincretizada com Iansã no candomblé. Análises sobre o mix religioso farei em outra ocasião, porque hoje é dia de celebrar – ainda é, e pra mim sempre será, o dia de Oyá. 

Dizem das filhas dessa rainha que são tempestivas. Não posso negar. Existe sim essa força sobrenatural que contamina todas as esferas da vida, como que ventássemos imitando a mãe. Porém, e isso venho aprendendo em leituras e na própria vivência do candomblé, não devemos parar a vida perante as explosões e impulsos e dizer “é que sou filha de Iansã”. O que ando encontrando por aqui e acolá é uma forma de presentear-nos ainda mais com uma mãe que contém essas características e, portanto, vem nos ensinar amorosamente a evoluir. 

Uma das histórias de Iansã dá conta dessa força toda:

Iansã foge ligeira e transforma-se no vento

Iansã tinha muitas joias, que usava com orgulho.
Uma ocasião resolveu sair de casa,
mas foi interpelada por seus pais.
Disseram que era perigoso sair com tantas joias
e a impediram de satisfazer seu desejo.

Oyá, furiosa, entregou as joias a Oxum
e fugiu voando, rápida, pelo teto da casa,
arrasando tudo o que atravessasse seu caminho.
Oyá tinha se transformado no vento. 

(Mitologia dos Orixás, Reginaldo Prandi)
 

Quase todos os registros dão conta dessa fúria, da velocidade, da braveza e das características de liberdade inerente de Iansã, mas vale o registro que seu nome significa “a mãe dos nove”, fazendo menção à prioridade da figura: estar disponivel para os filhos, mesmo que voando pra lá e pra cá. Um utro conto diz que ela deixou com cada um deles um par de chifres de búfalo, um dos símbolos de Oyá, para que batessem um no outro quando se sentissem em perigo e a mãe, na velocidade do vento, viria ao seu encontro. Me identifico, e cultivo cada vez mais os equilíbrios e sensações dessa beleza toda, riqueza em forma de energia natural, e a isso dou o nome de lealdade: nós vamos, mas mantemos nossos combinados. Especialmente por isso, experimente trair uma filha de Oyá… presta não, meu filho. Melhos abrir o jogo, falar toda a verdade por pior que seja que, quem sabe, a gente acabe aceitando – mesmo que a situação esfrie e, ah, nada frio (nem morno) serve pra alguém que é filha do dendê. 

Teve festa na Bahia, meu pai de santo mandou o vídeo de nossa família fazendo acarajé, o prato preferido deste orixá. Nas ruas, eles contaram, teve batuque, macumba e muito eparrey, que é como saudamos a bela Oyá. Por aqui o dia foi produtivo, sorrindo pro vento como se hoje, mais do que nos outros dias, fizesse mais sentido ser dela: uma espécie de aniversário, confirmação ou só mesmo a alegria de saber que tanta gente mais estava sintonizada com este furacão, que é de amor e puro axé. Eparrey minha mãe, eparrey para sempre! 

 

Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. ….meu comentário
    ….meu comentário sumiu…..
    …era um inventário onde tentei resgatar:
    1-meu pai chamando o vento na década de 60….eu deveria ter uns 5 anos de idade, quando começamos a trabalhar na roça….derrubávamos a mata e depois vinham outras etapas, dentre elas tocar fogo, para o que seria necessário o vento para desencadear a combustão…neste momento meu pai chamava o vento sibiliando sic assobiando….um assobio longo….e o vento vinha rapidinho…..
    2- na religião Wicca, o vento é um dos 5 elementos do pentagrama,,,se não me engano, fica no ponto leste….
    3- no Renascimento, tivemos o paganismo artístico ….paganismo deriva de Paganus, povo da roça, que cultuava os deuses da natureza, sendo demonizados e queimados vivos pelo cristianismo….
    4-:sobre paganismo artístico, temos a obra O Nascimento de Vênus, onde podemos ver O Vento (Zéfiro) e Oya ou Flora: isso?
    https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/o-nascimento-de-venus-sandro-botticelli/

    5- O paganismo artístico de Boticelli

    https://virtualia.blogs.sapo.pt/22868.html

    6-:pensar é saber o seu destino…..o autor desta frase! vi essa frase ao fechar os olhos para ver …. cuidado para não ser roubado enquanto de olhos fechados estás: os ratos estão de olho)

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