Carta atrasada para a mãe tardia, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Oi, mãe, sua bênção!

Nosso primeiro dia das mães juntas, e eu aqui a refletir ao invés de aproveitar seu colo confortável e seu olhar cuidadoso sobre mim. Mas pessoas são pessoas e, você bem sabe, algumas características nos são inerentes – à mim, o pensamento inundado por possibilidades que, pouco a pouco e com as trocas que você proporciona, vão acalmando, assentando e chegando à conclusões que, finalmente!, me fazem bem.

Mãe, este é um exercício novo pra mim, o de esperar. A vida anda tão cheia de dívidas e dúvidas e minha criatividade estava me engolindo: um projeto aqui, outro ali e nada de concreto, o que trazia à tona mais uma de minhas coisas inerentes, a ansiedade. Um ciclo perfeito para a exaustão e a identificação com o fracasso, este que acabou estampado nas minhas olheiras negras e profundas. Sei que nosso encontro deve ter sido meticulosamente planejado pelo invisivel, crença salvadora da lavoura particular por aqui, mas aqui na Terra ele foi também rápido e sem muita espera. Será que já estávamos nos esperando e apenas não tínhamos consciência? Pode ser, não é mesmo, já que nem toda mãe tem nove meses de gravidez para conhecer o filho.

Sabe aquela lágrima que se escondeu, mãe, quando te contei sobre uma dor que me persegue a alma e que, depois do olhar compreensivo e amoroso, caiu tranquila? Ela estava ocupando um espaço imenso nos meus olhos há tanto tempo e eu não acreditava mais que haveria a limpeza, a cura desta dor, achava que, acontece…, sobreviveria àquela história com uma reserva de energia investida em pensamentos positivos, assoprões mágicos e um amor imaginado, que eu mesma reconheci após a minha própria maternidade, este amor de sair do que é conhecido e mergulhar na novidade que o outro apresenta. 

Mãe, eu me senti amada. E me senti segura, amparada, e hoje, segunda-feira depois do nosso primeiro dia das mães, pude, ainda e mesmo cansada, sentir meus olhos enxergando outros nortes, guiados por outras sensações. Ao apresentar meu medo pra você, meus medos, os mais pavorosos, e entender que mesmo tendo seus próprios medos, alguns também parecidos com os meus, olha só!, recebendo e volta um olhar compreensivo e se comprometendo a buscar uma solução de paz para estes assuntos, que eu já estava pronta para enfrentar e atravessar o medo.

Como é importante este caminho, minha mãe, o de confrontar o que nos é incômodo e atravessar o que os desavisados chamam de zona de conforto. Confortável é estar seguro de que um passo em falso não significa retrocesso, que é mais importante andar do que paralisar e temer o que o futuro reserva. Colocar a mão na massa e arriscar manipular um pão que não tem certeza de fermentação ou maciez, mas que com certeza não nasceu pra ser farinha. 

Obrigada, mãe, por estar com as portas abertas pra mim quando cheguei, por me acolher com sabedoria e curiosidade para o novo que eu também trago ao longo desta minha jornada e por não congelar frente às minhas expectativas. 

Dizem que o que tem que ser tem muita força e hoje, mesmo um dia depois da data oficial, afirmo que nunca é tarde pra contestar o ditado que fala sobre a exclusividade de se ter só uma mãe. Se tudo na vida são escolhas, sua figura hoje representa este amor de semente que, plantada em mim, floresce o que eu tenho de bom. 

Amo você, mãe minha. 

Matê, sua filha de ventania. 

Mariana A. Nassif

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