Debate: O Criacionismo é a Negação da Democracia

do Blog de Antonio Ateu

da Carta Maior

Por que o criacionismo é um ataque à democracia?

Não há compatibilidade conceitual entre criacionismo, fundamentalismo de mercado, por um lado, e democracia, por outro. Há um conflito. E deve haver.

Katarina Peixoto

Se Deus criou o mundo e se ele existe é o que menos importa no debate sobre criacionismo. Fundamental, na crença de que Deus criou o mundo em 7 dias, são e devem ser as implicações conceituais, históricas e políticas dessa caricatura de aparência inofensiva. Em primeiro lugar, quem acredita nisso não pode, por uma exigência lógica, acreditar que há evolução, história e Política.

A imagem caricatural do fanático que denega a existência pregressa dos dinossauros tem veracidade: a existência e o processo de extinção dos dinossauros se deram, comprovadamente, num lapso de tempo maior do que 7 dias. E os milhões de anos que separam a sua história da nossa, bem como a do planeta, tampouco podem ser contados na arregimentação do velho testamento feita pelos pentecostais.
Na hipótese estapafúrdia de uma jabuticaba pentecostal, isto é, de igreja evangélica peculiar ao Brasil, que admita alguma narrativa metafórica na tese da criação das coisas neste mundo e que, portanto, aceite a existência pregressa de dinossauros (o que implica aceitar a possibilidade de extinção, evolução, progressão e regressão de complexidade dos organismos, mecanismos intrínsecos de maior ou menor velocidade evolutiva, entre outras coisas), restaria a ser esclarecido como a criação das coisas do mundo em 7 dias (ou anos, ou semanas, digamos) tornam inteligíveis a história e a Política.

O fato é que não tornam, nem podem tornar. E aí reside o seu conflito e a sua aversão à democracia. E é por isso que os representantes pentecostais, em qualquer parte do mundo, advogam uma política descarnada, dogmática e refratária ao esclarecimento. Rejeitar uma ordem temporal biológica, portanto, não é tão inofensivo, nem conceitual, nem historicamente, como as nossas certezas estéticas e de classe podem dar a ver. Não é o grotesco do ignorante subletrado o que deve incomodar, pelo menos não somente. O problema é a presença das suas crenças na nossa vida cotidiana, reivindicando poder sobre ela. E é revelador da penúria do debate político brasileiro, bem como da tibieza de sua esquerda, não levar a sério o caráter destrutivo, niilista e repressor dessas expressões políticas que estão, em maior ou menor grau, invadindo as esferas de decisão, formulação e comunicação.

Não é um mero oportunismo imoral que explica a adesão do pentecostalismo à teologia de mercado da finança [1]. Não é o ressentimento e uma vingança pessoal, embora a egolatria possa estar presente (e, nesta eleição presidencial, claramente está), o que explica o vínculo conceitual e histórico entre a visão financista da vida social e política com a aversão ao darwinismo, característica dos pentecostais. As variantes neoclássicas da teoria econômica e a sua concepção rude de utilitarismo e de darwinismo social (que de darwinista nada tem, e de social, menos ainda) andam de par com o desprezo do que chamam de “Estado provedor”.

Que fique claro: essa identidade não é inteligível como mera aliança de ocasião, patifaria trivial e fraude histórica. Se essas coisas estão presentes, e parecem estar, é porque há uma lente, um modo de entender a vida, que as identifica. Há algumas teses fundamentais, de ambos os conjuntos de crenças, que conferem unidade conceitual entre ambas as doutrinas:

1) a religião não é um fenômeno social, nem comporta interpretações metafóricas, mas uma doutrina, que pode ser acessada pela exegese da literalidade das histórias do pentateuco, ou do antigo testamento; assim, deus criou o mundo em sete dias, criou o homem e, da costela desse, a mulher, tinha uma serpente falante, havia gigantes, a Arca de Noé existiu, etc.;
 
2) a economia é uma ciência pura, não uma teoria social, nem comporta interpretações históricas, que pode e deve ser entendida a priori;
 
3) tudo tem e deve ter um preço e o dinheiro não tem outra referência que a si mesmo,  logo:
 
4) o mercado deve agir livremente, sem amarras e
 
5) o estado, quando é governado pelos hereges, isto é, os políticos, torna-se repressor da atividade desse homem postulado na nossa teoria da natureza humana, informada pela biologia arregimentada pelos darwinistas sociais que não estudaram nem precisam estudar Darwin.
 
6) Na doutrina, isto é, na verdade, o estado não pode gastar mais do que arrecada: como não há, constitutivamente, qualquer distinção entre o estado e uma empresa, ou entre o estado e um banco, déficits são inimagináveis e decorrem da demagogia de que o estado pode fazer o que, na verdade, não pode.
 
7) os hipossuficientes materialmente ou mais fragilizados pelas condições econômicas e sociais são perdedores e moralmente inferiores, variantes do pecador, que não levou a sério as exigências do seu livre arbítrio, porque acreditaram na serpente, etc.
 
8) Deus castiga os pecadores com tanta impiedade como a natureza das coisas como elas são, e a natureza é competitiva, excludente e não tem nem deve ter qualquer ética.
 
9) a Política faz mal à sociedade, porque engana as pessoas e finge que pode ajuda-las e que pode haver tal coisa como mudança social. A mudança, se há, depende de líderes, de elites que vão se formando de acordo com os seus méritos próprios, com a sua natureza, independentemente das condições históricas, das coletividades, da vida em conjunto que, aliás, não existem, são pura invenção, derivada de uma outra ainda mais medonha e perigosa:
 
10) luta de classes, conflitos de interesses econômicos, negociações e jogos de poder são por natureza ilegítimos e imorais. Não há conflitos políticos e históricos, justificáveis moralmente, tudo isso é invenção retórica, que não corresponde à verdade.
 
11) o investimento em desenvolvimento, inovação, pesquisa, ciência e tecnologia deve ser privado e o estado não tem de tutelar nada disso, pois o mercado é mais do que suficiente nesta tarefa.

Nos últimos dias, no debate da Band e na entrevista ao Jornal Nacional (27/08), várias dessas teses foram defendidas. E elas devem ser levadas a sério, para muito além de um embate moralista. Importa menos que Marina Silva minta, ao dizer que não é incoerente, do que acredite nos próprios delírios ou mentiras: as suas crenças são descarnadas o suficiente para que ela se veja como plenamente coerente e aí está a periculosidade do que ela representa. Ela, a horda evangélica e a banca que a apoia e defende, acreditam numa coerência tão postulada como o são (não importa se os representantes da finança são ou não pentecostais, vai sem dizer) as suas teses sobre natureza humana, criação do mundo e funcionamento do estado e da economia.
 
Essas crenças denotam um descompromisso genético com a experiência, com a vida encarnada, com as metáforas da vida cotidiana, com as contradições sociais e políticas. E deixaram, no mundo, um rastro de destruição pelo qual parte significativa do planeta paga, hoje, um alto preço, em desemprego, super endividamento, miséria e destruição ambiental.

É possível que Marina Silva diga hoje que jamais foi ambientalista, nunca foi de esquerda e, ainda assim, que não acredite que está mentindo, como claramente está. A sua visão de mundo autoriza essa conduta que, para quem é democrático, causa assombro, pela ausência total de qualquer respeito à alteridade, à memória e à experiência política. Não há coisa alguma de acidental nos pronunciamentos da candidata missionária. O criacionismo, como se pode inferir, denega o acaso, ao contrário do darwinismo, que o toma como constitutivo.
 
É assim que, diante da mudança de época que a universidade e a educação brasileira vivem, Marina Silva não se intimida de diagnosticá-la, no rastro do que pensam os seus aliados e apoiadores [2], de maneira reducionista e preconceituosa: há “18% de analfabetos funcionais” (um dado capturado por entidade obscura, em pesquisa, idem, num universo ínfimo). Ser isto o que ela tem a dizer, além da sua posição contrária à pesquisa com células-tronco, não denota apenas a sua indigência intelectual e política, como o compromisso ideológico que se encaixa perfeitamente nesta indigência: universidade e pesquisa têm de ser feitos pelo mercado.

No quesito ambiental, a calamidade é enunciada em tons glossolálicos [3]. Como mostram os números, e ao contrário do que a candidata disse, no dia 26 de agosto último, na sua gestão como ministra o desmatamento na Amazônia aumentou, não diminuiu. Isso não a impede de dizer, tão altiva como descarnadamente: “Eu reduzi o desmatamento”. Tampouco parece preocupar a candidata a sua declaração de ontem, na entrevista ao Jornal Nacional, que seria uma lenda a sua posição contrária aos transgênicos. O despudor é programático, doutrinário, imune à experiência.

É claro, para quem leu Darwin e leva o legado e as implicações do darwinismo a sério, que ambientalista criacionista é um círculo quadrado. Trata-se de algo impensável, tamanha a impossibilidade lógica. É nota característica da penúria de nossas escolas e da vida política da esquerda a negligência com esse debate, com o que está nele implicado. É assim que a candidata do PSOL à presidência, num rasgo de brutal ignorância, perdeu a melhor chance de expor Marina Silva, no debate da Band. A ignorância quanto às implicações do criacionismo tornam a exigência de respeito aos dissidentes sexuais, aos gays e às mulheres, uma luta frágil.


Não há nada contraditório entre a caricatura pentecostal e o fundamentalismo de mercado: o que une o dois conjuntos de crenças é o dogmatismo descarnado e moralista, sobre a natureza humana, do estado e da economia, o seu descompromisso e o não-reconhecimento de qualquer coisa que não seja redutível, plenamente, a uma doutrina. É uma união fundamentalista que sempre ameaçou e ameaça toda democracia. Diante disso, os esquemas de corrupção, os aviões fantasmas, as empresas que pagam milhões e são peixarias de subúrbio, os teóricos rastaqueras de universidades privadas, idem, pouco importam. 

Não há compatibilidade conceitual entre criacionismo, fundamentalismo de mercado, por um lado, e democracia, por outro. Há um conflito. E deve haver, para a sobrevivência da democracia e da atual experiência democratizante, sem precedentes, já vivida por este país.

NOTAS
[1] Para citar um exemplo do caráter teológico desse fundamentalismo de mercado, ler artigo sobre este episódio, denunciado pelo economista e professor Michael Hudson, na Universidade de Chicago: 

[2] A propósito, vale saber o que pensa um dos assessores econômicos da candidata pentecostal, a respeito da universidade pública e da UNICAMP. Aqui: 
http://cartacampinas.com.br/2014/08/assessor-de-economia-de-marina-silva-defende-que-aluno-da-unicamp-pague-mensalidade/ e aqui: 
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2014/08/giannetti-identifica-sectarismo-na-formacao-de-economistas-hoje-no-governo-410.html

[3] Sobre o significado de glossolalia.

 

http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FPor-que-o-criacionismo-e-um-ataque-a-democracia-%2F4%2F31695

Redação

35 Comentários

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  1. Visão

    Vou parecer arrogante ou dono da verdade, mas entenda como uma crítica construtiva, embora incisiva. A tua visão de Deus é tão míope como daqueles aos quais você acusa.

  2. Creio que esse nao eh o mal

    Creio que esse nao eh o mal de Marina. Ela pode sim ter sua feh SEM querer impor isso as pessoas. O problema da Marina eh nao falar nada sobre o que pensa sobre a criacao de empregos, valorizacao da renda das familias. Isso sim importa e muito. Ela diz que nao precisamos de um gerente, claro, um preposto parece ser mais conveniente.

  3. O artigo não passa de…

    …lixo marxista totalitário.

    A fulana deveria explicitar quais são os fundamentos reais que a fazem desconsiderar a religião como fenômeno social e a colocar abaixo das ideologias.

    Logo no primeiro parágrafo fica claro o objetivo da …, ia chamá-la pelo que ela é, porém pediriam a exclusão do comentário: 

    Em primeiro lugar, quem acredita nisso não pode, por uma exigência lógica, acreditar que há evolução, história e Política.

    É patente que a coisa histérica acredita que o seu conjunto de crendices políticas e sociais são superiores ao que veio antes e apenas ainda não está totalmente operacional devido aos retrógrados que deveriam aceitar a extinção em nome da evolução… seja por meios naturais ou acelerados como fizeram os iguais da Katarina Pot Mao Stalin.

    … à desprezível Katarina Peixoto: a tua ignorância é a mesma que matou mais de cem milhões de seres humanos no século XX, os cadáveres foram as fundações para a construção do novo homem. Porém o único fato real é que os defensores do extermínio em massa na época, como tu agora, não passam de psicopatas apartados da realidade e continuarão a cometer os mesmos crimes sem que o resultado previsto seja atingido.

    1. A resistência não vem somente dos marxistas.

      Caro amigo, deves estar meio desinformado, a resistência maior a teorias criacionistas e de outras pseudociências como o design inteligente vem exatamente do país que mais se contrapôs as ideologias marxistas, os Estados Unidos da América.

      Nos USA há uma forte pressão dos evangélicos em introduzir o ensino do Design Inteligente (eles não são burros para colocar o criacinismo puro como uma hipótese científica) como uma teoria científica que deveria ser ensinada como uma teoria alternativa a teoria da evolução. Porém esta tentativa tem sido barrada não só pelos cientistas e professores, mas principalmente pelas cortes de justiça.

      A base de toda a contestação ao criacionismo e seu derivado pseudocientífico, o design inteligente, tem se baseado na Primeira emenda da constituição dos USA que separa a igreja do Estado e não permite o uso de dinheiro público para favorecer religiões.

      Logo os Estados Unidos, local da origem dos evangélicos, pátria do anticomunismo, o criacionismo e seus derivados são considerados como algo que contriaria a DEMOCRACIA.

      1. Felizmente é Maestri e não mestre…

        A área de humanas nas universidades americanas é uma herdeira direta da Escola de Frankfurt… graças as imigrações pré e pós segunda guerra. Como mesmo era o nome de fundação do centro de estudos da turma Marcuse, Adorno, Horkheimer?

        Este pessoal que realizou a “evolução” americana nada tem a ver com a Constituição de lá, a não ser o desejo de destruí-la.

      2. Acho que é você que esta

        Acho que é você que esta desinformado vem dos EUA a maior parte do financiamento das esquerdas no mundo.

        Esquerda não é comunismo, socialismo, progressismo é só retórica, a meta é criar um estado totalitário onde uma elite burocrática se locuplete do estado.

        Grandes corporações tem interesse nisso e financiam estas ações.

        “O que é esquerda, afinal? Basicamente, é a ação política com o objetivo de implementar um estado totalitário que obtenha o máximo de controle sobre a vida de seus cidadãos, de forma que tudo beneficie os burocratas que tomam conta deste estado. Esquerdismo é a crença nessa ação política, e, por consequência, no estado inchado e interventor”

        1. vale pra direita também

          O que é DIREITA, afinal? Basicamente, é a ação política com o objetivo de implementar um estado fantoche a serviço de bancos e corporações, que obtenha o máximo de controle sobre a vida de seus cidadãos, de forma que tudo beneficie os bancos e grandes corporações que tomam conta deste estado.

      3. Acho que é você que esta

        Acho que é você que esta desinformado vem dos EUA a maior parte do financiamento das esquerdas no mundo.

        Esquerda não é comunismo, socialismo, progressismo é só retórica, a meta é criar um estado totalitário onde uma elite burocrática se locuplete do estado.

        Grandes corporações tem interesse nisso e financiam estas ações.

        “O que é esquerda, afinal? Basicamente, é a ação política com o objetivo de implementar um estado totalitário que obtenha o máximo de controle sobre a vida de seus cidadãos, de forma que tudo beneficie os burocratas que tomam conta deste estado. Esquerdismo é a crença nessa ação política, e, por consequência, no estado inchado e interventor”

  4. KATARINA – CIÊNCIA E FÉ

    Katarina, devemos todos respeitar as suas crenças. Ao que parece, no evolucionismo.

    Entretanto uma questão como esta, filosófica/ideológica e de cunho pessoal, não deve ser tratada como ciência no curriculo de nossos filhos.

    Quando evolucionismo ou criacionismo forem considerados ciência dentro do que se exigia os empiristas mais respeitados como, Bacon, Locke, Skinner etc, então estes deverão ser tratados como ciência. O que é pouco provável.

  5. projeto medieval

    Fundamentalismo economico mais criacionismo é o projeto medieval de Olavo de Carvalho. A escolástica tinha um projeto econômico arrojado. PARA O SÉCULO XV. A moralidade escolástica (que inclui o criacionismo) seria um retrocesso incalculável num mundo que permeia as relações modernas pela solidariedade e a reciprocidade. A doutrina messiânica de Marina é um risco que poderá nos levar para trás no tempo e no espaço. Talvez Marina não esteja com este futebol todo, o que a colocaria na condição de um fantoche. Mas o risco está posto.

  6. Cuidado com a dissimulação!

    Se for perguntada diretamente a Marina se ela é criacionista ela, sem mentir, dirá que não, simplesmente porque vis a vis do descrédito total de pessoas um pouco racionais tem contra o criacionismo puro e simples, os evangélicos partiram para outra linha, o DESIGN INTELIGENTE. Para quem ainda não sabe o que consiste o design inteligente?

    Pois bem, o design inteligente, uma pseudociência segundo as principais academias de ciência do mundo, que numa tentativa de introduzir o criacionismo nas escolas norte-americanas os evangélicos criaram oque vem se chamando Método da Cunha, ou seja, primeiro introduz-se algo que para uma pessoa sem conhecimentos científicos acha plausível, uma ideia mais branda e com aparência científica e quando esta concepção religiosa se torna um consenso, vai se agudizando o discurso e introduzindo pouco a pouco os dogmas do criacionismo nas pessoas preparadas para isto.

    E o que é uma pseudociência? Uma definição simples de uma pseudociência é qualquer tipo de informação que se alega ser baseada em factos científicos, ou mesmo como tendo um alto padrão de conhecimento, mas que na realidade não provém de dados e experiências baseadas em métodos científicos. Ou seja, uma pseudociência provém de uma visão teológica que procuram achar em fatos desconexos uma explicação científica para a sua base religiosa.

    Dentro deste conceito de pseudociência é que nasce o design inteligente, ele não aceita a teoria de Darwin em que as mutações ocorrem ao azar e se estas mostram adaptativas elas progridem, enquanto se elas não se adaptam ao meio ambiente elas simplesmente desaparecem.

    Pois para os adeptos do criacionismo foi à mão divina que conduziu a evolução, ou seja, que as mutações foram conduzidas por Deus na direção da criação do ser humano.

    Há diversos desdobramentos quanto ao uso do design inteligente como uma “teoria científica”, por exemplo, os adeptos da teoria do Design Inteligente, não poderiam ser CONSERVACIONISTAS, simplesmente porque eles diriam que como toda a criação foi feita para chegar ao homem moderno, toda esta criação está a serviço do mesmo. Outra grande contradição, se o homem é o centro e objeto da criação de todo o mundo, qualquer outra espécie só teria sentido para servir ao homem, logo, por exemplo, experiências com animais para verificar a qualidade de cosméticos femininos deveriam ser consideradas totalmente válidas, pois se em dez mil coelhinhos ou porquinhos da índia cegos por testes de produtos de beleza, se uma mulher fosse poupada de ter uma pequena inflamação nos seus olhos justificaria toda a crueldade com os animais!

    O Design Inteligente além de não ter a mínima comprovação científica ele conduz a uma visão etnocêntrica que coloca o homem não como somente um animal racional e com capacidade de compreender melhor o mundo e modifica-lo para o bem, mas coloca o homem como um ser absoluto em que todos os outros seres vivos servem para seu uso e deleite.

    Eu pessoalmente colocaria uma questão que realmente inviabiliza a visão religiosa do Design Inteligente. Se Deus conduziu a evolução e nós evoluímos de primatas assim como o macaco, em que momento que Deus colocou a alma no Homem?

    É uma questão que pode parecer teologicamente insignificante, porém se em um dado momento da evolução, um casal de seres sem alma gerou um filho que Deus coloca a alma, quer dizer que somos descendentes de bestas que foram em dado ponto elevadas ao estado Humano, ou seja, de um ser sem alma gerou-se algo com alma, é como uma pedra num dado momento começasse a andar!

    A pergunta certa a ser feita a Marina, não é se ela acredita ou não no criacionismo, mas sim se ela acha que o Design Inteligente é uma teoria científica e se como tal ela deve ser lecionada as crianças como uma teoria alternativa ao evolucionismo!

  7. O fundamentalismo não pode ser combatido com fundamentalismo

    Serei contundente. Mas tenha em mente que estamos na mesma luta, por mais democracia, defendendo os direitos dos trabalhadores contra a exploração da capital. A bem da verdade, acho bom que se coloque alguns pingos nos “i”s.

    1. O conceito de Deus assumido pela autora do artigo é absolutamente ultrapassado. A reflexão sobre o assunto, hoje, vai muito além do posítivismo que esteve em voga no séc. XIX e início do séc. XX. A ideia de que uma teoria (explicação da realidade) só é correta se ela for comprovada por métodos científicos válidos supõe um reducionismo da ideia de razão, de modo a considerar válidas somente a razão discursiva e demonstrativa. Quanto a isso, a Escola de Frankfurt tratou de colocar as coisas no lugar mediante a crítica à chamada razão instrumental. O positivismo caiu em desuso há mais de meio século. Usar K. Marx para negar Deus, hoje, seria um erro mais grossiro ainda.

    2. A teologia do século XX (estou falando de produções dos anos 30, 40) já descartou a ideia coisista de Deus, a chamanda ontoteologia, aliás descartada também pela filosofia. Essa ideia coisista de Deus servia para alimentar equívocos e, além do mais, legitimava a opressão. Em outras palavras, o deus negado pelo iluminismo e, posteriormente, pelo positivismo não é aceito nem mesmo pela teologia mais atualizada. Portanto, reconheço o direito de qualquer pessoa de negar Deus, de negar a validade do discurso teológico, mas, minha gente, antes de desqualificar determinado discurso é bom ler, é bom entender a epistemologia da ciência que se quer criticar. Caso contrário, o discurso que se quer científico não passará de fundamentalismo da pior espécie.

    3. A ideia de criação criticada pela autora do artigo é ridícula. Um tal criacionismo, dito pentecostal, como o que foi criticado não é digno da razão humana, e deve ser descartado. Mas por amor à razão humana, não vamos reduzir a ideia de criação de Deus a essa bobajada. Acho válido criticar o criacionismo, mas seria bom ter em mente que há conceitos refinados da ideia de criação de Deus, inclusive mostrando que não há contradição entre crição e evolução. A propósito, sugiro a leitura: Jean-Michel Maldamé. Création par évolution : science, philosophie et théologie, Paris: Ed. du Cerf, 2011.

    Concluindo, a epistemologia científica atual dá-nos a possibilidade de criticar tanto os fundamentalismos científicos quanto os fundamentalismos religiosos. Acho que o presente artigo traz ideias interessantes. Rejeita uma ideia simplista e ideologizada da ideia de criação, o que é válido, mas combate o fundamentalismo religioso com outro fundamentalismo, o científico. 

     

    1. fundamentalismo cientifico é ultrapassado

      Caro Valdecir, a idéia de um fundamentalismo cientifico é ultrapassada, embora ainda em voga. A correta compreensão da epistemologia cientifica leva necessariamente ao entendimento de que o métodfo cientifico é a forma filosófica mais bem acabada a se contrapor a um dogma. Sob esta ótica o texto não me parece exagerado. A critica à razão instrumental me soa como fetiche filosófico diante da avalanche de evidencias cientificas que preenchem a realidade sensível.

      O texto me parece um alerta válido a uma ameaça ainda difusa, mas que se concretizada teria efeitos devastadores . Combater fundamentalismo com ciência. Impopular , cansativo , entretanto a raça humana ainda não descobriu fórmula mais democratica e eficaz. 

      1. Palavras bonitas à parte,

        Palavras bonitas à parte, vivemos um tempo de “ciência da estatística”, em que o método científico é flexibilizado e superficializado para reforçar e atestar linhas de pesquisa maduras, podendo gerar inúmeras distorções como, por exemplo, nas pesquisas sobre os efeitos dos alimentos e dos farmacos. Do empirismo para a razão, da razão para o empirismo estatístico, em comunidades científicas que são relativamente fechadas e conservadoras.

        Sobre a visão de religião do texto, é pobre, muito pobre, indigna da abertura psicológica que qualquer cientista deveria ter, pois a ciência é, antes de tudo, um processo de integração de hipóteses e teorias; e as religiões têm hipóteses e teorias reais sobre terrenos ainda muito obscuros à ciência da física tradicional – o universo é ainda muito maior que alguns poucos milhares de anos de razão humana, embora naturalmente seja arrogante e prepotente.

        Sobre a crítica ao Antigo Testamento, apresenta lendas e estórias que se repetem em outras culturas antigas, que podem denunciar hipóteses e teses relevantes para a ciência… alguém aliás consegue confirmar que apenas a agricultura teria condições de nos tornar o que somos em apenas alguns milhares de anos em relação a milhões de anos de evolução prévia em que a humanidade apenas conseguia viver em árvores?

        1. vivemos a era da ciência

          Caro Andrer, durante muito tempo transitei no agnosticismo por entender que se tratava da atitude cientificamente “madura”. Não, caro Andrer, não vivemos o tempo da “ciência estatistica” , vivemos na era da ciência total ,onde cada um dos 7 bilhões de habitantes do planeta terra é fruto direto das conquistas cientificas. E mais ainda, apenas vivemos em média 75 anos de idade graças a ciência. Até 1940 a média de vida era de 40 anos de idade.

          Não somos filhos de Deus e sim da ciência . O texto reflete esta maturidade psicológica. Não existem hipóteses ou teorias religiosas, o terreno permite apenas os dogmas e a psicologia infantil. Esse entendimento é libertador. Os terrenos obscuros da física ensejam teorias testáveis e soluções que qualquer religião jamais sonharia. Caro Andrer, religião embrutece, emburrece e diminui os horizontes humanos. Não há nada mais libertador ao espirito humano do que a ciência.

      2. Sim, ultrapassado.

        Sim, espero ter deixado claro que entendo que o fundamentalismo científico é algo ultrapassado pela própria ciência.

        Uma coisa que a autora do artigo ignora ou não considerou é que, por pura lógica, não se pode negar a tese da criação com base em teorias científcas do campo das ciência naturais. A epistemologia das ciências naturais exclui a possibilidade do cientista se pronunciar acerca desse assunto. P. ex., um biólogo, por força do método da ciência que pratica, não pode dizer que o mundo não foi criado por Deus, pois não faz parte do escopo da biologia dizer o que é criação e muito menos o que é Deus. Se não pode dizer o conceito de criação ou de Deus, não pode negar. Assim também não pode querer explicar a oriegem do mundo com a mera descrição do fenômeno que hipoteticamente esteve numa tal origem, pois logo vem a questão sobre o que é origem. Esta pergunta não é da alçada do cientista da natureza. O cientista poderia dizer que na origem está a grande explosão, mas restaria a pergunta o que é “origem”? Portanto, somente uma abordagem transdiciplinar pode dar conta do problema.

        Um fundamentamentalista jamais aceitaria uma tal abordagem.

        1. preconceito

          Caro Valdecir, considero preconceito imaginar que um cientista natural ,com sua experiência pessoal somado a conhecimento cientifico , não possa especular acerca das questões da origem. Aliás considero estes os mais preparados para tal especulação. A outra possivel área envolvida , a Filosofia, já jogou a toalha faz tempo. A religião é pueril ao tratar do tema. Talvez a questão da origem seja mais um dos nossos problemas sem solução, entretanto mistificar não ajuda nada. Esta abordagem transdiciplinar envolveria necessariamente mais e melhor ciência : cosmologia, física, biologia, neurociencias, computação, inteligência artificial. 

          1. Até onde a vista vai

            As ciências naturais não conseguem nem mesmo definir o conceito de vida. Como conseguiria se pronunciar acerca da noção de origem ou da ideia de Deus?

             

        2. Deus é anátema

          Deus nunca terá importância para a ciência,  graças a um frade franciscano. 

           

          “Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor” — Guilherme de Ockham

           

          http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Navalha_de_Occam

          Isso é conhecido como Navalha de Ockham

           

          Deuses só complicam as teorias científicas,  então estarão sempre fora.

          1. discordo

            Caro Edson , a despeito de Occam , se a ciência concluir que há alguma inteligência por trás da criação, não terei problemas em acatar. O que ocorre é que todas as evidencias vão em sentido contrário.

          2. Já acatou.

            se a ciência concluir que há alguma inteligência por trás da criação, não terei problemas em acatar.

             

            Já acatou sem provas.

             Ao usar o termo “criação” está admitindo que existe um criador.

  8. Que besteirol!

    Basta estudar a História ocidental para ver como as Cruzadas favoreceram o comércio (1a globalização) embora claro tenha cometido atrocidades, e como a educação e as artes foram impactadas pela leitura da Bíblia e o culto nas igrejas.

    Sem igreja, Michelangelo teria sido pedreiro ou soldado!

    1. Concordo em parte! A igreja

      Concordo em parte! A igreja foi catalizadora desses talentos no inicio do renascimento, contudo o mesmo aconteceu em Roma e na Grecia sem que houvesse a presenca da igreja. Havia sim outros cultos, e devo admitir que muitos desse cultos patrocinaram os artistas da antiguidade. Nao houve nem presenca nem necessidade de igreja Judaico-Crista.

      Mecenas, uma quase ministro das artes de Roma, nao foi Judeu ou Cristao, mas eh ate hoje conhecido como um dos maiores patrocinador dar artes.

    2. isso mesmo!

      ” Basta estudar a História ocidental para ver como as Cruzadas favoreceram o comércio (1a globalização) embora claro tenha cometido atrocidades,”

       

      Nada como uma guerra para movimentar os negócios!

      Veja Bush júnior no iraque, empresas ganharam bilhões!

      Então você é a favor de matar pessoas para aumentar os lucros?

  9. gostei do post cujo tema

    gostei do post cujo tema deveria ser amplamnte discutido

    sob o risco de a dona marina virar santa do pau oco e papisa

    e entronar à direita de seu trono  os mesmos tecnocratas e conomistas neolioberais que quebrarm o brasil tres veze na era fhc.

    nem precisa chegar a papisa, já sacralizou o mercado e seus tecnocratas, seres especiais que, pela canonização da grande mestre da velhaca nova política  certamente estão mais para o  céu do que para a terra como nós seres comuns, que asistiremos  todas as palhaçadas deles aqui do chão sem podermos dizer nada,

    participação zero.

    pois quem não teme a Deus?

    é possível a um verdadeiro cristão conviver com dois deuses ao mesmo tempo –

    o Deus verdadeiro e o deus mercado, como quer  a sacral marina?

    e ainda canonizar espúrios economistas que se acham divinos?

     

  10. Vixe, quase parei no nome da autora

    Sabe de nada sobre o assunto. Participei de fórum com a dita cuja. Dava xiliques e era metida a intelectual, mas era de um caos e confusão únicos. Esse post segue a mesma linha, trololó confuso, como o habitual. Gostava de aparecer como amiga de Chico Science em Recife. Parece que se radicou em Porto Alegre. Mera diletante, tendente a não conhecer o significado de muitas das palavras que usa ou a usá-las de forma inadequada, típico de pernósticos (“denegar”, com o sentido de “negar”, em textos desse jaez, usado ali, é absolutamente inapropriado, pois “denegar” tem sentido específico de “não conceder”, “não deferir”, “não dar provimento” e não meramente de “negar”; é um termo mais técnico, do mundo jurídico).

    Ela usa “descarnada”, ao que parece (o texto é confuso, não tenho culpa), em contraposição à “encarnada”, quando o certo, pelo menos usando a lógica da língua portuguesa, seria “desencarnada”. Texto confuso, repleto de erros de português constrangedores (vi alguns erros de concordância verbal, etc).

    Uma confusão conceitual absurda, um caos incrível, um estilo de escrita horrível, sem qualquer linearidade, para dizer que Marina é um “perigo” porque supostamente seria adepta do que ela chama, sem qualquer clareza e rigor conceitual, de “pentecostalismo”.

    Trechos absolutamente incompreensíveis, que não se fazem entender. Ideias nebulosas e obscuras. Afirmações desfundamentadas, sem explicar de onde retirou as conclusões. Poderia citar vários trechos assim para comprovar.

    Isso sem falar nas conclusões lacônicas e surgidas do nada. Non sequiturs a dar e vender nesse texto.

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