Enviado por Pedro Penido dos Anjos
Muçulmanos: O Espírito Conservador em 1492-1799
Por Fernando Nogueira da Costa, no blog Cidadania e Cultura
Em 1492, segundo Karen Armstrong, no livro Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo (Tradução: Hildegard Feist. São Paulo; Companhia das Letras; 2001), o povo judeu foi uma das primeiras vítimas da nova ordem que lentamente surgia no Ocidente. A outra foram os muçulmanos da Espanha, que nesse ano momentoso perderam seu último baluarte na Europa.
Mas o Islã não estava, absolutamente, falido. No século XVI, ainda era a maior potência do planeta. Embora a dinastia Sung (960-1260) tivesse elevado a China a um nível de complexidade social e poderio muito superior ao do Islã e o Renascimento italiano tivesse iniciado uma florescência cultural que acabaria favorecendo a liderança do Ocidente, os muçulmanos conseguiam conter facilmente esses desafios e permaneciam em alto patamar político e econômico.
Correspondiam a cerca de um terço da população do globo, mas estavam tão ampla e estrategicamente situados no Oriente Médio, na Ásia e na África que compunham um microcosmo da história mundial, exprimindo as preocupações da maioria das regiões civilizadas nos primórdios da modernidade.
Essa época também foi empolgante e inspiradora para eles. No começo do século XVI, surgiram três novos impérios islâmicos:
1. o Otomano, na Ásia Menor, Anatólia, Iraque, Síria e norte da África;
2. o Safávida, no Irã; e
3. o Mongol, no subcontinente indiano.
Cada um refletia uma faceta distinta da espiritualidade islâmica.
O Império Mongol representava o racionalismo filosófico, tolerante e universalista conhecido como Falsafah.
Os xás Safávidas transformaram o xiismo, até então restrito a uma pequena elite, na religião de seu Estado.
Os turcos otomanos, que se mantiveram fervorosamente fiéis ao islamismo sunita, criaram uma política baseada na Shariah, a lei sagrada dos muçulmanos.
Esses três impérios constituíram um novo ponto de partida. Eram instituições modernas, governadas sistematicamente, com precisão burocrática e racional.
O Estado otomano era então muito mais eficiente e poderoso que qualquer reino europeu da época. Sob Solimão, o Magnífico (1520-66), alcançou o apogeu. Solimão expandiu-se para o Ocidente, através da Grécia, dos Bálcãs e da Hungria, e seu avanço pela Europa só se deteve com sua tentativa frustrada de tomar Viena, em 1529.
No Irã dos Safávidas, os xás construíram estradas e caravançarás (abrigos para hospedagem de caravanas), racionalizaram a economia e colocaram o país na linha de frente do comércio internacional.
Os três impérios desfrutaram uma renovação cultural comparável ao Renascimento italiano. O século XVI foi o grande período da arquitetura otomana, da pintura Safávida e do Taj Mahal.
No entanto, apesar de modernizadoras, essas sociedades não realizaram nenhuma mudança radical. Não partilhavam o etos revolucionário que se tornaria característico da cultura ocidental setecentista. Expressavam o que o estudioso americano Marshali C. S. Hodgson chamou de “espírito conservador“, marca registrada de toda sociedade pré-moderna, inclusive da europeia.
Os impérios islâmicos constituíram, de fato, a última grande expressão política do espírito conservador e, sendo também os Estados mais avançados do início da modernidade, representaram sua culminância.
Hoje, a sociedade conservadora enfrenta problemas. Ou foi efetivamente tomada pelo moderno etos ocidental, ou está passando pela difícil transição do espírito conservador para o moderno.
O fundamentalismo é, em grande parte, uma reação a essa penosa transformação. É, pois, importante para Karen Armstrong examinar o espírito conservador em seu ápice, nesses impérios muçulmanos, para poder entender sua atração, sua força e suas inerentes limitações.
Até surgir no Ocidente um novo tipo de civilização (estribado em constante reinvestimento de capital e aprimoramento técnico), que só se firmou no século xix, todas as culturas dependiam economicamente de um excedente da produção agrícola. Ou seja: havia um limite para a expansão e o sucesso de qualquer sociedade essencialmente agrária, pois ela acabaria indo além dos “próprios recursos.
Havia um limite para a quantidade de capital disponível para investimento. Em geral descartava-se qualquer inovação que demandasse grande dispêndio de capital, pois não se dispunha de meios para recomeçar alguma coisa a partir do zero. Nenhuma cultura, antes da nossa, podia bancar a inovação constante que hoje consideramos normal no Ocidente. [FNC: repare no verbo “bancar” para entender que capitalismo não funciona sem crédito ou alavancagem financeira.]
Esperamos saber mais que a geração de nossos pais e confiamos no crescente avanço tecnológico de nossas sociedades. Estamos voltados para o futuro. Nossos governos e instituições têm de enxergar longe e elaborar planos minuciosos que afetarão a geração seguinte.
Nossa sociedade é fruto do pensamento racional sistemático e coerente. É fruto do logos, que está sempre olhando para a frente, procurando ampliar nossos conhecimentos e nossas áreas de competência e controle do meio ambiente.
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bela conclusão.
sem deixar de
bela conclusão.
sem deixar de lembrar do passado.
por exemplo:
averróis é o filósofo epanhol-muçulmano que praticamente
transportou a obra de aristóteles para o ocidente,
influenciando toda a nossa cultura posteriormente…
Muçulmanos estavam muito na frente dos europeus
Muçulmanos estavam muito à frente dos europeus no começo do século XVI, em astronomia,matemática, geometria, química, medicina, filosofia e muitas outras ciências, perdiam para os ocidentais apenas em poucas áreas como a navegação por exemplo.
Esqueceram de mostrar o principal no artigo
O principal é como opera o islã, para se espalhar, no site do link a seguir você terá listas com as melhores fontes sobre o assunto, acesse: https://archive.is/rdsmD