Prefeitura do Rio corta apoio à festa de Iemanjá em fevereiro, por Matê da Luz


Foto: Reprodução

Prefeitura do Rio de Janeiro corta apoio à festa de Iemanjá em 02 de Fevereiro 

Por Matê da Luz

Para aqueles que ainda torciam o nariz quando eu falava que a bancada evangélica, responsável pelas IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), estava mais pra política do que pra religião, aí vai: pela primeira vez em 13 anos a prefeitura do Rio de Janeiro cortou as verbas destinadas à procissão de Iemanjá, evento tradicional à cidade. 

Num ano onde a intolerância religiosa foi escancaradamente violenta, chocante e descarada, o corte de verbas dificilmente passa como opção de administração pública. Especialmente no Rio de Janeiro, onde cenas de traficantes destruindo terreiros “em nome de Jesus” foram gravadas e distribuídas como troféu, este corte tem representação de silêncio, de preconceito, de mais agressividade. 

Ao jornal Extra, o Babalaô Ivanir dos Santos declarou ser inegável a segregação cultural, assim como vem sendo feita e concebida a extinção do carnaval carioca, outro marco de identidade para a cidade e, também, outra festa que envolve a identidade afro-brasileira. “É inegável que há uma segregação cultural. Na concepção da Igreja Universal, há uma demonização das religiões africanas”.

Verdade seja dita, a figura do demônio não existe na Umbanda nem no Candomblé: está equivicadamente sincronizada com Exu, o rei dos caminhos, dos inícios, das oportuniaddes e recomeços. Mas aos olhos e ouvidos assustados, aqueles que não têm tempo nem para entender a si mesmo, aprofundar-se em informação seria pedir demais. Seguem, portanto, agredindo. 

O jornal Extra apresentou, ainda, uma lista (que reproduzo aqui embaixo) de eventos considerados “culturais” que sofreram impactos pela nova administração da prefeitura. Coloco aqui minha observação: os eventos, além de culturais, têm ligação com as religiões negras. Faça-me o favor de abrir os olhos quem não quer enxergar: 

Carnaval

Em junho, o prefeito anunciou que cortaria à metade a subvenção concedida às escolas do Grupo Especial. Cada agremiação terá R$ 1 milhão, em vez dos R$ 2 milhões concedidos no ano anterior. No início de novembro, escolas do Grupo A também foram informadas de que sua verba será reduzida a 50%.

Ensaios técnicos

A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) resolveu suspender de vez os ensaios técnicos realizados entre janeiro e fevereiro no Sambódromo, após a diminuição dos repasses pela prefeitura. Segundo a Liesa, os ensaios eram pagos pela própria Liga e custavam R$ 4 milhões.

Parada gay

Pela primeira vez, em muitos anos, a prefeitura não deu recursos para as paradas LGBTI de Copacabana e de Madureira, que manifestam o orgulho gay. Por falta de verba, o evento na Zona Sul ficou ameaçado. Só foi possível após uma vaquinha online e com patrocínio de duas grandes empresas, além de apresentações de artistas que não cobraram cachê.

Trem do samba

O Trem do Samba recebeu, em 2016, R$ 800 mil da prefeitura. Este ano, não houve aporte. Mesmo assim, o evento está previsto para o próximo sábado: para embarcar, é preciso contribuir com 1kg de alimento não perecível que será trocado por bilhete na estação da Central, a partir do meio-dia.

Feira das Yabás

O tradicional evento também sentiu os efeitos da nova gestão. No ano passado, a prefeitura bancou 12 eventos. Neste, foram só quatro. Após ficar quatro meses sem edições desde dezembro de 2016, a feira retomou as atividades em maio.

Tambores de Olokun

O bloco chegou a ser impedido de ensaiar no Aterro pela prefeitura, sob alegação de que apresentações no local deixaram gatos de rua “estressados”. O grupo, no entanto, entrou em acordo com a prefeitura e vai continuar a tocar no mesmo local.

Àqueles que se convencem com o argumento de que a verba – cerca de R$30.000,00 no ano passado – será destinada à saúde e segurança municipal, por favor, se apresentem (bem como sustentem o que defendem). 

Mariana A. Nassif

4 Comentários

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  1. Se a coisa for geral e

    Se a coisa for geral e envolver o corte do financiamento público para qualquer festa religiosa, eu apoio. Aliás, entidade religiosa devia pagar imposto.

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