As mudanças climáticas e o fornecimento de água em São Paulo

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Enviado por Pedro Penido dos Anjos
 
 
Mudanças climáticas e a água de São Paulo
 
Fernando Reinach 
De “O Estado de S.Paulo”
 
Olhe para o céu e para o termômetro. Se o primeiro estiver azul e o segundo alto, faça como nossas autoridades, reze. Mas, se você prefere lidar com a realidade, que tal entender o funcionamento do Sistema Cantareira? O Sistema Cantareira fornece 45% de toda a água da Região Metropolitana de São Paulo. Vinte milhões de pessoas, 10% da população brasileira, dependem dele.
 
O Sistema Cantareira está à beira do colapso. Ele nunca esteve com tão pouca água. E continua esvaziando quando já deveria estar enchendo desde dezembro. O maior dos reservatórios (Jacareí/Jaguari) está com menos de 17% de sua capacidade, e a água se encontra na cota 826 metros. Essa represa possui seis tomadas de água que levam o precioso líquido para São Paulo. As quatro mais altas, nas cotas 836 e 827, já estão no seco, fora da água. As duas mais baixas, na cota 818, ainda estão captando água. Mas, se a represa chegar à cota 818, é o fim, nem uma gota de água poderá ser captada.
 
O governo continua otimista e acredita que São Pedro esqueceu de ligar o despertador. Se isso for verdade será a primeira vez nos últimos 40 anos. Mas, se não chover muito nos próximos 30 dias, São Paulo e outra dezena de municípios vão ter de sobreviver a partir de abril sem os 36.000.000 de litros de água por segundo (36 m³/seg) que este conjunto de represas e túneis pode trazer até São Paulo.
 
O que poucos sabem é que em agosto de 2014 a outorga do Sistema Cantareira terá de ser renovada. Nesse processo o governo vai decidir quanto de água pode ser retirada do sistema a cada dia, quem vai ter o direito a essa água, e com que prioridade. A má notícia é que aparentemente o Sistema Cantareira não tem mais capacidade de fornecer os atuais 36 m³/seg. Se a decisão for baseada em critérios técnicos, a vazão total deveria ser reduzida. É o que está escrito nas entrelinhas do documento preparado pelos técnicos para embasar a renovação da outorga (veja link abaixo). São 113 páginas de gráficos, tabelas, mapas e explicações. Vale a pena ler.
 
Em 1976, com base nos dados coletados desde 1930, os técnicos decidiram outorgar à Sabesp o direito de retirar 33 m³/seg do Sistema Cantareira até 2004. Em 2004, a renovação ocorreu durante uma grande seca, quando o sistema chegou pela primeira vez a 20% de sua capacidade máxima e houve racionamento de água. Foi decidido na época que seria possível aumentar em 10% a quantidade máxima de água que poderia ser retirada do sistema, que passou a ser 36 m³/seg. Essa renovação foi feita por um prazo de 10 anos e vence agora (veja na página 69 do documento).
 
Nas série histórica em que foi baseada a renovação da outorga em 2004 (dados coletados entre 1930 e 2003) a capacidade dos rios que compõem o Sistema Cantareira foi estimada em 44,8 m³/seg. Já as medidas feitas nos últimos anos (2004 a 2012) mostram que esta capacidade se reduziu para 39,7 m³/seg, uma redução de 13%. Se você quiser ser generoso pode comparar os dados de 1930 a 2003 com os dados de 1930 e 2012 e, neste caso, a redução é menor, aproximadamente 10% (veja página 36 do documento).
 
Esses dados bastariam para justificar uma redução no volume da próxima outorga, mas, além disso, o relatório demonstra que nos últimos anos a variabilidade da quantidade de chuva aumentou significativamente (em alguns anos chove muito e em outros chove pouco). Essa variabilidade é uma das consequências previstas nos modelos de mudança climática. No futuro, teremos mais anos com pouca chuva e mais anos com um grande excesso de chuvas. Para garantir o suprimento de água nos anos secos, os reservatórios deveriam ser administrados com uma folga maior. Menos água pode ser retirada, e os níveis médios devem ser mantidos mais altos.
 
Esses são os fatos. Resta saber como o governo vai se comportar. Vai aceitar a realidade e renovar a outorga com um volume menor (o que força a Sabesp a investir ainda mais em novas fontes de água) ou vamos continuar acreditando em São Pedro e torcer para que a seca final só ocorra em um governo futuro (que, claro, será o culpado).
 
A Sabesp já emitiu sua opinião. Em uma carta que pode ser encontrada no site da ANA, sua presidente solicitou a renovação da outorga. Pediu que, desta vez, a outorga seja concedida por 30 anos e não mencionou uma possível redução de volume.
Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Perfeito. Temos o problema e

    Perfeito. Temos o problema e as causas. Falta agora saber o que será feito para corrigir a situação de modo permanente, além de ficar rezando para São Pedro e oferecendo estímulos para economia no consumo. Olha o nível!

  2. Lucro

    Gostaria de saber o que a SABESP faz com o seu lucro líquido anual. São mais de 2 bilhões ao ano, já descontados os impostos, despesas operacionais e sangria derivada do fator político.

  3. O clima tem ciclos…

    …como é mais didático utilizar exemplos extremos, como os aquecimentistas causado pelo homem fazem. Vou afastar-me alguns milhares de quilômetros da grande São Paulo.

    A Califórnia vive hoje provavelmente a mais severa seca desde a chegada do homem branco, mas o que dizem os registros em sedimentos e em anéis de árvores? Lá já ocorreu período sem chuvas que durou mais de duzentos anos! Segundo o Dr. Scott Stine, paleoclimatologista da Universidade do Estado da Califórnia, o século XX foi o mais chuvoso dos últimos setenta séculos. Estima-se que entre os anos 800 e 1400 ocorreram dois períodos, um de 240 anos e outro de 180 anos, com um padrão de chuvas semelhante ao registrado nos últimos 7 anos.

    Um estudo publicado na revista Nature, em 1994, aborda a questão. Por volta do ano 1300 que foi um período anormalmente quente na Inglaterra ocorreram secas extremas na Califórnia e na Patagônia. Extrapolar o clima conhecido nos últimos dois séculos como o historicamente normal é absoluta mistificação.

    Gostei de uma frase no artigo… o relatório demonstra que nos últimos anos a variabilidade da quantidade de chuva aumentou significativamente (em alguns anos chove muito e em outros chove pouco)… pombas, isto o homem sabe desde sempre…

     

    1. Concordo!

      O clima da terra, assim como o universo todo tem ciclos, o problema é o tempo. Trinta anos em termos universais é nada, já em termos climáticos, levando em conta o ‘vírus humano’ que infecta o planeta é uma eternidade!

      Não nascemos para suportar temperaturas extremas como as que estão acontecendo em grandes centros urbanos, com números que variam de -40 a 40º centigrados (ou mais). Os paliativos como aquecedores e ar condicionados não irão suportar toda a demanda, sem falar no problema da ENERGIA ELÉTRICA e ÁGUA.

      Faltou água = faltou comida! PET Shops vão virar açougue!

      O problema na terra é…muito TUDO consumindo TUDO e o pior desperdiçando!

      7 bilhões de indivíduos é um numero gigantesco!

      “Mortes causadas pelo calor devem aumentar 257% na Inglaterra até 2050” (Megacurioso)

      http://goo.gl/bT6P9B

      1. Grandes centros urbanos?

        -40º C ocorrem em raras grandes cidades ao redor do planeta.

        +40º C em muitas, mas você já ouviu falar em ilha de calor urbana? Caso você saia de um bairro de São Paulo e vá para um sítio ao redor da região metropolitana qual será a diferença da temperatura?

        Caso você não tenha ligado o fato ao acontecimento… quando foi mesmo que a civilização Maia desapareceu?

        Quantos aos sete bilhões de seres humanos: que venham mais!

         

        1. Raros e pontuais!

          O questão como tu diz é cidades ‘raras’ e problemas ‘pontuais’!

          Porém esta tornando-se mais frequente e perene, vide o frio glacial no nordeste americano(-40º é um exemplo extremo) e o calor assassino que ronda o hemisfério norte. Em Porto Alegre anda fazendo um calor sufocante, acima de quarenta graus nas horas de pico solar, há mais de 10 dias e não adianta sombra, água ou um sitio a 100km. O calor é igual! Pela primeira vez na minha vida me senti mal em função da temperatura elevada! Mas concordo contigo, é cíclico, o problema é nós aguentarmos o período!

          Quando chegar em 14 bilhões espero estar vivendo em Marte!

        2. “que venham mais!”

          Para alimentar com o quê? Cerca de um bilhão passam fome, abastecimento de água potável já é problema em muitas regiões densamente povoadas e é uma fonte de conflito militar. O slogan “crescei e multiplicai” é coisa de genocida, antes de ser de hipócritas, pois as classes médias e abastadas não o praticam; em todos os lugares desenvolvidos as taxas de crescimento populacional são declinantes, indicam estabilidade da população e mesmo o seu declínio.

  4. As fontes secaram

    O negócio da Sabesp é captar dólares em NY, não água em SP.

    Só que as duas fontes estão secas…

    Como a Alstom e a Siemens.

    Em tempo: o problema não é só de produção. É também de consumo. São Paulo suga água de outras bacias muito mais do que tem direito. E não só água, areia também. Muita água e areia para construção desenfreada estão secando a cidade e exigindo mais água ao mesmo tempo.

    Trânsito caótico, mercado imobiliário corrupto e falta d`água: o que mais falta para o apocalipse? Quanto vai valer uma cobertura com piscina sem água?

  5. Notícias sobre o clima de

    Notícias sobre o clima de Cuiabá-Mato Grosso: ao contrário de outros verões e olhe que fazem 40 verões que estou em Cuiabá. Estamos tendo um verão atípico, todos os anos nesta época chove, mas nem tanto como está chovendo agora, desde o início de dezembro que estamos tendo chuvas torrenciais praticamente todos os dias, muita chuva,  o muro da minha casa já está com lodo de tanta água. A temperatura nesta época, a mínima não desce dos 25/27 ao amanhecer e facilmente atinge 45/ 48 graus. Nunca tivemos um verão com temperaturas tão amenas, outro dia a máxima foi de 23º. A máxima agora está atingindo 33/35º e aí chooooove e refresca. Parece que este ano trocou, o calorão foi para o Sul/Sudeste e o clima bom veio para cá. Sinto por vocês, mas que aqui está bom, está.

  6. O que mais me espanta é : 

    O que mais me espanta é :  Esse pessoal que está no comando do estado por 20 anos, nunca ter pensado que uma seca mais prolongada  poderia vir,  mais cedo ou mais tarde.   É impressionante a confiança, a tranquilidade dessa gente !    Impresionante, tambem, é esse eleitorado paulista !!!    Daquí de meu estado vejo o dia a dia da população paulista :——–Prbblemas de todo o tipo :  Transporte, segurança, policia fazendo massacres, jovens estudantes, empresários e cidadãos sendo mortos nos bairros nobres, moradia, transito, agua, etc.    O que estava fazendo esse “governo” durante 20 anos no estado mais rico do país  ?      Que eleitor dorminhoco é esse ?     Estão fazendo cobranças ao Haddad que está aí a um ano !!!       O endereço certo para cobranças deveria ser na porta do Palácio e na porta do PSDB.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador