Agressões e falta de orientação dificultam atuação de agentes de saúde

Pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole apontam problemas enfrentados por agentes comunitários de saúde no combate à covid-19

Estimativas apontam que apenas 9% dos agentes comunitários de saúde receberam treinamento em controle de infecção e equipamentos de proteção individual (EPIs); de acordo com sindicatos, pelo menos 50 agentes morreram por infecção de covid-19 – Foto: Pixabay

do Jornal da USP

Agressões e falta de orientação dificultam atuação de agentes de saúde

A seção “Comment”, da The Lancet, uma das publicações científicas mais bem conceituadas do mundo, traz texto de Gabriela Lotta, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autora principal, na qual destaca a negligência com que os agentes comunitários de saúde (ACS) estão sendo tratados durante a pandemia da covid-19. O texto ressalta que as agressões e a falta de orientação e de equipamentos de proteção individual (EPIs) tornam difícil a atuação efetiva dos agentes. O texto pode ser acessado neste link. O CEM é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“No Brasil, não houve diretrizes nacionais para os serviços de atenção primária à saúde na resposta à covid-19”, destaca a pesquisadora. O texto foi escrito em parceria com Clare Wenham, do Departamento de Política de Saúde da Escola de Economia e Ciência Política de Londres; João Nunes, do Departamento de Política da Universidade de York (Reino Unido); e Denise Nacif Pimenta, do Instituto René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas).

Os autores apontam que os ACS no Brasil não são considerados profissionais de saúde. Estimativas apontam que apenas 9% receberam treinamento em controle de infecção e equipamentos de proteção individual (EPIs). Os sindicatos estimam que pelo menos 50 ACS morreram por infecção de covid-19. “O número é provavelmente subestimado, já que as mortes de ACS não são registradas nas estatísticas oficiais de mortalidade dos trabalhadores da saúde no Brasil”, acrescentam.

Proximidade e confiança

De acordo com pesquisadores, proximidade de agentes de saúde com as comunidades é fundamental para vigilância de surtos e comunicação de riscos, conforme foi observado no surto de zika, e seriam essenciais para um sistema de combate à pandemia – Imagem: Pixabay

São mais de 286 mil os agentes comunitários de saúde hoje no Brasil que prestam atendimento primário de saúde em seu território, fazem visitas domiciliares e estabelecem uma relação de confiança entre as comunidades e o sistema de saúde. A proximidade deles com as comunidades é fundamental para a vigilância de surtos e comunicação de riscos, conforme foi observado no surto de zika. Seriam, portanto, profissionais fundamentais para um sistema de combate à pandemia.

No entanto, “a posição atual dos ACS mostra toda a extensão do desastre de saúde pública no Brasil”, ressaltam. As ameaças de agressões, a falta de orientação sobre seu papel na pandemia, os riscos que sofrem de se contaminar ou serem vetores da doença são alguns dos tópicos abordados no texto.

Criado em 2000, o CEM reúne cientistas de várias instituições para realizar pesquisa avançada, difusão do conhecimento e transferência de tecnologia em Ciências Sociais, investigando temáticas relacionadas a desigualdades e à formulação de políticas públicas nas metrópoles contemporâneas. Sediado na USP e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o CEM é constituído por um grupo multidisciplinar, que inclui pesquisadores demógrafos, cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, economistas e antropólogos.

Mais informações: e-mail [email protected], na Assessoria de Imprensa do CEM

Redação

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