do CEE-Fiocruz
Na contramão da financeirização: preservar a provisão pública no século XXI
por Lena Lavinas
Num de seus últimos e incisivos livros[1], o historiador inglês Tony Judt enfatizou o quanto o culto do privado e da privatização avançou, ao final do século XX, em ritmo igualmente intenso ao controle crescente exercido pelo Estado sobre seus cidadãos. Esse movimento paradoxal – no qual a privacidade é violada pelo Estado que passa a monitorar de perto o comportamento dos indivíduos, para inferir se são responsáveis, enquanto a esfera pública é corroída por cortes orçamentários, em nome da responsabilidade, no caso fiscal – se deu de forma notável no âmbito da política social.
Se, no imediato pós-guerra, a provisão pública tendia à universalização, com coberturas que se ampliavam e se tornavam mais generosas, reduzindo eficazmente riscos e fazendo a segurança dos indivíduos mais efetiva, a partir da virada neoliberal do final dos 70, o que se vê é o recuo contínuo dos bens e serviços públicos – logo, dos direitos – e o aumento dos programas sociais talhados para clientelas muito específicas, sujeitos a condicionalidades e de natureza ad hoc.
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GLOBALIZAÇÃO E DESUMANIDADE
Correta e exemplar a abordagem sugerida pela autora do estudo referido neste breve excerto do artigo supra referenciado.
O mencionado livro do historiador Tony Judt já possui edição em português (O Mal Ronda a Terra, Editora Objetiva, RJ, 2011), e apresenta argumentação fundamentada e firme, que conduz a conclusões semelhantes às que são encontradas no último trabalho do saudoso geógrafo brasileiro, Milton Santos (Por Uma Outra Globalização, Editora Record, RJ, 2000).
Ambos demonstram que a característica mais cruel do neoliberalisno é a dilapidação do estado de bem estar social, o que deixa clara a necessidade de promover uma Evolução, no sentido de humanizar o sistema capitalista.