As mães da microcefalia, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Há tanto pra ser falado e tenho certeza de que não vou conseguir abordar todos os aspectos que gostaria neste texto. Serve pra uma longa e profunda conversa, porque envolve não somente uma questão de saúde pública, mas tantos outros pontos que passeiam por práticas de maternidade, paternidade, religiosidade, responsabilidade social, aborto e amor, pra dizer o mínimo. 

Antes de mais nada, mais nada mesmo, peço e estimulo que você visite o site CABEÇA E CORAÇÃO – um projeto simples com a intenção nobre de encurtar o caminho entre quem precisa de ajuda e quem pode ajudar. 

Passeando pelo site, algumas perguntas não saíram da minha cabeça e, então, resolvi compartilhar com vocês, bem como uma pequena reflexão sobre o que EU ACHO sobre cada ponto. (o eu acho vai bem grande pra estimular que os comentários igam na mesma linha, expondo opiniões pessoais com respeito à opinião pessoal do outro, que é o idela e ah!, como o mundo seria mais bacana se a gente começasse a fazer o que acha que é ideal, né?)

– Cadê os pais nessas fotos? 
Toda e cada foto tem uma mãe e uma criança. “Ah, que paranóica eu sou, colocando minha experiência própria como óculos para avaliar o contexto alheio”. E logo em seguida “ah, que chata eu sou comigo mesma, é óbvio que meu óculos impacta na forma de ver o mundo, então serviço próprio é ampliar o alcance das lentes”. E lá vou eu, ler uma ou outra história e, ufa!, na minha amostragem consta que tem pai sim, que tem pai que trabalha e que está ali, do lado da mãe, cuidando, dando amor, procurando respostas. A questão é só que ele não aparece na foto e, ufa de novo!, isso parece não ser um problema tão grande quanto o que eu pensava ATÉ LER ESSA MATÉRIA AQUI.  Pois é, meus óculos de ficar enfurecida com pai que abandona filho estão contaminados porque, droga!, isso acontece mesmo. Que saco!

– As mães têm toda a pinta de mãe
A cabeça colada no filho, os braços apertando o corpo do bebê, os olhos sorridentes, mesmo que um ou outro pareça, sim, preocupado. Cada foto é igualzinha a tantas outras de mãe que apresenta seu filho pro mundo e, na minha opinião, isso é um tanto lindo porque quando a gente aceita uma situação acaba partindo do princípio que vai viver com ela e, daí pra frente, é um bom caminho fazer escolhas positivas naquela estrada. Inclusive pedir ajuda num site, pra gente que a gente não conhece, só porque quer o melhor praquela pessoa. Isso é um tanto sobre ser mãe e exerce a maternidade com um dos critérios fundamentais que ela apresenta, que é o de suprir até que chegue a fase da autonomia – o que pode ser que demore mais ou nem chegue nestes casos, mas o que é relevante aqui é que essas mulheres não olharam pros seus filhos e pensaram neles como um problema enorme e decidiram que era um problema e pronto, elas seguiram caminhando na direção do que acham que é uma solução plausível e boa pra elas e suas crias. Conheço mães que não têm essa capacidade e, confesso, cultivo admiração, respeito e carinho por aquelas que o fazem de coração aberto, tal e qual a enorme maioria dessas moças aí da foto. 

– Por que elas não abortaram quando souberam da microcefalia?
“Porque o aborto é ilegal” poderia ser um argumento válido, “porque elas não têm dinheiro, já que o clandestino é caro” e “porque as que tentaram podem não ter tido a chance de estar no blog pedindo doações pois morreram junto com os bebês”, valem também. Meu coração Pollyana diz, ainda, que algumas simplesmente desejaram ser mães e entenderam que era assim e ponto. Precisamos agilizar a questão do aborto urgentemente no País, socorro! Se eu penso que as crianças cm microcefalia não deveriam nascer? Não, olha só, definitivamente não é isso: eu acho que só as crianças desejadas, independente da microcefalia ou de qualquer outra questão, deveriam nascer, mas quem sou eu pra decidir sobre o nascimento de novas pessoas neste mundo sem recrutar minhas próprias crenças. Só acho que, confrontada a realidade do aborto no país, a legalização é o único caminho possível, além de todo o trabalho de orientação e amparo que, se bem feito, evita a concepção equivocada e, consequentemente, o aborto. 

– Por que Deus permite que estas coisas aconteçam com nenêzinhos tão pequenos? 
Sim, eu penso em Deus quando vejo este tipo de situação, quase que única e exclusivamente porque eu penso bastante em Deus, tenho formação em Teologia de tanto interesse que tenho nessas questões do universo que a gente não enxerga e, então, veja bem, meus textos quase sempre são acompanhados de uma visão sobre ou impactada pelo invisível. Se você não acha que isso existe, é só pular estas linhas, olha que fácil! Bem, voltando à questão, eu faço essa pergunta sempre que vejo um contexto que eu não concordo ou que acho duro demais e, então, é claro que minhas respostas ainda são um tanto quanto cruas e embasadas nas leituras muito mais do que no que pratico de olhos fechados. Já li que Deus, nessas situações coeltivas e difíceis, conocou aquelas pessoas todas pra revolucionar um contexto que não pode mais acontecer. Faz sentido pra mim, uma vez que acredito em livre-arbítrio e que, portanto, as almas daqueles bebês se comprometeram com aquela limitação e que, ademais, as almas das mães e dos envolvidos com os cuidados com eles também escolheram aquele contexto. Pro bem e pro bem, mesmo que não seja tão fácil assim de colocar em prática. 

– Será mesmo que é o mosquito que transmite? E o pesticida, o que tem de fato a ver com isso? E as vacinas?
Não sei, não sei e não sei. Só gostaria muito que houvesse algum ógão confiável e não comprometido com a indústia farmacológica pra parar, pensar e entender o que está acontecendo, para que proponha um olhar em diração à cura. 

Gostaria de ler/escutar as respostas de vocês sobre estas questões também (torcendo para que o engajamento dos comentaristas seja tão efusivo quando vem sendo nos meus posts de assuntos considerados “fora do perfil do Blog do Nassif). 

Mariana A. Nassif

4 Comentários

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  1. Nem sei o que dizer diante dessa tragédia

    Tudo isso poderia ter sido evitado, o descaso não precisava ser tão grande.

    Em relação ao aborto, sou 100% a favor do direito da mulher de decidir sobre seu corpo.

    Quanto as causas: existe uma correlação forte entre zika e microcefalia, mas correlação não prova causalidade. Pelo que eu tenho lido, acho que existe uma tendência entre muitos cientistas em suspeitarem que, além do vírus zika, um fator adicional contribuiu para o surgimento dos casos no Brasil. Entre esses fatores estão outras doenças, que as mulheres podem ter tido antes ou junto da zika, ou mesmo fatores genéticos ou carências nutricionais. Mas ainda é cedo para tirar conclusões. Um fato que chama a atenção é que a grande maioria das crianças afetadas vêm de famílias muito pobres.

    Achei a história do pesticida importante para nos alertar sobre os absurdos que acontecem no Brasil sem que a população seja devidamente informada. Eu não sabia que se adicionava larvicida na água para consumo humano, mas não acho que o pyriproxyfen possa ser a causa do surto de microcefalia por que ele também é usado em outros países. Eu me preocupo mais com seu possível efeito carcinogênico na população. Se o pyriproxyfen é tão seguro assim como diz o ministério da saúde, eu gostaria de ver os resultados de seus testes toxicológicos que deveriam ser públicos e calariam os boatos.

    Eu me preocupo muito com a segurança da vacinação durante a gravidez e também em bebês muito novos, principalmente por que as vacinas no Brasil possuem altas quantidades de timerosal, um composto com mercúrio. Mercúrio é neurotóxico. O timerosal foi banido das vacinas nos EUA e Europa, então seria bom saber por que continuamos recebendo vacinas com ele. Veja bem, eu acho dificil que a vacina tdap tenha causado o surto de microcefalia, mas acho importante que se levante a discussão sobre a real segurança das vacinas e de uma maneira racional, com base em dados, estudos toxicológicos, e nao apenas em argumentos do tipo “nossas vacinas são seguras”. Dito isso, a hipótese levantada sobre a vacinação em massa com vacina de sarampo/rubeóla em Pernambuco chama a atenção por que rubeóla causa microcefalia. Seria muito importante que o ministério da saúde divulgasse os resultados dos exames feitos nas crianças nascidas com microcefalia para que as hipóteses sobre vacinas fossem descartadas de vez. Vale lembrar que o Brasil esta vivendo uma epidemia de sífilis e sífilis congênita também causa microcefalia, portanto, é fundamental que os resultados dos exames dos casos de microcefalia sejam divulgados com transparência e clareza.

    O ministério da saúde tem divulgado muito mal as informações e é difícil tirar conclusões. Me surpreende a absoluta certeza do ministério em associar zika com microcefalia quando muitos cientistas e a OMS pedem cautela. Porém, o alarde que eles fizeram foi tão grande que acho que teremos dados mais conclusivos em pouco tempo por que tem muita gente séria interessada na história. Não confio no governo, mas confio na comunidade cientifica e, digo isso como pesquisadora, sei que ela é movida por interesses verdadeiros em solucionar problemas e tragédias como essa e tenho acompanhado a corrida louca entre cientistas para ver quem vai descobrir o mistério da microcefalia primeiro. Então tenho muito esperança que teremos dados confiáveis em breve.

  2. Prezada Matê da Luz

    Prezada Matê da Luz,

    Tento atender em parte seu oportuno pedido. Esta questão, especialmente a suscitada por suas últimas perguntas, tem de ser debatida. Para mim, neste momento, suas perguntas mais importantes são as seguintes: “Será mesmo que é o mosquito que transmite? E o pesticida, o que tem de fato a ver com isso? E as vacinas?”

    Se o vírus Zika causar a microcefalia, caberia produzir vacina e combater o mosquito capaz de portar o vírus. Se não for o vírus Zika o causador da microcefalia, a vacina, do ponto de vista da saúde pública, é desimportante bem como o combate, especialmente químico, aos mosquitos.

    Para as crianças com microcefalia, talvez haja pouco a fazer. Contudo, se a causa do vírus for o larvicida, cabem processos judiciais para que sejam garantidas assistência financeira e médica às crianças e suas famílias vítimas da horrível tragédia. A empresa que produziu o larvicida e o Estado que o aplicou sem ter conhecimento de seus efeitos têm de garantir correta indenização e assistência aos prejudicados.

    Tudo leva a crer que a causa da microcefalia é o larvicida. De se notar que embora haja ocorrência de mosquitos potencialmente portadores do vírus Zika em quase todo Brasil, as ocorrências de microcefalia se deram onde o larvicida foi aplicado.

    Traduzi parte de um texto de GMWATCH (ver aqui) que tem argumentos muito fortes sustentando que a microcefalia é causada pelo larvicida usado pelo Estado brasileiro para combater os mosquitos (grifei algumas partes do texto traduzido).

    **********

    Médicos argentinos e brasileiros acusam larvicida como causa potencial da microcefalia

    Um relatório da organização de médicos argentina, Médicos nas Cidades Pulverizadas por Pesticidas, desafia a teoria de que a epidemia de vírus Zika no Brasil é a causa do aumento da microcefalia entre recém-nascidos.

    O aumento deste defeito de nascença no qual o bebê nasce com cabeça anormalmente pequena e frequentemente tem danos cerebrais foi rapidamente associado ao vírus Zika pelo ministério da saúde brasileiro. Contudo, de acordo com a Médicos nas Cidades Pulverizadas por Pesticidas, o ministério esqueceu-se de reconhecer que, na área onde a maioria das pessoas doentes vive, um larvicida químico que produz malformações em mosquitos foi adicionado ao abastecimento de água de potável em 2014. Este veneno, Pyriproxyfen, é usado em um programa controlado pelo Estado que visa a erradicação de mosquitos transmissores de doença.

    A Médicos acrescentou que o Pyriproxyfen é produzido pela Sumitomo Chemical, uma “parceira estratégica” japonesa da Monsanto. Pyriproxyfen é inibidor do crescimento de larvas de mosquito que altera o processo de desenvolvimento da larva a pupa e a adulto, gerando assim malformações nos mosquitos em desenvolvimento, matando-os ou incapacitando-os. Ele atua como hormônio juvenil de inseto ou juvenóide, e tem o efeito de inibir o desenvolvimento das características do inseto adulto (por exemplo, asas e genitália externa madura) e o desenvolvimento reprodutivo. É um diruptor endócrino e é teratogênico (causa defeitos de nascença), de acordo com a Médicos.

    A Médicos comentou: “as malformações detetadas em milhares de crianças de mulheres grávidas vivendo nas áreas onde o Estado brasileiro adicionou Pyriproxyfen à água potável não são coincidência, apesar do ministério da saúde culpar diretamente o vírus da Zika pelo dano.”

    Eles também observaram que o Zika tem tradicionalmente sido considerado uma doença relativamente benigna que nunca antes foi associada a defeitos congênitos, mesmo em áreas onde infecta 75% da população.

    Larvicida o culpado mais provável pelos defeitos de nascença

    Pyriproxyfen foi introduzido há relativamente pouco tempo no ambiente brasileiro; o aumento da microcefalia é fenômeno relativamente novo. Assim, o larvicida parece ser fator causativo plausível da microcefalia – por muito mais do que mosquitos GM [geneticamente modificados], que alguns têm culpado pela epidemia Zika e, portanto, pelos defeitos de nascença. Não há evidência sólida para suportar a noção promovida por algumas fontes de que mosquitos GM podem causar Zika, os quais por seu turno causariam microcefalia. De fato, de 404 casos confirmados de microcefalia no Brasil, somente 17 (4,2%) testaram positivo para vírus Zika.

    Especialistas em saúde brasileiros concordam com que Pyriproxyfen é o principal suspeito

    O relatório do Médicos argentino, que também aborda a epidemia da Dengue no Brasil, concorda com os achados de relatório separado sobre o surto Zika da organização de médicos e pesquisadores de saúde públicos brasileira, a Abrasco.

    A Abrasco também nomeia o Pyriproxyfen como a causa provável de microcefalia. Condena a estratégia de controle químico dos mosquitos portadores de Zika, que diz estar contaminando o ambiente bem como as pessoas e que não está reduzindo o número de mosquitos. A Abrasco sugere que esta estratégia é de fato orientada por interesses comerciais da indústria química, que, diz ela, está [a indústria química] profundamente integrada nos ministérios latino-americanos de saúde, bem como na Organização Mundial de Saúde e na Organização Pan-americana de Saúde.

    A Abrasco indica a companhia britânica Oxitec de inseto GM [geneticamente modificado] como fazendo parte do lóbi empresarial que está distorcendo os fatos sobre o Zika para adequá-los à sua própria agenda de promoção de lucro. Oxitec vende mosquitos GM projetados para serem estéreis e os comercializa como produto de combate à doença – estratégia condenada pela argentina Médicos como “um fracasso total, exceto para a companhia fornecedora dos mosquitos”.

  3. Matê da Luz

    Neste breve comentário só posso partilhar que acredito, que Crer em Deus não elimina os Mistérios da Vida, principalmente do Sofrimento e Morte. E também não nos faz magicamente tolerantes, resistentes e resignados com os mesmos ( Deus meu, porque me abandonaste! ).

    Mesmo assim prefiro continuar crendo, contra tudo e contra todos, “os sábios e inteligentes” do mundo, se preciso for. Mesmo porque acredito que a verdadeira sabedoria e inteligencia (inclusive a que desenvolve pesquisas e descobertas científicas), foram dadas por esse mesmo Deus, para todos os seres humanos de maneiras diferentes. Infelizmente muitos os usam para o mal.

    Também concordo com você quando diz:

    “…  mas o que é relevante aqui é que essas mulheres não olharam pros seus filhos e pensaram neles como um problema enorme e decidiram que era um problema e pronto, elas seguiram caminhando na direção do que acham que é uma solução plausível e boa pra elas e suas crias. Conheço mães que não têm essa capacidade e, confesso, cultivo admiração, respeito e carinho por aquelas que o fazem de coração aberto, tal e qual a enorme maioria dessas moças aí da foto. …”

    Mesmo porque nossa vida é curta, cheia de mistérios e assumir ser Mãe e Pai responsáveis ( mesmo se não der para escolher o melhor momento para isso, se houver necessidade de muita superação pessoal para isso, etc…) é um modo muito prático de se crescer em sabedoria no que importa na Vida.

    E não tenha dúvida : “Há tanto pra ser falado e tenho certeza de que não vou conseguir abordar todos os aspectos que gostaria neste texto.”  (nem eu, há necessidade de nossas vidas inteiras para isso, mesmo assim se houverem oportunidades).

  4. Prezada Matê da Luz,

    Afora seu posicionamento, me questiono, também, quanto ao acesso aos “serviços públicos” indispensáveis e necessários para a assistência a essas crianças vitimadas e às suas mães (médicos especialistas,fisioterapeutas, pisicólogos, assistentes sociais, etc.

    É do nosso conhecimento a fragilidade e/ou falta dos serviços de assistência a saude oferecidos aos mais carentes.

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