Bem-Estar e Angústia, por Luiz Claudio Tonchis

Por Luiz Claudio Tonchis

A vida é movida pelas forças contrárias: é na derrota em que vislumbramos o sabor da vitória, é pela tristeza que sabemos valorizar a alegria, é pela doença que damos crédito à saúde… Este é o curso natural da vida: só reconhecemos um determinado valor quando abalados por seu oposto. E ainda somos afetados pelas circunstâncias do meio e pelos diversos contextos que produzem uma inexorável bipolaridade, que oscila entre estes dois extremos: o bem-estar e a angústia.

Aquilo que nos afeta e altera verticalmente as nossas emoções e sentimentos nem sempre é produto do acaso, das contingências. Geralmente, é resultado de ações deliberadas. Atitudes impensadas, precipitadas e compulsivas, geralmente, geram nossos problemas. No entanto, as ações voluntárias que estão relacionadas ao bem e às virtudes, tendem a produzir o bem-estar, tanto nosso quanto de outrem. Mas, não basta saber o que é a Virtude, o Bem, é necessário praticá-los.  Já as ações que têm alguma relação com o Mal, mesmo as mínimas, resultam em alguma tristeza, algum sofrimento, angústia.

Para cada ação há uma reação e seus reflexos são inevitáveis, sejam a curto, médio ou a longo prazo. Por isso, o ser humano é construtor de seu destino e, de acordo com as suas disposições íntimas, pode modificá-lo para melhor ou para pior. Há de se considerar, neste contexto, que sofremos interferência do meio social e sua abrangência e intensidade dependem ambas da complexidade dos vínculos afetivos que estabelecemos com quem nos relacionamos.

A Ética é uma espécie de bem maior, pois é essencialmente a operação mental e racional que visa o Bem de si próprio, do outro e da sociedade como um todo. Por isso, quando se é sinceramente ético, há uma tendência a se sentir um conforto íntimo maior. Aqueles que não o são, não conhecem o “sabor” dessa recompensa. Então, a Ética é assim, uma arte de viver, e o resultado desse modelo de vida produz a felicidade. 

O principal propósito do ser humano é a felicidade. Tudo o que fazemos tem como objetivo último alcançar a felicidade. Ninguém em sã consciência projeta para si mesmo ações que produzem angústias. No entanto, “ser feliz” não é o mesmo que “estar feliz”.

É muito comum ouvir as pessoas dizerem que são felizes. Mas há uma distinção conceitual entre “ser feliz” e “estar feliz”. Estar feliz diz respeito a estados circunstanciais da vida: estar feliz no amor, na vida profissional, ou porque passou no vestibular, ou concluiu os estudos, ou outras situações. No entanto, ser feliz possui uma conotação mais universal, é uma análise do estado de bem-estar durante todo o percurso existencial.

A felicidade mais significativa não é aquela identificada numa determinada situação de prazer, mas sim, uma atitude cultivada a longo prazo, no que caracteriza a vida como um todo, onde a soma das sensações psicológicas positivas sobrepõe-se à soma das situações negativas. Isto é, “ser feliz” é superior a “estar feliz”.

Para isso, a razão é o nosso guia, mas também dependemos de outros fatores contingentes, inclusive da sorte. Seguindo esse raciocínio, disciplinar nossos hábitos implica em praticar uma profunda reflexão sobre nosso modo de agir, da qual resultam indicações para orientar nossa conduta em todas as situações.

Evidentemente, o percurso existencial não é algo que se exerce no vazio, mas sim dentro das limitações impostas pelas circunstâncias e pelo contexto. Ser ético é usar bem a liberdade e, sobretudo, administrar a vida para romper aquilo que nos limita, de modo que a bipolaridade existencial seja a mais positiva possível, ou seja, muito mais próxima do bem-estar.

 

Luiz Claudio Tonchis é Educador e Gestor Escolar, trabalha na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, é bacharel e licenciado em Filosofia, com pós-graduação em Ética pela UNESP e em Gestão Escolar pela UNIARARAS. Atualmente é acadêmico em Pós-Graduação (MBA) pela Universidade Federal Fluminense. Escreve regularmente para blogs, jornais e revistas, contribuindo com artigos em que discute questões ligadas à Política, Educação e Filosofia.

Contato:  [email protected]

 

Redação

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Percurso Existencial
    O erro nasce como consequência da ultrapassagem de limites e usurpação de poderes.

    “Precioso e perigoso dom o do livre arbítrio.” J.B.Roustaing

  2. Reflexão

    Muito bom o texto. Uma  reflexão ética e um modo de administrar a vida de forma que traga felicidades neste contexto pertubado no Brasil, é muito bem vindo.

  3. Que bom ler um texto sereno,

    Que bom ler um texto sereno, claro   e, que nos relembra o porque de estarmos fazendo o que estamos fazendo. Vale para todos os aspectos de nossas vidas, claro. Obrigada.

  4. Ética?

    A ética?  Que  ética? Que sensibilidade? Vivemos numa época em que isso não exite mais, é cada um por si. O espelho do povo é a calúnia, difamação, roubalheira, cada um querendo levar vantagem sobre o outro etc. 

    1. Pois é Elge! Mesmo assim, a

      Pois é Elge! Mesmo assim, a ética é um príncipio de convivência que devemos ter em vista.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador