Chega de descaso na saúde, por Leandro Farias

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Leandro Farias

Chega de descaso na saúde

Na Folha

Meu nome é Leandro Farias, tenho 25 anos, e há cinco meses enterrei minha jovem mulher, Ana Carolina Domingos Cassino, 23. Ela foi mais uma vítima de descaso neste país: morreu por causa de uma apendicite –em pleno século 21– após esperar 28 horas por essa simples cirurgia em um hospital particular da Barra da Tijuca, no Rio.

Ana Carolina, como outros 50 milhões de brasileiros, tinha um plano de saúde na falsa certeza de que quando precisasse teria um atendimento digno e humanizado.

A grande mídia detona a saúde pública em seus noticiários e, em seguida, nos empurra goela abaixo propagandas de planos privados, buscando nos fazer acreditar que essa é a solução para todos os nossos problemas. Ledo engano.

O governo, por sua vez, incentiva ainda mais a adesão aos planos de saúde –seja por meio de isenções e incentivos fiscais, seja através de uma agência reguladora.

Essa agência sempre deixou bem claro que tem por objetivo defender os interesses dos grandes empresários da saúde. Basta observar a composição da sua diretoria, formada a partir de indicações do governo, com aprovação do Senado, ocupada por diretores de hospitais particulares, administradoras de benefícios (Qualicorp, por exemplo), entre outros. Sem contar a falta de fiscalização em relação à modalidade dos planos coletivos por adesão.

Os órgãos e instituições públicas da saúde estão contaminados pelos interesses dos grandes empresários. Ministério da Saúde, ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Conselho Regional de Medicina, Vigilância Sanitária, entre outros, não cumprem com o seu papel e, com isso, cabe ao Judiciário fazer valer o direito à saúde, como consta do artigo 196 da Constituição Federal.

A Justiça fica, com isso, sobrecarregada por demandas que poderiam ser facilmente resolvidas. Faça uma visita ao plantão judiciário de sua região e entenderá do que estou falando. A judicialização da saúde demonstra sua importância, porém não é a única solução. Apenas punir exemplarmente os responsáveis por praticar crimes é enxugar o gelo. Precisamos conscientizar a sociedade e saber que todos nós temos direitos e deveres.

Nesse sentido surgiu o movimento Chega de Descaso (www.chega dedescaso.com.br), organização da sociedade civil que visa estimular a consciência crítica na sociedade, de maneira a retomarmos a vertente da participação social que vem diminuindo desde a construção do SUS (Sistema Único de Saúde).

Queremos promover um grande debate e uma maior interação entre profissionais de saúde e usuários. Acreditamos que a solução para o problema da saúde está em um SUS público, 100% estatal, universal e de qualidade. Precisamos valorizar a defesa do direito à saúde por meio do fortalecimento das lutas contra a mercantilização desta.

Sabemos que saúde se produz com acesso a recursos, mas para que haja desenvolvimento econômico precisamos de uma população saudável e com qualidade de vida. Nesse cenário, o movimento Chega de Descaso se apresenta como um novo movimento sanitário e convidamos a todos a fazerem parte dessa luta.

LEANDRO FARIAS, 25, farmacêutico da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), é um dos integrantes do movimento Chega de Descaso

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

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  1. Tenho experiência nao tao dramática, mas na mesma direçao

    Ano passado precisei de uma cirurgia muito séria. Tenho plano de saúde, gasto UMA NOTA por mês com ele (tenho 66 anos…), mas, naquele momento, embora tivesse direito a um hospital de primeira linha, nao tive coragem de pôr minha vida e minha visao nas maos de  um cirurgiao desconhecido, que aceita plano de saúde… (os bons nao aceitam…). Felizmente consegui ser operada num hospital de referência do SUS, também de primeira linha, e com os melhores cirurgioes da área no Brasil. Estou gratíssima. A gente paga, paga plano de saúde, mas, em casos realmente sérios, o que vale mesmo é o SUS. 

      1. Estúpido é seu papaizinho

        Tá pensando o quê? Que está no Blog da Veja? Que história é essa de ofender assim de graça outro comentarista? Vá pastar, se é para ofender também sei. 

  2. Descaso

    Tive um problema parecido. Fui para o hospital do plano de saude com dores na parte alta da barriga. O gástrico que deveria estar de plantao nao tinha ido. Ligaram para ele, que pediu que eu fosse “para sua clinica”, o que eu prontamente recusei. Havia dado entrada num hospital particular, tinha um plano de saude total, so sairia curado – ou morto.

    Esse plantonista nao foi durante o dia inteiro. E fiquei la, numa maca, com leucocitos sendo testados de hora em hora, ja na estratosfera. Estava pronto para me ir.

    Ai chega o plantonista da noite (cirurgiao geral). Na ronda que se segue, passa por varias macas até chegar na minha. Pergunta “e esse rapaz ai, por que esta ai?” o que a enfermeira responde “ele chegou de manha, o plantonista nao veio e ele (eu) nao quis mais sair”. “O que ele tem?”. “Ninguem sabe.”

    O médico se aproxima, me examina, faz uma cara de interrogação, olha radiografia tirada pela manhã e me pergunta “você aceita eu chamar uns amigos meus para descobrirmos o que voce tem?”. “claro que sim”, respondi, ainda que meio sem esperança.

    Chegaram os tais amigos, me levaram para a máquina de ultra som e fiquei lá escutando eles conversarem enquanto usavam a máquina. Se alguém já assistiu Dr House e seus “diagnósticos diferenciais”, foi praticamente a mesma coisa, embora Dr House só viesse a começar bons anos depois.

    “Talvez seja tal coisa”, disse um. “Se fosse, teria tal resultado no exame”, respondeu o outro. E se segui a conversa por longos 40 minutos até que finalmente um deles disse “deve ser apêndice” apesar da dor ser em cima, e nao embaixo, como de costume.

    Perguntaram se eu aceitaria cirurgia exploratória “para tirar a dúvida”. Já conformado com minha sorte, aceitei.

    A médica anestesista veio com a idéia de me aplicar uma rack, que neguei. Preferia anestesia geral. Ela veio falar de todas as supostas vantagens da rack (sem citar a possibilidade de ficar paraplégico, se ela erasse). Coloquei pra ela que “segundo o codigo civil, eu nao posso ser submetido a nenhum procedimento médico que nao concorde. Nao concordo com rack, que parte você nao entendeu?”. Ela me dopou antes da cirurgia e… aplicou a rack.

    Tive convulsões e precisei de uma segunda anestesia, geral.

    Acordei no outro dia sem apêndice e tendo tomado duas anestesias, a rack e a geral. Apendicite transversa foi o diagnóstico oficial. A anestesista nao apareceu após a cirurgia, talvez por ter contrariado minha negativa quanto a rack. Mas estava vivo.

    Já o plantonista da noite veio me ver quando estava saindo do plantao e pude agradecê-lo enfaticamente pelo empenho e iniciativa de salvar minha vida. Se dependesse do outro, o que deveria estar no hospital durante o dia, teria morrido. E provavelmente ficaria por isso mesmo.

  3. Ainda hoje mais cedo também

    Ainda hoje mais cedo também toquei nesse tema.

    Aqui:

    Semana passada fui marcar uma consulta em um pediatra do convênio particular para meu filho. A consulta poderia ser agendada pra depois de 2 semanas. Um absurdo total, ainda que saiba de gente que espera muito mas que isso. Não querendo esperar optei em ir à um posto de saúde. Tive que providenciar o cartão do SUS e depois o cartão do Posto de Saúde (dá trabalho!). Feito isso tive que madrugar e chegar por volta das 05p0 para pegar senha. Quando o posto abriu fomos rapidamente atendidos. Sem exagero algum: A consulta durou exatas 2 horas. O médicou pediu uma série de exames, (todos já marcados) e conversou muito com meu filho e comigo. O examinou completamente (nota: meu filho não tem problema algum de saúde). Era só uma consulta rotineira. Mas a prmeira que ele realizava ali.

    Jamais tive uma consulta desse nível em nenhum plano particular. Nem em sonho.

    Posso dizer que fiquei “chocado”. Eu nunca tinha visto isso. Sei porque aconteceu comigo. E esse tipo de coisa deve se repetir muito por aí, mas jamais ficamos sabendo. O padrão é bater no SUS…

    Esse é o Brasil. Ou o Brasil que a mídia nos vende…

    Completando o assunto, a família de um amigo meu paga de plano de saúde o valor de 1.700 reais para a mãe. Já estão nesse plano há mais de 20 anos. Recentemente ela teve um surto psiquiátrico. Recorreram ao plano e descobriram que o mesmo não cobria tal evento. 1.700 reais, mais de 20 anos…. Acabaram sendo (bem) atendidos em um hospital público. Agora estão processando o tal plano “top de linha”.

    Que o SUS tá cheio de problemas não há a menor dúvida. Mas aos poucos vai se percebendo que os convênios particulares podem ser muito piores. E bem pagos.

     

  4. Planos de “saúde”

    Um conhecido precisou de transplante de fígado e, apesar de dois planos de saúde, teve que ir pelo SUS, pois os dois não cobriam transplante.

    Fato está que foi operado no Einstein pelo SUS e teve um atendimento VIP e uto correu otimamente.

    Realmente, estou seriamente pensando em desistir do plano de saúde privado. Nas consultas, tem esperar como no SUS ou mais, e quando precisar para coisas mais sérias, tem que acionar um juiz para obter liminar e ser atendido… mal e porcamente, muitas vezes… ou se te atendem, te prendem no hospital até por meses, para mamar quanto mais possível das tetas do plano. É por isso que pagamos tão caro!

    Seria bom organizar uma campanha para quanto mais pessoas largar o plano de saúde, para ver se algo muda…

     

  5. Não tenho muito a comentar,

    Não tenho muito a comentar, mas é que este relato me pegou de jeito: faz apenas alguns dias que me declarei a alguém de idade próxima à dela: eu não sei o que faria da minha vida se eu a visse partir de maneira tão estúpida…

  6. Tive um problema no braço e

    Tive um problema no braço e telefonei para um hospital de ortopedia que atende meu plano de saúde. Pedi um especialista em braço para uma consulta (agora é tudo por departamento, mão, braço, ombro, etc, tudo compartimentado), a moça disse: “Ah braço, aguarde um pouco…” depois retornou e disse: “Não tem vaga”. Aí eu desliguei o telefone, minha filha disse: “mãe, você deveria perguntar: e pagando particular? Pode ter certeza que aí tem vaga” Pago um plano de saúde por trocentos anos e depois tenho que pagar particular, tem graça isso?

  7. Estou há 20 anos falando e

    Estou há 20 anos falando e escrevendo sobre saúde para conhecidos, meus pacientes e na imprensa.  Me peguei repetindo coisas  “n” vezes nesse tempo: a assistência à saúde virou mercadoria; a classe médica e outras profissões de saúde foram empurradas para o trabalho assalariado (Esse processo começou há um quarto de século, portanto não ponham a culpa na Dilma); vários médicos administram planos de saúde explorando os próprios colegas na maior cara de pau; a ética sendo atropelada em nome das regras do mercado; gestores públicos de saúde incompetentes; conselhos de Medicina partidarizados e desacreditados pela população e pelos próprios médicos (Alguém lembra há quantos anos foi proibido que médicos atendessem convênios de funerárias? Pois as funerárias continuam prestando assistência médica!). A população, via de regra, sequer participa das reuniões dos conselhos de saúde para ajudar a corrigir as distorções do SUS. Quando surge um desabafo de quem vive na pele a consequência do descaso com a saúde, me pergunto: quantos de nós temos agido nos últimos 20 anos para mudar, de fato, esse estado lamentável de coisas?

    1. Tá todo mundo careca de saber

      Tá todo mundo careca de saber que os planos de saúde são o me engana que eu gosto. É a máfia  de branco faturando em cima do cidadão necessitado.

  8. Coincidência

    Se morasse em São Paulo ou no Rio talvez não estaria contando a minha história: Uma sonografia atestou que deveria ser operado do apêndice no mesmo dia que fiz o exame.Fiz a cirurgia. Morando nos grandes centros o plano de saúde poderia ter falhado no atendimento.As opções seria  apelar ao SUS(em quem não confio) ou apelado ao atendimento “particular”. Na ocasião tinha 64 anos.Ironia: Morei 35 anos em São Paulo e há 5 anos estava residindo numa pequena cidade próxima a Araraquara, quando da ocorrência deste incidente.Acho que fui salvo pelo gongo. 

  9. Minha mae paga 1400,00 de

    Minha mae paga 1400,00 de plno de saúde. Teve uma crise de labirintite forte e a levei para o hospital no setor de convênios. Disseram que não a atenderiam, estavam priorizando só perigo de morte. Corri com ela, que vomitava muito, para a UPA. Pois bem, saiu de lá tratada e novinha em folha. É um crime o que a imprens tem feito com tudo nesse país, permitir que uma bandidagemm dessas queira governar sem votos, é pedir pra morrer sem honra, sem dignidafe, é optar por morrer de quatro. Estão me enviando jornal de graça, tento enctrar em contato para proibir essa audácia, mas eles não atendem. E a primeira página, é só terror. Coloco no lixo, antes mesmo de olhar o que está escrito,

  10. Atendimento Médico

    Também tenho um relato a fazer.Há duas horas cheguei do Hospital Beneficiência Portuguesa que fica em Porto alegre,e há dez anos estava sucateado e cheio de problemas. Fui fazer compania para meu irmão que teve um sério problema renal. Ele está internado pelo SUS e o tratamento humano e técnico que ele tem recebido é de primeira linha. Antes de ser internado neste hospital ele foi para uma UPA, também foi extremamente bem atendido, e como seu problema era complexo foi encaminhado para o referido hospital.

    Tenho conhecimento de quem tem plano de saúde e procura a emergência dos hospitais particulares se, o problema não é considerado grave, não recebem atendimento, e são imediatamente informados para  procurarem as UPAS. A espera não chega há quarenta minutos até  o atendimento pelo plantonista.

    No final do ano fui para Uruguaiana, onde tenho familiares, a população está eufórica  porque o prefeito que é do PSDB, mas apoiou a Dilma anunciou a chegada de trinta médicos cubanos. Os que já estão lá estão encantando a população.

    Podem dizer o que quiseram da Dilma ou do Lula, mas a melhoria do sistema  público de saúde melhorou sensívelmente, apesar da gritaria dos médicos e suasassociações. Aqui no RS , no interior do estado, estes profissionais costumam praticar reserva de mercado, ou seja,  só atua nas cidades se, for parente de algum médico.

    Que venham mais médicos cubanos ou não.

  11. Meu médico é MD, professor de uma faculdade privada no DF

    É otorrino e uma das maiores autoridades médicas em cirurgia otológica. Fui operado do ouvido esquerdo com ele em 2009, e ele acompanha meu quadro de surdez desde então.

    Ele afirma que prefere mil vezes, numa urgência ou emergência, ser atendido e estabilizado num hospital público. Principalmente se o quadro envolver trauma ou lesão de trânsito.

    Na última consulta com ele me contou sobre um amigo, médico, que havia sofrido um grave acidente de trânsito com a esposa, e ambos só foram salvos porque receberam os primeiros socorros e foram estabilizados num hospital público. “Em qualquer hospital privado de Brasília eles teriam morrido”, disse-me ele.

  12. Você amava sua mulher???

    Então deveria ter surtado depois de sua morte.

    Pegado um monte de bombas caseiras e explodido o escritório do plano de saúde. Ou então ter feito um furo no peito do presidente do seu plano de saúde.

    O Brasil precisa de pessoas que surtam nas crises, para ver se melhora.

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