Cirurgia faz crianças que nasceram surdas ouvirem pela primeira vez

Sugerido por Cláudio José
 
Do iG
 
Crianças que nasceram surdas passam a escutar após cirurgia
 
Médico afirma que, mais que ouvir, é preciso aprender a escutar; implante coclear é indicado para alguns casos de crianças que nascem surdas e adultos que perderam a audição
 
Maria Fernanda Ziegler
 
O mundo é tão barulhento que a pequena Rafaella abriu o maior berreiro depois de ouvir pela primeira vez, quando tinha um ano e meio. A menina nasceu surda e com um ano e quatro meses chorou quando o aparelhinho implantado dentro do ouvido foi ligado. Após esperar mais de um mês a cicatrização do pós-operatório, era chegado o grande dia de escutar. O aparelho foi ligado baixinho para não assustar, mas mesmo assim não teve jeito.
 
“Cada um é de um jeito, a minha filha também fez o implante com a mesma idade que a Rafaella, mas adorou ouvir desde o primeiro minuto. Ela inclinou a cabeça para o lado direito (onde foi feito o implante), fechou os olhinhos e sorriu”, disse Claudia Borges, mãe de Melissa, hoje com quatro anos. A operação pode ser feita no Sistema Único de Saúde (SUS). 
 
Rafaella e Melissa participam uma vez por semana de uma espécie de brinquedoteca, onde são estimuladas a aprender os sons. A família também participa da brincadeira – para que o aprendizado também ocorra em casa – e são acompanhadas por assistentes sociais, psicólogos e fonoaudiólogos.

 
“Quando a minha filha nasceu, foi detectado que ela era surda e que teríamos duas opções: ou ela aprender libras ou fazer o implante. Foi uma decisão muito difícil. Hoje, vejo que a Rafaella tem desenvolvido bastante. Às vezes ela banca de fono e solta um ‘jóia, mamãe!’, quando eu falo algo que ela acabou de aprender”, conta Patrícia Bica, mãe de Rafaella.
 
Estima-se que de cada mil crianças nascidas, quatro sofrem de surdez congênita, como é o caso de Rafaella e Melissa. No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas têm algum tipo de dificuldade em ouvir, sendo que 350 mil são completamente surdas.
 
De acordo com Arthur Castilho, otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas da UNICAMP, cirurgião do grupo de implante coclear da UNICAMP, o implante coclear é indicado para pacientes com deficiência auditiva de origem neurosensorial profunda e nem todo o paciente com surdez deve fazer a cirurgia. O aparelho introduzido no ouvido oferece informação sonora a indivíduos que não tem mais benefício com o aparelho auditivo comum.
 
O implante consiste em duas parte: o aparelho colocado cirurgicamente dentro do ouvido e a parte externa. Castilho explica que a parte externa, onde fica a bateria e a captação de sons, transmite para a parte interna a informação por meio de radiofrequência.
 
Lá dentro do ouvido, o aparelho tem a função de captar esta informação, codificá-la e, por meio de conjunto de eletrodos inserido dentro da cóclea, gerar campos elétricos. Com uma estratégia programada pela fonoaudióloga, estes campos elétricos vão excitar o nervo da audição, que transmite um impulso elétrico para o cérebro.
 
“Para crianças, o indicado é fazer antes dos dois anos, se possível antes de um e nunca depois dos sete, quando as vias auditivas do cérebro já foram moldadas. A indicação para adultos é somente para aqueles que perderam a audição por alguma doença, como meningite, por exemplo”, disse.
 
Adaptação
Passar a ouvir de uma hora para outra não é fácil. Há uma infinidade de sons que indicam uma coisa específica, como a sirene ou a buzina vinda lá de longe, ou ainda os vários tipos de gargalhada, palavras e também a voz de cada pessoa. Não é o tipo de coisa para aprender em um único dia, não é só ligar o aparelho que está tudo pronto.
 
“Muito mais do que ouvir, é preciso aprender a escutar”, disse Castilho. O médico explica que embora o paciente passe, após o implante, a receber os sinais sonoros, ele precisa aprender a identificá-los e a compreendê-los. Ao longo deste processo, crianças e adultos precisam fazer terapia para a estimulação auditiva, para identificar sons e palavras.
 
A adaptação de adultos é mais fácil que a das crianças. Isso porque o implante, quando feito em adulto, ocorre apenas nos casos em que estes ficaram surdos ao longo da vida. “Normalmente eles se lembram dos sons ouvidos no tempo em que escutavam, e só o fato de ouvir uma música que gostavam já ajuda na adaptação com o som emitido pelo aparelho, que é parecido e não igual ao som normal. Os meus pacientes dizem que o som parece um pouco metalizado”, disse Cristina Peralta, fonoaudióloga do Espaço Escuta, em São Paulo, que atende gratuitamente 26 famílias.
 
No caso das crianças é mais complicado pois, mesmo para aquelas que voltaram a escutar com um pouco mais de um ano, é preciso recuperar um tempo perdido e que é primordial para o desenvolvimento da audição e da fala. “A gente aprende a falar a partir da interação com os pais. O primeiro ano de vida é o período de maior aprendizagem na vida de uma pessoa. Por isso, indicamos que os pais de crianças surdas falem com seus filhos, pois a fala não é apenas o som, mas o gesto, o gesto facial e esse tipo de coisa vai ajudar a criança depois que ela fizer o implante coclear”, disse Cristina.
 
Claudia afirma que mesmo antes de a filha passar pela cirurgia ela cantava para a menina no colo. “É tão bom ouvir uma música, fico feliz que ela possa fazer isso agora”, conta a mãe da menina de olhos espevitados que não se preocupa em deixar o aparelho a mostra por causa do penteado que prende o cabelo no alto da cabeça.
 
Além da dificuldade de identificar os sons, muitas vezes as crianças apresentam dificuldade em reproduzir determinadas palavras. Melissa ainda tem dificuldade de falar o “c”, provavelmente por um problema motor, embora reconheça o som. “Uma vez ela disse que tinha desenhado uma ‘asa’. Eu tinha entendido que era uma casa, mas perguntei: uma asa? E ela respondeu: não, tia. Uma ‘asa’!”, diz a tia da menina Claudene Borges.
Redação

8 Comentários

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  1. Quanto mais cedo melhor

    É no primeiro ano de vida que a criança aprende as regularidades sonoras de sua língua, muito antes de que aprenda a perceber os significados das palavras. Elas aprendem qual é o tipo de ritmo de sua língua, quais os fonemas (classes de sons) que formam as palavras de sua língua (nem todas as línguas usam os mesmos fonemas), quando esses fonemas se combinam e quando nao se combinam, etc. Sobretudo aprendem os correspondentes perceptuais dos gestos motores e vice-versa (a que som corresponde cada articulaçao da boca, e como produzir cada som ouvido). É um período de aprendizado intensivo.

    Se a criança nao pode fazer o implante antes dos 2 anos, é melhor aprender LIBRAS, para nao ficar sem linguagem, o que atrasaria o desenvolvimento cognitivo. Pode começar a aprender a língua oral depois do implante, mas isso demora um tempo, e ela nao ficará sem língua nenhuma até lá. E sempre é bom saber mais uma língua. 

    1. (Off-topic:  Quando eu

      (Off-topic:  Quando eu estudei ASL tinha uma cliente bem velha que vinha no restaurante (eu estudei porque o restaurante estava perto de uma escola de ASL) e era gente boa, eu “conversava” com ela com as pouquissimas coisas que conhecia e que tinham a ver com comida, todas elas.  Analu, uma vez tinha um gato na rua e ela tava conversando comigo e ficou toda excitada querendo chamar o gato com o barulho normal de gato (o soprado shiuiuiuiuiuiui…).  Me surpreendi porque nada do som que ela fazia tinha a ver com o som que eu conhecia.  Aa epoca nao entendi a razao, so muito tempo depois fui descobrir que ela seguia os movimentos labiais mas nao tinha conhecimento de formatacao interna -muscular- de sons pra os fazer corretamente.)

      Post muito bom, Claudio! Tem varios videos no youtube no exato momento que pessoas escutam sons pela primeira vez, sao todos muito emocionantes.  O primeiro (20 milhoes de views!) eh a respeito de uma surda de nascenca ouvindo pela primeira vez depois da operacao, aos 29 anos de idade.

      [video:http://www.youtube.com/watch?v=LsOo3jzkhYA%5D

      Esse eh mais longo -4 e meio minutos- e mais emocionante ainda:  ela nao teve terapia especifico e nao sabe falar direito, ela imita e entende sons de acordo com movimentos labiais, igual minha cliente.  Raramente os sons que ela emite correspondem ao que a gente conhece:

      [video:http://www.youtube.com/watch?v=xpi1xKD20dw%5D

      1. Ivan, há algo estranho

        Ainda nao vi o segundo vídeo, só o primeiro. A moça entendia tudo da linguagem oral (e mesmo surdos oralizados que sabem ler lábios nao percebem algumas diferenças de sons que nao “aparecem” visualmente, como as distinçoes entre sons surdos e sonoros, que dependem da posiçao das cordas vocais, dentro do pescoço — [t] X [d], por ex., ou [p] X [b] –) e falava sem dificuldade articulatória; estou achando que nao é possível que seja uma pessoa que nunca ouviu antes. 

        Agora estou vendo o segundo. A moça tb entende tudo o que a terapeuta diz, e sabe o significado de alto, no sentido de som alto. Como podia saber? Tá estranho, embora menos que o caso do primeiro vídeo. 

  2. Eu vi um documentário sobre

    Eu vi um documentário sobre isso anos atrás, uns 7 ou 8 anos…

     

    Falava sobre o procedimento e no caso tinha uma família que não queria a cirurgia na filha porque considerava os surdos sic um Povo. Os pais eram surdos e queriam que a filha continuasse surda. E quem dissese que eles eram LOUCOS eles diziam que era discriminação contra os surdos, afinal de contas, surdos são perfeitamente normais. LOL

    No documentário os pais dos surdos(os pais dos pais) chamaram outros ccasais que fizeram a cirurgia nos filhos para tentar convence-los… mas o problema é que não eram surdos. LOL

    rsrsrs, é isso que da propaganda demais pra gente burra.

    O politicamente correto é lindo até ser interpretado por gente burra.

    Aquele positivismo todo do politicamente correto em dizer que o surdo é perfeitamente normal…que não tinha problema nenhum,… que podia fazer tudo e ter uma vida normal… deu nisso.

    Vamos falar a verdade a partir de agora? Que tal?

    Surdo é surdo, um ser imperfeito, quebrado, limitado. e etc…

     

    1. Nao, nao eh.  Como pais eles

      Nao, nao eh.  Como pais eles estao decidindo o futuro da filha e eles NAO querem que ela adquira esse senso.  Eles estao certos.  Voce acha que minha filha eh espirita, ja ouviu conversa espirita de mim ou qualquer outra pessoa, ou tem a menor ideia do que mediunidade eh quando nao existe sociedade preparada para ela, Athos?

      Pois depois do que eu passei e estou passando aas maos do puteiro de governo norte americano, eu tenho certeza que tive e tenho razao quando decidi isso ha uma decada atraz.

      Minha filha nao vai adquirir meu senso porque EU nao deixo.  Ela pode o adquirir de outra pessoa, nao de mim:  EU nao deixo.

      1. Ambos estão doidos.
         
        Estamos

        Ambos estão doidos.

         

        Estamos falando aqui de um SENTIDO e não de uma filosofia, religião ou conteúdo de ensino.

        Vc pode decidir se seu filho pode enxergar ou não?

         

    2. Vc está falando do que nao entende…

      O comportamento desse casal nao é uma idiossincrasia deles, os surdos se sentem como um povo, uma cultura dentro da cultura maior, que tem sua própria língua, inclusive. Ë como se fossem uma tribo indígena, por ex. E quem é você para, de fora, determinar se isso é bom ou ruim? 

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