Jornal GGN – Um pesadelo ronda os australianos, se chama coronavírus, e se traduz em compra de papel higiênico para estoque. A matéria da BBC News, de Sidney, desenha um cenário de pânico em que o cidadão se vê preso no vaso sanitário e descobre que está sem armas para enfrentar o momento.
E a corrida por papel higiênico acontece, mesmo que as autoridades garantam que não há escassez do produto, já que a maioria dos papéis do país é feita localmente. Mas os avisos não ajudam e as prateleiras dos supermercados ficaram vazias, obrigando a imposição de limite de compra por consumidor.
Nas redes sociais, #toiletpapergate e #toiletpapercrisis foram as principais tendências e os rolos do produto estavam bombando nas compras on-line e nas promoções de rádio. A situação chegou a tal ponto que começaram relatos de pessoas roubando papel nos banheiros públicos.
Mas qual o motivo desta insanidade?
A BBC explica que o problema do papel higiênico não é exclusivo da Austrália, que caso semelhante ocorre em Cingapura, Japão e Hong Kong.
Na Austrália começou quando foi anunciada a primeira morte por coronavírus no país. Hoje a Austrália tem registro de 41 casos de Covid-19. E é significativamente inferior aos de outras nações.
O governo tenta orientar as pessoas quanto as práticas de higiene. Orientou, ainda, que tivessem estoque para duas semanas de água e comida, caso considerassem necessário.
Foi neste momento que a demanda por papel higiênico aumentou, e a corrida por ele foi muito mais intensa do que de alimentos de longa duração e outros não perecíveis. Imagens mostravam um verdadeiro frenesi em compras do papel.
As autoridades pediram que o público parasse de comprar neste frenesi de pânico. O diretor médico da Austrália, Brandan Murphy, disse no parlamento que estavam tentando tranquilizar as pessoas, avisando que acabar com o papel higiênico das prateleiras não é uma coisa sensata a ser feita no momento.
Supermercados Coles e Woolworths declararam que há muito estoque, enquanto o fabricante de papel higiênico Kleenex no país disse que agora estava operando linhas de produção de 24 horas para atender à demanda.
Mas o frenesi de compra de papel continua. E impulsionado pelo medo.
Alguns chamam de a crise ‘mais idiota’ que os australianos enfrentaram até agora, já que não é um item que ajude a combater a disseminação do vírus.
Especialistas em psicologia do consumidor dizem que o comportamento é “obviamente irracional”, e um exemplo claro de mentalidade de rebanho estimulada pela mídia social e cobertura de notícias.
A síndrome do FOMO – ou Medo de desaparecer – está em plena força aqui, diz a professora Nitika Garg, da Universidade de New South Wales. “Eles acham que se essa pessoa está comprando, se meu vizinho está comprando, deve haver uma razão e eu preciso entrar também”, disse ela à BBC.
A especialista lembra que isso ocorreu em muitos países asiáticos, mas observa que, na China, havia a motivação diferente, pois “há um pensamento de que o papel higiênico pode substituir tecidos e guardanapos e fazer máscaras improvisadas”.
Usar papel higiênico como recurso médico não está alimentando a demanda australiana até agora, diz ela. A compra local é motivada pelo medo.
Ela sugere que a situação é sem precedentes. Os australianos já estocaram bens domésticos antes, mas isso se deve a um desastre natural como um incêndio florestal ou ciclone, e restrito a certas comunidades.
“Não estamos acostumados a escassez e escassez, estamos acostumados a poder escolher o que queremos, quando queremos. Portanto, a pressa de conseguir papel higiênico é apenas essa mentalidade de ovelha para manter esse status”, diz outro especialista em consumo, Dr. Rohan Miller.
“O papel higiênico realmente não importa – está tão longe na lista de sobrevivência em comparação com outras coisas como comida ou água – mas é apenas algo que as pessoas se apegam como um padrão mínimo”, diz Miller.
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É dito que o medo (e seus assemelhados) é o pior conselheiro que alguém possa ter. A visão turva, a razão se curva, a emoção flui e a reação atua. Quando se está, sob efeito da emoção do pânico, a reação natural é a raiva. E assim a cultura do ódio vai aumentado a cegueira e os frutos comuns são: barbarismo, correrias, escassez e desesperança. É o tempo de “choros e ranger de dentes”, que nem mesmo os seguidores da escritura que afamou a este termo, estão preparados para lidar.