O impacto na saúde da falta de informação das famílias

Se você caminhar pela avenida Dr. Arnaldo em direção ao Hospital das Clínicas de São Paulo, em cima do pontilhão da avenida Sumaré, vai se deparar com essa frase estampada em um muro com grafite: “não prendam os artistas de rua, prendam os políticos corruptos”.

Ela é de nos fazer refletir . . .

Os Professores e a Educação precisam de mais respeito e de mais desvelo de todos nós. Fazendo um paralelo entre Educação e a área da Saúde, a educação é tão ou mais essencial do que uma política de saneamento básico, porque tudo parte de posturas e escolhas bem fundamentadas de pessoas que receberam o mínimo para fazerem seus filhos sobreviverem e por fim entrarem no seleto grupo daqueles que tem opções: opções de vida pessoal, de trabalho, opções de educação superior e opções de saúde.

Procurando trazer uma situação do cotidiano: nessa manhã me perguntaram se uma febre de 39oC é motivo para uma mãe levar seu filho de 2 anos a um pronto-atendimento. Não, não é. Mas a mãe sabe quando seu filho precisa ir ao hospital. Não, não sabe, respondi.

E de quem é a culpa? Da mãe? Da criança? Do médico? Da febre? Essa questão é um ponto crucial na discussão da saúde em geral, porque ele é o nó inicial de grande parte da demanda nos pronto-atendimentos, que em boa parte pode ser atribuída, em sentido amplo, a falta generalizada de educação.

Há décadas sabemos que a população não consegue receber Saúde em quantidade e qualidade suficientes, mas algo mais subliminar também pode ser levantado porque faz parte do cotidiano das equipes de saúde nos postos de atendimento: a dificuldade de compreensão dos pacientes.

Não é simplesmente a falta de vocabulário adequado dos profissionais que causa essa falta de entendimento, pois quando formamos equipes de pós-consulta (vide o Posto de Saúde Geraldo de Paula Souza) com assistentes sociais e/ou enfermeiros especificamente treinados para cuidados quanto a sintomas, situações de emergências, dúvidas não respondidas e locais para aquisição de medicamentos, essa abordagem costuma ser demorada e, em muitos casos, necessariamente com a presença de mais uma pessoa da família. A falta de educação adequada causa dificuldades de compreensão e de leitura angustiantes e que impactam negativamente na saúde de famílias inteiras.

Para uma idéia um pouco mais palpável do poder da educação e seu impacto na saúde, posso citar o caso de uma cidade de Israel, que decidiu diminuir a incidência de cálculos renais em jovens e adultos jovens. Como essa cidade possui clima semi-árido, a incidência de cálculos sintomáticos era importante e causava intenso sofrimento nas pessoas, uma característica bem conhecida dessa doença. Selecionou-se, então, um grupo de escolas e em metade delas instituiu-se um programa educacional cujo objetivo final era fazer com que os adolescentes passassem a tomar mais de 1,5L de água por dia. Ao final da campanha e seguindo os adolescentes dessas escolas, constatou-se uma redução de nada menos do que 9 vezes(!) a incidência de litíase em relação as escolas que não receberam os educadores.

Esse é o poder transformador da educação, seja na formação básica, na área da saúde ou na economia, sem ela os círculos virtuosos que pretendemos programar em qualidade de vida, cidadania, transporte público, cultura . . . estão fadados a pequenez.

Assim, quando uma mãe que não sabe se terá acesso a uma consulta, quando não tem a certeza do transporte de sua casa a um hospital, quando não sabe como reclamar por melhor atendimento e quando finalmente não compreende de maneira adequada mesmo orientações cuidadosas, a resposta correta a uma febre de 39oC não medicada em casa ou sem um banho morno quando o medicamento demora a funcionar, é SIM buscar o Pronto-Atendimento!

No cenário intrigante da vida de cada um, não existe um departamento de saúde, um ministério da educação ou um sistema de promoção cultural independentes. Tudo faz parte da mesma substância que se relaciona dinamicamente em cada ação que tomamos.

É por esse motivo que precisamos de Políticos Estadistas e não de políticos que lutam pelo poder como um fim e um meio.

Enquanto essa postura amarga prevalecer, vamos continuar com professores apanhando do choque e pronto-atendimentos abarrotados de crianças.

“Não prendam os artistas de rua, prendam os políticos corruptos”.

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