Pesquisadores criam kit de detecção de mutações genéticas ligadas a câncer infantil

Jornal GGN – Pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) e do Centro Infantil Boldrini, hospital especializado em oncologia, desenvolveram um kit capaz de detectar mutações genéticas ligadas à ocorrência de diferentes tipos de câncer infantil. O novo método é mais rápido do que as formas tradicionais de detecção de mutações genéticas do tipo, levando apenas quatro horas para chegar ao resultado. Os métodos tradicionais precisam passar por várias etapas e levam até dias para serem concluídos.

Resultado das pesquisas feitas para o doutoramento da cientista Isabela Pereira Caminha, da Unicamp, o kit acabou sendo desenvolvido em consequência do objetivo principal do trabalho: avaliar a frequência da mutação R337H do gene TP53 na região de Campinas que, de acordo com a pesquisadora, está relacionada a um aumento na incidência de câncer em crianças, principalmente o tumor de córtex adrenal (glândula localizada em cima dos rins). Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, esse tipo de tumor registra um número de casos 15 vezes maior do que no resto do mundo.

Ao iniciar a pesquisa, Isabela e outros pesquisadores envolvidos no trabalho se viram diante de um problema. Para ter base estatística na pesquisa, precisariam avaliar mutações genéticas em 30 mil pessoas, mas os procedimentos atuais de detecção são lentos e tornariam o trabalho inviável por conta do curto tempo de que precisariam para concluir a pesquisa. Foi quando os cientistas se debruçaram para criar um método mais ágil. O resultado do trabalho para resolver o obstáculo foi justamente o novo kit.

“A técnica então disponível, conhecida como PCR-RFLP (Polymerase Chain Reaction – Restriction Fragment Lenght Polymorfism) convencional, exigia a realização de várias etapas de análise em cada amostra a ser testada, o que a tornava inviável para um projeto a ser desenvolvido em um curto espaço de tempo. O [novo] kit permite a detecção da mutação do gene TP53 de maneira mais rápida, uma vez que a técnica anterior requer várias etapas, sendo necessários dois dias para ser completada, enquanto a nova é feita automaticamente em uma etapa e leva apenas quatro horas para a obtenção do resultado”, afirma a pesquisadora.

Confiabilidade

Além de ser mais rápido, o novo método, garantem os pesquisadores, é altamente sensível e confiável. “A [técnica] utilizada anteriormente é mais artesanal, dependente da análise visual de operadores, enquanto a nova é automatizada, o que garante maior confiabilidade ao resultado”, explica José Andrés Yunes, cientista do Centro Infantil Boldrini e pesquisador colaborador voluntário da Unicamp. O kit também é mais barato por reduzir os custos envolvidos na análise.

Os pesquisadores explicam que, além dos benefícios técnicos imediatos inerentes ao desenvolvimento do kit, há também uma questão pública importante a ser destacada: a possibilidade de inclusão da detecção da mutação R337H entre os exames feitos em recém-nascidos por meio do “teste do pezinho”.

“O kit permite detectar a mutação do gene TP53 usando pequenas amostras de sangue colhidas em papel filtro para o teste do pezinho. Essa possibilidade torna viável a realização do exame, sem a necessidade de coletar novas amostras de sangue, e propicia a inclusão da análise da mutação TP53 R337H no programa nacional de triagem neonatal”, acrescenta Isabela Pereira. O kit desenvolvido pelos pesquisadores da Unicamp e do Centro Boldrini está em fase de registro de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Mutações

A pesquisa mostrou ainda que, além de ter correlação com o tumor de córtex adrenal, a mutação R337H também está associada a outros tipos de câncer, como o de mama e o de ossos. “Estas doenças são potencialmente fatais. Estudo recente publicado na conceituada revista Journal of Clinical Oncology, por pesquisadores do Paraná, mostra que a detecção dessa mutação permite o diagnóstico precoce dos tumores citados e aumenta as chances de sucesso no tratamento do câncer”, ressalta a pesquisadora.

Redação

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