Saúde ladeira abaixo: dinheiro continuará mal investido?, por César Camara

É fácil elogiar a saúde no Brasil. Nossos índices de saúde vêm apresentando avanços consideráveis e até espantosos nas últimas décadas. A mortalidade diminuiu drasticamente s analisados os últimos 30 anos, o saneamento avançou, a população que mudou-se do campo para o amontoado das favelas tem à disposição melhores condições de saneamento, em 2010 a incidência de tuberculose foi a mais baixa nos últimos 30 anos, com menos de 40 casos por 100 mil habitantes e a longevidade do brasileiro nunca foi tão alta, chegando a 72 anos em média.

Os indicadores monitorados pelas agências internacionais como ONU, Opas, WHO nos revelam avanços nas áreas básicas da dignidade de um povo, mas de forma alguma refletem o nível de sofrimento e desesperança que os cidadãos externam nos hospitais, clinicas e postos de atendimento.

A análise dos indicadores dos últimos 30 anos é muito animadora, mas somente quando a desvinculamos do chão duro e áspero da realidade de quem passa por um momento difícil numa maca de hospital. Nesse momento de provação são freqüentes queixas inumeráveis e fica patente a falta de investimentos com qualidade na área.

Essa questão pode ser mais bem entendida avaliando-se os investimentos do governo em saúde ao longo dos anos. Segundo dados da WHO, o Brasil aplica em torno de 5% de todos os recursos para a manutenção e desenvolvimento do setor de saúde, que mesmo após a queda da CPMF se manteve. E, a despeito de sermos o país que menos investe em saúde na América do Sul (perde da Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Peru), houve inclusive uma elevação abrupta que chegou a 10% entre 2009 e 2012 – provavelmente uma abrupta elevação em 2011. 

A menos que estejam completamente equivocadas (isso também acontece), as agências internacionais que monitoram a saúde no Brasil, não detectaram queda do investimento. De fato, ele vem aumentando de acordo com o crescimento de nossa economia.

Nessa época pós CPMF em que houve aumento de recursos disponíveis, não se pôde observar maiores investimentos ou mesmo alguma boa intenção em planejar um futuro mais venturoso aos nossos irmãos desassistidos pelo Brasil a fora. Mas o contrário parece ter ocorrido: houve a não utilização de mais de 14 bilhões de reais – conforme denúncia do Conselho Federal de Medicina em 2013 – que estavam disponíveis para uso no ano de 2012! Houve o efetivo fechamento de leitos hospitalares do SUS, as Santas Casas chegaram ao limite de suas capacidades de sobrevivência e não há notícia de qualquer aplicação de recursos em programas de saúde brasileiros consistentes que pudessem amenizar as condições de acesso saúde ou de atendimento da população.

A prova de que nossa saúde vai de mal a pior veio em 2013. A população reprovou veementemente a qualidade de nosso sistema. Segundo relatório da ONU: apenas 44% da população aprova a saúde do Brasil, contra 57% em média da América Latina. Nesse relatório estamos a frente apenas do Haiti, um país destruído pela tragédia natural que o atingiu.

Alguma outra conseqüência desastrosa causada pela falta de articulação e de visão de nossos governos? Existem sim; talvez a mais palpável e que possa servir como um exemplo marcante seja a divulgação do relatório da ONU sobre o controle da AIDS no Brasil.

Nosso país já foi referência mundial no controle e no acesso ao tratamento do HIV, mas nos últimos oito anos, enquanto países como México e Peru reduziram a infecções pelo vírus em 39% e 26% respectivamente, o Brasil foi o único país das Américas que apresentou crescimento do número de infecções, com aumento da ordem de 11% entre 2005 e 2013. Nesse mesmo período, as infeções por tuberculose também aumentaram 7% e, seguindo com as más notícias, dados da WHO revelam que os já parcos recursos internacionais para auxílio no combate a essa condição, abandonaram o Brasil em 2012.

A abrupta elevação da curva de dispêndios de recursos que ocorreu em 2009, 2010, 2011 e 2012(provavelmente em 2011), não resultou em efeitos práticos relevantes a população, ao contrário. Isso nos questiona fortemente a tese da alocação de mais recursos para a saúde sem vinculá-lo a um sério e formal processo de discernimento do que é necessário para mínimos avanços na área.

Os menos incautos, contudo, podem citar que o avanço da saúde no Brasil está por vir como o programa Mais Médicos. Esse programa, contudo, revelou certo autoritarismo do governo e quebrou importantes regras até então vigentes em nosso país, ele foi arquitetado de forma obscura e sem discussão apropriada com as lideranças de saúde brasileiras e houve uma clara “ajeitação” de nossa legislação para tolerarmos trabalhadores sem qualificação comprovada, recebendo apenas uma parte do salário e sem qualquer direito trabalhista previsto. Apesar de certamente auxiliar populações carentes em necessidade, carimba o selo da incompetência de nosso país, incapaz de pensar em forma mais honesta, consistente e coerente para amenizar essa necessidade.

Ademais, o programa tem duração de apenas 2 anos (4 no máximo) e caso não ocorra uma nova quebra de confiança por parte do governo, os médicos de Cuba retornarão ao seu país em poucos anos… E o que houve de melhora concreta e duradoura? Certamente não será a abertura de centenas de vagas em novas faculdades de medicina sem condição adequada de formação ou de capital humano para o treinamento de profissionais competentes.

Se aprofundarmos um pouco o tema, também constataremos que o Brasil em 5 anos terá mais médicos do que o recomendado por qualquer instituição internacional. Esse novos profissionais, por outro lado, certamente continuarão concentrados nas capitais e no sudeste. No Canadá, EUA, Inglaterra, Nova Zelândia e em muitos outros países há falta de médicos sobretudo em zonas rurais. Nesses países, contudo, há uma política formal de atração de médicos locais e estrangeiros, que fixa tais profissionais em regiões de maior necessidade. Essa política inexiste no Brasil, de modo que cada profissional se fixa livremente nos locais com as melhores condições de segurança e de desenvolvimento pessoal e familiar oferecidos, geralmente encontrados nos centros das grandes cidades.

Por outro lado, o Brasil possui número superior de enfermeiros e técnicos de enfermagem do que a média mundial. Qual foi o plano para mais bem aproveitar esses profissionais tão relevantes aos cuidados da população? E a custo substancialmente menor sem necessidade de evadir divisas. A impressão é de que a política vem pervertendo as políticas públicas de saúde no Brasil.

Além disso e saindo um pouco dos fatos concretos, há a desesperança. É inimaginável (seria fabuloso até) que encontremos políticos imbuídos pelo espírito, ainda que pouco inovador, mas honesto, de ao menos desenvolver as bases da saúde que já existem, seja solidificando o sistema básico onde já existe e fundamentando-o onde ainda é necessário, ou valorizando a integração dos sistemas primário, secundário e terciário, pela priorização do papel do sistema secundário em microrregiões pré-determinadas.

O esforço em melhorar essa relação entre os diversos níveis de atendimento no SUS demandaria avanços em todas as áreas: mais médicos, mais gestão, mais recursos, mais equipamentos… Seria um norte que atualmente inexiste. Um norte talvez pouco atrativo aos nossos governantes, mas necessário ao povo esgotado de nosso país.

Redação

13 Comentários

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  1. Hum, Cesar Camara..nao precisa falar mais nada..

    Como todos ja sabem, o autor é da estirpe do David Uip et caterva e foi um dos que meteram o pau no Mais médicos…Pra que ler isto? Gente, me economiza!

  2. Nota DEZ.
    Post completo sobre

    Nota DEZ.

    Post completo sobre o assunto. Será muito profícuo que os candidatos a presidente o vejam e aprendam opções de melhora, sem paliativos eleitoreiros.

     

     

     

  3. Saúde

    Cesar Camara,

    Texto que parece ter sido encomendado.

    Sobre a denúncia do CFM com respeitos aos R$14 bilhões, seria interessante que você melhor detalhasse a tal denúncia, para que se possa emitir opinião (confesso que não ouvi falar sobre isto).

    O CFM teria que ter se manifestado com ênfase na questão dos repasses à Santa Casa que foram represados pelo governo paulista, assim como fez em relação ao excessivamente criticado Mais Médicos- afinal, um traz médicos, o que é muito bom, pois médico brasileiro só gosta de tratar de bacana, e o outro sonega $$$, muita $$$, e nenhum protesto do referido Conselho. Quanto ao Programa que você detesta, trouxeram para o blog o programa do Globo Rural, dê uma olhada rápida e verá a melhora obtida, que poderá vir a ser concreta se o Programa não for sabotado.

    Como anda a Saúde- Na semana passada, um sobrinho teve uma crise (apendicite) durante a noite, então a mãe, médica, o levou a uma casa de saúde, mas o médico só chegaria por volta das 8 da manhã; minha prima foi para outra casa da saúde em Copacabana, onde foi constatada a emergência da situação, mas não poderiam operá-lo porque o plano de saúde não continha operação de emergência, e pediram para aguardar uma ambulância de duas a quatro horas. Minha prima fez uma alta à revelia e levou o filho para outra clínica em SantaTeresa, Hospital Silvestre, onde foi prontamente operado. No mesmo dia, uma jovem morreu no RJ por causa do mesmo problema, demora acentuada para uma apendicite, o CFM já tomou alguma providência sobre esta lambança?

    Isto foi no RJ, zona sul maravilha e com plano de saúde na mão, imagine no interior do Pará ou coisa que o valha, num destes lugares que médico se recusa a trabalhar, é morte certa. 

    Sobre comparações do patropi com países que cabem com folga no estado do Mato Grosso, não faz qualquer sentido. 

  4. Senhores: me assusta mais a

    Senhores: me assusta mais a saúde dos convênios privados do que  a saúde oferecida pelo SUS. Enquanto nossos médicos não lutarem pela prevenção das doenças e não só pela cura, e rifarem suas comissões sobre indicação de medicamentos de laboratórios capitalistas, não haverá recurso que seja suficiente. Por isso, o grande programa MAIS MÉDICOS, é a solução, pois nesse programa os médicos trabalham para a prevenção e não são coptados por laboratórios querendo, com a doença já instalada, aumentar seus lucros.

  5. Ele esquece de mencionar que

    Ele esquece de mencionar que existe uma pirâmide de ingerência no processo. Os recursos saem do governo federal conforme legislação e são geridos nos estados e  nas prefeituras, onde infelizmente não parece ser prioridade.

  6. Texto tendencioso

    As informações contidas no texto são especulativas e o texto inclusive é confuso e mal escrito. Desculpe a ignorância mas quem é César Camara?

  7.   E NEM UMA LINHA sobre o

      E NEM UMA LINHA sobre o subsídio do SUS aos hospitais particulares?

      Já entendi de qual cepa vem o texto. Não, obrigado.

  8. Que coisa heim ? E os srs.

    Que coisa heim ? E os srs. médicos que são os “chefes” de tudo o que se relaciona à saúde no Brasil, não têm nenhuma responsabilidade nisto? Permitem que seus “colegas” assinem o ponto e vão-se embora, não comparecem aos plantões e muitos não tem nem a dignidade de avisar os funcionários da enfermagem. Estes sim, que muitas vezes carregam o serviço de saúde nas costas e ainda tem de ouvir os protestos dos pacientes e acompanhantes. Será que ele não viu o vídeo dos médicos deitados e dormindo num plantão, enquanto os pacientes, pacientemente esperavam por atendimento. Se estão cansados por terem  3 ou 4 empregos, eles quiseram assim, pq acham impossível viver com R$15.000/mês. Como poderão construir suas mansões? ter seus carros de luxo ? se é por isto que muitos fizeram medicina. Vocação ? que vocação? aliviar o sofrimento do próximo?  ajudar os mais necessitados ? kkkkkk Mas somente o governo não presta e é o culpado de tudo, como fica fácil ?

  9. Ave Maria… o blog aqui tá

    Ave Maria… o blog aqui tá perdendo a qualidade.. esse Cesar Camara é mais um falastrão que tentou como pode boicotar o Mais Médicos.

     

    Além disso o texto está recheado de inverdades. O Brasil não está nem perto de atingir a média de méidicos recomendada, levará 20 anos para isso. Mesmo com todo o esforço do governo em ampliar vagas de faculdade e residência.

    Sem contar que qualquer um sabe que o SUS está subfinanciado.. enfim, GGN, esperamos mais.

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