Alexandre de Moraes beneficia o tráfico ao minimizar guerra entre facções

Jornal GGN – Ministro da Justiça do governo Temer, Alexandre de Moraes classificou como “mera bravata” a crise no sistema prisional e a guerra deflagrada entre as duas maiores organizações criminosas do país. Em Rondônia e Roraima, foram dezoito detentos mortos, 22 feridos e dez desaparecidos em questão de 24 horas, além de casos no Ceará, Sergipe, Acre, e outros estados brasileiros.

De acordo com Ministério Público de São Paulo, o conflito entre o Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital começa em2015, após integrantes do CV em Roraima, Rondônia e Acre se aliaram à facções rivais do PCC. Ao minimizar o problema, o ministro segue a mesma linha de Azevedo Marques, ex-secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, que, nos anos 90, afirmou que a existência do PCC era “uma fantasia”.

Leia mais abaixo:

Do The Intercept

Alexandre de Moraes minimiza guerra entre CV e PCC e acaba beneficiando o tráfico

Cecilia Olliveira

DEZOITO DETENTOS MORTOS, 22 feridos e 10 desaparecidos em prisões deRondônia e Roraima em 24h, presos “jogando bola” com a cabeça de rival em Fortaleza, 25 homens armados tentando invadir um presídio no Acre e, por isso, centenas de presos do semiaberto liberados e quatro feridos,transferência de quase uma centena de presos. Os últimos dias têm exposto problemas jogados para debaixo do tapete pelas autoridades há anos: o domínio das facções sobre o sistema penitenciário superlotado e subcontrolado do país e seu impacto real na segurança pública em todos os estados.

A ruptura da aliança de anos entre Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital pode reconfigurar o mapa do crime organizado dentro e fora das prisões e fazer o sangue chegar a muitas portas país afora. O Primeiro Comando da Capital agora quer ser amigo dos Amigos dos Amigos. É o bonde PCC-ADA sem freio.

A existência do PCC não passa de uma ficção, uma fantasia“. A frase proferida pelo então secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, João Benedito de Azevedo Marques, no início da década de 90, é um exemplo de como a segurança pública é planejada: à base da negação dos fatos.

Apesar de “não existir”, desde o primeiro estatuto do PCC, escrito entre 1996 e 1997, a ideia de aliança com o CV transpareceu. O lema da facção paulistana é o mesmo da carioca, criada em 1979, no presídio de Ilha Grande: “Paz, Justiça e Liberdade“. Mas não por afinidade ideológica, mas, sim, por conveniência e mercado. Eles firmaram uma espécie de consórcio para a compra de drogas e armas no Paraguai, Colômbia e Bolívia.

O PCC, que domina, além do tráfico de drogas, uma série de negócios com verniz de legalidade — comopostos de gasolina e cooperativas de vans em São Paulo —, acha o CV muito violento e que isso atrapalha os negócios. E também já se aventura na política, financiando candidatos.

No vácuo da negação, o Primeiro Comando da Capital nasceu, em 1993, cresceu e se fortaleceu dentro do sistema prisional paulista. Consolidado, fez aliança com a mais antiga facção do país, o Comando Vermelho. Agora presente em todos os estados do Brasil e na Argentina, no Peru, na Colômbia e na Venezuela, muda de lado.

Quando um problema não é admitido, não é necessário fazer planejamento sobre o que “não existe”. O resultado é como em 2006: São Paulo sitiada e quase 600 mortos em quinze dias. A apuração dos crimes foi duramente criticada por suas falhas, os casos — registrados como resistência seguida de morte — foram arquivados três anos depois, reabertos este ano e agora, podemos estar prestes a assistir um revival.

Mera bravata.” Esta é a leitura — irresponsável — que o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, faz da atual situação dos presídios. E ele não está só. A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro também negou que houve ruptura de aliança entre as facções. É Azevedo Marques fazendo escola. Moraes afirmou ainda que “não há nenhuma informação de inteligência” sobre o orquestramento de rebeliões.

O ministro persiste no erro comum de onde vem — e onde ganhou experiência — e ignora, por exemplo, que o Ministério Público de SP apurou que o conflito entre CV e PCC começou em 2015, quando presos do CV em Roraima, Rondônia e Acre se aliaram à Família do Norte (FDN) e a outros grupos rivais ao Comando da Capital. Segundo o MPE, há cerca de 200 a 300 integrantes do CV espalhados em penitenciárias paulistas dominadas pelo PCC.

De acordo com o procurador de Justiça de SP, Márcio Sérgio Christino, a relação entre as facções estremeceu depois do assassinato do empresário e traficante Jorge Rafaat Toumani, de 56 anos, em Pedro Juan Cabalero, fronteira entre Brasil e Paraguai, em junho. Rafaat foi morto em emboscada com cem mercenários comandada pelo PCC, que passou a ter mais poder que o esperado pelo CV. Isso porque, com a morte do “rei do tráfico”, o PCC pode tomar o poder sobre essa região chave para a importação, e assim tomar controle de toda a cadeia de produção, comércio e distribuição de drogas. Uma mina de ouro.

O “salve” encaminhado pelo PCC aos membros espalhados em presídios diz que o CV o desrespeitou, matando pessoas ligadas ao grupo e se aliando à facções inimigas no norte do país:

“A cerca de três (3) anos buscamos um dialogo com a liderança do c.v nos estados, sempre visando a Paz e a União do Crime no Brasil e o que recebemos em troca, foi irmão nosso esfaqueado e Rondonia e nada ocorreu, ato de talaricagem por parte de um integrante do cvrr e nenhum retorno, pai de um irmão nosso morto no Maranhão e nem uma manifestação da liderança do cv em prol a resolver tais fatos.

Como se não bastasse, se aliaram a inimigos nossos que agiram de tal covardia como o PGC que matou uma cunhada e sua prima por ser parentes de PCC, matarão 1 menina de 14 anos só por que fecahava com nós.”

A negação dos fatos permitiu que o PCC se espalhasse nacionalmente, bem como permite, agora, os mandos e desmandos nas penitenciárias e, inclusive, no impacto nas taxas de criminalidadefirmando acordos de paz e mudando o ritmo de vida em municípios inteiros.

Moraes anunciou nesta segunda, dia 17, que prepara um Plano Nacional de Segurança Pública, a ser lançado em novembro. Se o plano não previr ações mais efetivas do que se munir de facão para cortar pés de maconha no Paraguai, com o reconhecimento da gravidade da situação, a admissão da guerra nacional de facções e a revisão da legislação sobre drogas, maio de 2006 será café pequeno.

Redação

14 Comentários

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  1. É incrível como cada
    É incrível como cada componente desse governo golpista representa tão bem o governo e espelha o seu chefe maior, RIDICULOS e CANALHAS.

  2. alexandre….

    Nesta o excelentissimo acertou sobre seu ministério: “não há nenhuma informação de inteligência”. É o Poder Judiciário e policial de SP que chegou ao Planalto. PCC? Que PCC? Juiz paulista condenando as vitimas por morrerem soterradas nas obras da privataria do Metrô. Desembargador soltando traficante preso em flagrante. Desembargador recebendo fortunas como antecipação por sua vida que supostamente durará 200 anos. Desembargador condenando as vitimas pela chacina do Carandiru. Desembargador acusando toda imprensa de ser financiada pelo crime organizado. Desembargador de SP sendo processado por venda de sentenças. E outro já cumprindo pena por esta causa. Policia condenada por violência desproporcional nas manifestações de rua. Delegacias de toda ordem enterradas até o pescoço na cumplicidade com o crime organizado. A última foi a Delegacia de roubos de carga. E o Minsitro insinuando que o que acontece no país é fantasia. 100.000 assassinatos. 98% não esclarecidos. Terra de Ninguém, Fantasia é um país ter certas figuras como Ministro. 

  3. historia repetitiva

    Engraçado, como a história se repete: a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa política, já dizia o velho Karl Marx. Na verdade estamos,  refém de um mesmo  discurso,  que outrora já foi minimizado, pelo ex-secretário da Administração Penitenciária Azevedo Marques, , nos anos 90 como diz o texto. Quem não conhece  o  livro  Cobras e Lagartos’, de Josmar Jozino  baseado em suas investigações? Quem não conhece o Livro de Camila Nunes Dias Pcc – Hegemonia Nas Prisões e Monopólio da Violência? Quem não se lembra dos ataques do PCC Iniciados na noite de 12 de maio de 2016?

    Infelizmente “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”

  4. Muito oportuna as rebeliões!!

    Precisamos pensar se não são bastante oportunas essas revoltas de presos – um começo, apenas? Elas caem como uma luva np mpmento em que forças obscurantistas querem envolver as Forças Armadas na segurança interna… Me lembrei de outras oportunidades – um exemplo os saques a supermercados na epoca do Brizola no Rio de Janeiro. Fiquemos atentos…

  5. A meu ver, está se dando

    A meu ver, está se dando importância demasiada às platitudes desse governo de cretinos. A todo momento o bosta desse skinhead de merda aparece na ttv com o fucinho de alucinado, falando merda como porta-recados do núcleo golpista. O temer é tão estúpido que mantém um merda desse falando em nomo da quadrilha. Chama o alexandre garcia! Oh imbecil. Ao menos, o idiota do A. Garcia, além de xará do skinhead sabe falar português.

    Orlando

     

  6. Para onde vamos…

    Homem forte no governo temer…

    Já era para ter caído…

    Se isso for verdade, é bem pior que apenas o país voltar a criar pobreza, via corrupção e incompetência…

    Por que são incompetentes! Tiveram 6 meses de interinidade e até agora o que pensaram para reduzir o desemprego?

    Vender ativos da Petrobrás e propor medidas para retirar direitos?

    E agora isso…

    O primeiro pais governado pela corrupção e agora junto com a bandidagem liberada…

    Lascamos todos…

     

     

  7. Moraes é uma fraude
    Non ducor duco é o lema do PCC em relação ao Governo de SP.

    Há uma série de reportagens do El País desenhando essa guerra entre as duas facções, que já chegou em SP, no Presídio de Franco da Rocha. Alckmin negou.

    O cenário é estarrecedor.

  8. Tá dominado, tá tudo

    Tá dominado, tá tudo dominado. Agora vai ficar bom para os irmão…..

    E  o plano de segurança nacional não é para os irmão não. É para manifestante de esquerda.

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