As UPPs e os traficantes de cerveja

Por Zeus
 
E se um dia, por obra de um legislador radical, ainda que imbuído das “melhores intenções”, mas orientado por uma “vocação religiosa monolítica”, e outras concepções morais tão extremadas quanto distorcidas, nós passássemos a considerar que o álcool seria droga proscrita?
 
Bem, diz o ditado que inteligência é aprender com os próprios erros, e sapiência é aprender com os erros alheios.
 
Os EEUU, não mais poderosa do mundo nos dias atuais, e que na época já despontava com promissora potência, tentou banir o uso, comércio e produção da mais popular substância de alteração de estado de consciência, o álcool.
 
Desnecessário dizer o que se deu.
 
Mas o ponto crucial ou o primeiro deles, é entender que as decisões sobre o uso ou proibição de uso de drogas não é, infelizmente, quase nunca pautada em critérios científicos ou em debates honestos.
 
Que fique claro: toda sociedade tem o direito de pautar e tratar o assunto a sua maneira. O problema é que a intrincada rede global de interesses geopolíticos, a intensa conexão internacional de mercados e países, tornou impossível abordar o tema de forma estritamente nacional.

 
Políticas mais moderadas ou liberalizantes em um país tendem a criar embaraços gigantes na estrutura de combate de outros, e vice-versa, quando não raro usuários se deslocam para onde são bem-vindos.
 
Outro ponto: em todas as sociedades, de cima a baixo na pirâmide, o uso de drogas assume traços lúdicos, rituais, terapêuticos, etc. E em todas as modalidades de uso há abuso, onde temos padres alcoólatradas por excesso de exposição ao vinho ritual (tratados em clínicas no interior de SP), elevados índices de automedicação em drogas psicoativas (inclusive co incentivo do mercado farmacêutico em associação com médicos), e a adicção pelo uso lúdico.
 
E estes fatores incidem, como vemos, sobre drogas lícitas (álcool, nicotina, etc) e ilícitas, que por sua vez, trazem enormes impactos aos sistemas públicos de saúde, segurança, previdência e economia:
 
a) sistemas hospitalares de atendimento de urgência/emergência (alcoolemia ao volante);
 
b) sistemas de previdência e seguros (afastamento por dependência, doenças decorrentes, como câncer de pulmão, cirrose, etc, pensões e auxílio-doença por mutilações e lesões de incidentes, etc);
 
c) sistemas de segurança (violência doméstica, acidentes de trânsito, homicídios fúteis, etc);
 
d) economia (faltas ao trabalho, gastos orçamentários para prevenção e programas de readaptação, degradação de paisagens urbanas, etc).
 
Então, debater estes temas é legítimo a toda sociedade, que deve escolher quais impactos quer manter ou tentar afastar.
 
Mas é preciso inteligência.
 
Está claro que a mera probição não inibe o uso, porque temos a esfera pessoal de decisão (intocável), e que não arrefece diante da ameaça estatal, às vezes, funciona como um propulsor de contato com novas susbtâncias, onde a esfera marginal de uso possibilita contato com outros produtos.
 
Por outro lado, do ponto de vista público e social, fica evidente que NENHUM país do mundo deu conta do tráfico de drogas e todos os crimes adjacentes (lavagem de dinheiro, associação, armas, etc).
 
Ao contrário: experimentamos uma espiral de violência, que assola desde as ruas das periferias de países periféricos, até os centros de mundo.
 
Porém, a divisão internacional da violência vem em escala proporcianal a riqueza, como são todos os impactos de atividades econômicas lícitas ou não, ou seja, os mais ricos têm mais benefícios e os mais pobres o desastre.
 
Seria engraçado senão fosse cômico o fato de que nos matemos para que holandeses e estadunidenses possam cheirar e usar maconha em países seguros (com menos de 10 mortos por 100 mil habitantes), e por isto ainda dediquemos enormes parcelas dos nossos orçamentos para comprar armamentos que eles nos vendem.
 
E para tratar no senso comum estes absurdos que passam propositadamente despercebidos, temos toneladas de contrafações, mistificações, etc.
 
Agora imaginem: Qual é a atividade que mata 40 mil por ano, fere 128 mil (entre aleijados e hospiatlizados temporrários), e provaca 1 em cada 3 registros de ocorrência nas delegacias do país?
 
Cocaína? Codeína? Heroína? Maconha? Haxixe? LSD? Ecstasy? Ácido? O monstro do pântano, o crack?
 
Não. 
 
É o álcool.
 
E se de posse deste assombrosos números partíssemos para uma campanha para banir o álcool?
 
Você já se imaginou na “boca de birita”?
 
Como ficaria a qualidade do produto? Whisky “malhado”? Já pensou. E cerveja “melada”?
 
A proibição tem um custo adicional de saúde pública, para além da impossibilidade de controlar a qualidade do que é consumido, mas também traz o efeito de que, como sempre, os mais ricos acessam os melhores produtos quase sempre, onde o mercado se especializa em produtos “prime” e “subprime”.
 
Mas voltemos ao raciocínio:
 
Já pensou o botequim preferido, onde há um clima de camaradagem, algum conflito por um ou outro desajustado, meninas bonitas, comida legal, se transformar em um lugar sombrio, sujo e sujeito a ação violenta de policiais treinados para enxeragar o usuário e o comerciante-traficante como um inimigo a ser eliminado?
 
Como ficaria o seu bairro?
 
Em outra escala há se perguntar: Para onde iria o orçamento das cervejarias? Você imagina que eles iriam migrar de atividade? Uns sim, mas a grande maioria não!
 
E aí? Onde ficaria este dinheiro? Em colchões ou em bancos?
 
E as disputas comerciais pelos pontos de venda? Seria tudo uma questão de marketing?
 
Planilhas, prospecções de marcado, gráficos…trocados por fuzis…
 
É um universo parapelo a se pensar…que tal?
 
Redação

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. “Só que no Brasil, já faz

      “Só que no Brasil, já faz tempo que as principais marcas trocaram o milho por ela”:

      Yara, eu tenho uma antipatia TAO GIGANTESCA dessa merda de “derivados” de milho que os americanos colocam em praticamente tudo que nunca compro absolutamente nada que diz “amido de” ou “xarope de” nos produtos aqui:  eles colocam essa porcaria ate em salsichas kielbasa e hot dogs!  Sim, tem em acucar liquido de casa de cha, em carne, em milk shake, em boinhas de frango de MacDonalds, em…

      A coisa pegou no Brasil e nao vai ficar melhor nao?!

      Pois so vai piorar sem regulamentacao.  Ha poucos dias compramos um doce de leite “100% brasileiro” que nao tinha nem consistencia nem gosto de doce de leite, a marca eh “Reserva de Minas” e tou apostando que ate mesmo a “mineiridade” desse produto eh falsa.

      Ao discutir sobre isso, minha esposa me disse (e eu nao acreditei ate ler, razao da discussao) que o tal “doce de leite cem por cento brasileiro” tinha ambos xarope de milho e amido de milho -ou maizena.  Fui ler o rotulo e era verdade…

      Se os brasileiros comecarem a engordar igual capados ou americanos, nao diga que eu nao avisei.  Eu evito praticamente TUDO que tem “xarope de milho” ha decadas.  Sou majerrimo.  (meu peso nunca se modificou, alias, mas nao foi por acidente cosmico, eu evito esse aditivo em particular)

  1. a proibição causa muito mais

    a proibição causa muito mais dano do que as próprias drogas proibidas, especialmente porque ela causa danos a toda a população e não apenas a quem é usuário.

  2. Muito bom o texto.
    Até quando

    Muito bom o texto.

    Até quando vamos patinar em políticas proibicionistas, que além de ineficazes e hipócritas são combustível para a violência e corrupção?

    Já passou da hora desse assunto ser objeto de debate maduro e despido de preconceito.

  3. Sem querer desmerecer o

    Sem querer desmerecer o conteúdo do artigo e já deixando claro que sou absolurtamente a favor de tratar o tema das drogas sem qualquer hipocrisia, registro que não tem comparação entre álcool e as drogas ilícitas. E tudo por uma questão da essência entre elas. Ou alguém imagina que alguém se drogue sem querer ficar drogado? Enquanto que, no que se refere ao álcool, qualquer pessoa pode beber sem querer ficar alcoolizado e, principalmente, sem ficar alcoolizado. Esse efeito colateral, o ficar alcoolizado, vai depender da quantidade que for tomada. Já quanto às drogas ilícitas, tanto faz vc fumar um cigarro de maconha ou 10, cheirar uma carreira de coca ou 10, fumar uma pedra de crack ou 10, de der um pico de heroína ou 10, vc ficará drogado do mesmo jeito. O 10 aí colocado só vai lhe fazer ter uma overdose…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador