Maioria da população tem medo da PM, por Luís Francisco Carvalho Filho

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Para o advogado criminal Luís Francisco Carvalho Filho, a última pesquisa do Datafolha sobre violência mostra que a imagem da Polícia Militar é equivalente ao preparo dos policiais para enfrentamentos. 
 
“Trata todos como suspeitos. Quanto mais distante do olhar crítico da imprensa, quanto mais afastada do centro geográfico das grandes cidades, mais excessos, mais truculência. O país se acostumou e vê com certa naturalidade tiroteios, batidas indiscriminadas, humilhação e prisões para averiguação”, entende.
 
Por isso, não vê surpresas no resultado de que a maioria da população (59%) tem medo de agressões da PM, índice ainda maior entre os jovens de 16 a 24 anos, chegando a 67% dos entrevistados.
 
Leia também: Maioria dos brasileiros acredita que bandido bom é bandido morto
 
Por Luís Francisco Carvalho Filho
 
A polícia de ponta-cabeça
 
Na Folha de S. Paulo
 
Não é surpreendente o resultado da pesquisa realizada pelo Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública: além de temer criminosos (o Brasil tem um dos mais elevados índices de homicídio do planeta), a maioria da população (59%) tem medo de agressões da PM. O número cresce (67%) entre jovens de 16 a 24 anos.
 
A Polícia Civil, com a imagem historicamente comprometida pela corrupção, também gera medo em 53% dos entrevistados.
 
A PM é preparada para enfrentamentos. Trata todos como suspeitos. Quanto mais distante do olhar crítico da imprensa, quanto mais afastada do centro geográfico das grandes cidades, mais excessos, mais truculência. O país se acostumou e vê com certa naturalidade tiroteios, batidas indiscriminadas, humilhação e prisões para averiguação.
 
Outro resultado da pesquisa do Datafolha, aparentemente contraditório, ajuda a explicar o sentimento de insegurança: 57% dos entrevistados concordam com a frase “bandido bom é bandido morto”. O número cresce em cidades menores e na população com menos escolaridade. Neste círculo perverso de violência, “bandidos” se confundem com “não bandidos” simplesmente porque se parecem com “bandidos”.
 
Se o Brasil está cansado da impunidade, o que estimulou a festejada decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da prisão do condenado após o julgamento de segunda instância (antes, portanto, do veredicto judicial definitivo), em relação a abusos de autoridade a intolerância deveria ser ainda mais drástica. Mas não é.
 
Policiais envolvidos em ocorrências graves não deveriam ser imediatamente afastados? Permanecem nas ruas. Para a pessoa comum, as corregedorias são escritórios de intimidação. No Judiciário, a palavra de policiais prevalece, quase sempre, quando há confronto de versões. No Parlamento, a bancada da bala se fortalece e defende interesses corporativos. A lei de abuso de autoridade do regime militar, ainda em vigor, é incapaz de punir as violações das liberdades constitucionais.
 
O número de mortos pelas polícias no Brasil em 2015 cresceu 6,3% em relação a 2014. Foram 3.345 mortos pelas forças de segurança, nove indivíduos por dia, a maior parte (45% dos casos) concentrada no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Tenho ódio da polícia”, diz a mãe de uma vítima ouvida pela reportagem da Folha.
 
A guinada do Brasil para a direita é componente novo. A Justiça da Infância e da Juventude de Brasília autorizou o uso de estratégias inusitadas para a desocupação de escola em Taguatinga, inspirada, talvez, em Guantánamo: privação do sono e da alimentação. É assim que se enfrenta movimento estudantil, certo ou errado, justo ou estúpido?
 
Em Santos, a PM interrompeu encenação de peça teatral (“Blitz – O império que nunca dorme”), algemou e prendeu um dos atores por considerar o espetáculo em praça pública uma “afronta” à corporação (os atores usavam fardas) e também pelo desrespeito a “símbolo nacional”, a bandeira brasileira hasteada de ponta-cabeça.
 
Uma coisa nada tem a ver com a outra? Talvez. De ponta-cabeça está a polícia, que mata e assusta demais. Além do latente despreparo psicológico das tropas, a veia autoritária dos seus comandantes encontra mais espaço para prosperar. 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. O que são esses programas de pulicia 24 horas?

    É o fim da picada… programas em que policiais são atores de atrocidades as mais diversas para o deleite de sádicos e hipócritas e um belo patrocínio de redes de televisão. E o pior é que ninguem faz nada contra este absurdo de imbecilização do ser humano. 

  2. PM sp

       A imagem ja traduz a politica de segurança publica do alckmin minusculo mesmo e´´ um FACISTA

    SEIS BRUTUCUS poderiam conter o cidadao mas NAO COMO COVARDES poem o sujeito na RODA e surram a VITIMA

    ja assistimos isso muitas vezes em Sao Paulo

     

  3. Gente, eu ja vi isso tudinho.

    Gente, eu ja vi isso tudinho.  Policias militares te agridem sem razao e policias civis de NY falam ingles igual putas de 5 dolares.

    Ja vi isso tudo.

    Eu prefiro putas de 5 dolares a policias militares do Brasil.

    Aas maos dos quais ja fui agredido sem razao por 3 vezes, como eu ja relatei inumeras vezes -eu tenho razao pra inventar isso e o sustentar por mais de 10 anos na internet?

    Aonde tem policia militar a populacao pobre esta absolutamente FU DI DA, ok?  Nao eh so no Brasil, eh no mundo inteirinho.

    Eles sao podres.

  4. Fico indignado é com a
    Fico indignado é com a alegação de “despreparo psicológico” da polícia. Qual quê?! Policiais, da PM ou civis são sim, muito bem preparados pra agirem da forma como agem. Eles sabem dissimular seu comportamento estando longe das câmeras. São treinados para parecerem santos, vítimas de um sistema que os deixa “estressados” e os força a agir de forma irregular, aquém de suas prerrogativas e de sua vontade pessoal. São ruins, mas não são assim o tempo todo. É o sistema, coitados que os deixa violentos. Como se o cabra não gostasse do que faz.
    Mesmo os que admitem necessidade de mudança, usam da mesma alegação paternalista com os policiais, como se as vítimas fossem eles. Isto, todo mundo sabe nas periferias, é absolutamente falacioso. Os caras tem os argumentos na ponta da língua para intimidar o cidadão. Sabem de que lado estão (do lado de quem paga mais) e não perdem a cabeça quando se faz necessário. A cartilha “Caminho Suave” de dissuasão é muito bem decorada: “Senhor, sabe o nome do meliante? Sabe o RG? Sabe o endereço do criminoso? Cuidado, o que o senhor falar pode ser usado contra o senhor. Falar mal da Polícia é desacato. Só vamos atender mediante a sua presença no local. A gente não faz segurança particular, entendeu? Você denuncia e depois, como fica sua segurança? O que o senhor tem feito pra mudar esta realidade? Você mora neste bairro, vai dizer que não é bandido? Desde quando você usa droga, seu nóia??? Isto aqui,ó, é pra X9, seu fdp! Cala a boca senão te prendo e te desovo, zé povinho!” E outras lições que eu, pessoalmente, já aprendi depois de ter de recorrer as “otoridades”.
    Vão dizer que sou radical, que endemonizo a polícia, coisa e tal. Mas, só quem já viu o sujeito de farda junto com os “manos” dando tiro pro alto e gritando “é nóis!” pode ter certeza do que fala.

  5. Para mim continua vigorando

    Para mim continua vigorando do conselho de tia Diola, quando, em 1953, sai de minha terra para trabalhar em BH: ” todos os dias, antes de sair de casa, reze um Padre-nosso, uma Ave-Maria e um glória ao Padre pra Deus de livrar de assalto, de atropelamento e da Polícia Militar”. Pura utopia mas seria tão bom se a gente pudesse prescindir da zelosa proteção de nossos militares.

  6. Como a maioria da população,

    Como a maioria da população, os únicos contatos que já tive com polícia e afins foi para registro de BO por perda de documento e polícia de trânsito (não sei o nome que se dá a agentes de trânsito armados), além de passaportes, alfândegas e relacionados. Em todas essas oportunidades o contato pessoal com o(a) policial foi muito desagradável. Dá vontade de sair do local, jogar uma granada por trás do ombro, e sair em câmera-lenta feito o Burt Reynolds, com a explosão sendo filmada atrás.

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