Tragédias que vêm do descaso, por Mário Lima Jr.

Foto: EBC

Tragédias que vêm do descaso, por Mário Lima Jr.

A vida do brasileiro não recebe o respeito que merece das esferas de governo. É resultado da má gestão da Segurança Pública, por exemplo, a taxa exorbitante de 30,8 pessoas assassinadas em 2017 por 100 mil habitantes, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. E a violência urbana não é a única tragédia que vem da deficiência governamental. A população das cidades também é vítima de calamidades causadas pela chuva, fenômeno natural que não pode ser controlado, mas cujos efeitos deveriam ser amenizados por políticas de prevenção.

O Brasil tinha aproximadamente 8,2 milhões de pessoas vivendo em áreas com risco de enchente ou deslizamentos de terra em 2010, de acordo com o IBGE. Os dados serão atualizados com o Censo de 2020, mas as características gerais do território persistem – milhões convivem com o risco de ter a casa destruída na próxima chuva forte, talvez no meio da madrugada, enquanto estiverem dormindo. Quase 18% são crianças menores de 5 anos ou idosos com mais de 60 anos de idade.

As mortes causadas pela chuva são frequentes e pontuais, têm dia e hora para acontecer. Falta dignidade. É diferente de tragédias climáticas raras como a que atingiu o Japão em julho, a pior dos últimos 36 anos, e matou 155 pessoas nas enchentes. Os esforços do Governo Federal são insuficientes e a vontade de salvar vidas, se ela existe com a devida intensidade, se perde até a chegada dos recursos aos municípios.

O Governo Federal investiu R$ 3,9 bilhões contra desastres naturais entre 2012 e agosto de 2015. O equivalente a R$ 118,90 por ano para cada pessoa que a qualquer momento pode ser esmagada por pedras e barro. A vida brasileira vale menos do que a cesta básica no Rio de Janeiro, que atualmente custa R$ 417,05.

As tragédias nacionais mais recentes somam 19 mortos, quinze em Niterói (RJ), após deslizamento no Morro da Boa Esperança ocorrido dia 10, e quatro em Belo Horizonte (MG), causadas pela enchente do dia 15. Entre as vítimas fatais estão adultos, crianças e Nicole Carvalho, bebê niteroiense de apenas 10 meses. De maneira surpreendente, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, se responsabilizou pelas mortes mineiras e prometeu obras para evitar inundações.

Em fevereiro, no bairro carioca de Quintino, uma enchente invadiu e derrubou o muro da casa do senhor Jorge Luiz Vianna, matando sua esposa e encerrando em tristeza um casamento de 35 anos. Além de dona Jupira, mais três cariocas morreram na mesma tempestade que derrubou árvores e formou um rio que invadiu três vilas, quebrou paredes e arrastou sofás, TVs e até um carro.

Somos um país tão miserável que vidas humanas no seu princípio ou na maturidade são perdidas assim, de forma banal, ao acaso da chuva. Aliado ao desleixo das autoridades, o desespero leva famílias a morarem inclusive em lixões desativados, como o Morro do Bumba, também em Niterói, onde 46 pessoas morreram após um deslizamento de terra em 2010. Não há opções melhores para os pobres de um país com um déficit habitacional de 7,7 milhões de moradias (FGV).

 

Redação

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