Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Violência na pobreza no campo, por Rui Daher

Pobreza Rural

Violência na pobreza no campo

por Rui Daher

em CartaCapital

GGN: Mesmo tentando fugir dos temas “vistos assim do alto” e procurando diversificá-los usando a lupa, tenho sentido aumentar o desinteresse brasileiro sobre a atividade rural. No que tem de bom e de ruim. Agora mesmo, sabendo haver nove estados da Federação de Corporações com índices de violência superiores aos do Rio de Janeiro, urbanoides e banhistas de mar que somos, assistimos aplaudirem o ilegítimo presidente Michel Temer, aconselhado pela Rede Globo, a formar a Junta Favela-Tráfico-Exército, para dar segurança aos moradores do balneário carioca.

Até aí, nenhuma novidade, crédulos e carneirinhos que somos. Nem quando percebo o amplo desinteresse nacional sobre o meio rural. “Ah, mais um recorde na produção de grãos. Que bom”. E por aí paramos. Como deveria eu, depois de 15 anos escrevendo sobre o tema, também, parar. Ou escrever a biografia de Ronaldo Caiado. Equivaleria a parar.

Minha fonte secundária é a matéria na edição impressa desta CartaCapital, assinada por Rodrigo Martins, apoiado pelas repórteres Beatriz Ramos e Laura Castanho, Quem é o real inimigo? As estatísticas, fontes primárias, (páginas 30 e 31) saíram do Instituto de Segurança Pública da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do IBGE, em sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Mostra-se a correlação direta entre violência e extrema pobreza. Peguemos dois períodos representativos para analisar a ‘taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes no RJ’, estado e capital.

Entre1991 e 2009, um período de 18 anos, a taxa média foi de 60% na capital e de 56% no estado.

A partir de 2010 e até 2015, essa taxa média caiu para 27% na capital e 32% no estado, voltando a crescer, em 2015/16 para 31% e 39%, respectivamente.

Detalhe: nos últimos dois anos, 2016/17, segundo a reportagem, “a extrema pobreza dobrou no estado”.

Pergunto: estarão cientes desses índices e suas correlações as Forças Armadas, o ministro da Segurança Pública, as folhas e telas cotidianas garantidoras do Acordo Secular de Elites, e a Camarilha Golpista?

Por que me refiro à situação de violência no País em uma coluna que deveria se ater à agropecuária e a seus agregadores no agronegócio?  Porque a mesma violência, associada à miséria, se repete, até com intensidade maior, em outros nove estados das regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, superando o Rio de Janeiro.

Mas como, se nesses estados o relevo não é intenso em morros, favelas, tráfico de drogas? Sim, mas neles a extrema pobreza é ainda maior na forma de humanos assentados, caboclos, campesinos, sertanejos, índios, quilombolas, e ruralistas sem terras.

Sem dúvida, alguns motivos diversos da pobreza também estão lá presentes, mas não com a força do que acontece no Rio e nem com o policiamento ostensivo e preventivo pró-turismo que existe no balneário carioca.

Então eles se matam ou, prioritariamente, são mortos por jagunços contratados de grandes proprietários de terra, nem sempre fazendeiros ou produtores rurais. Considere-se um policiamento com menos recursos, assim como o menor foco que a mídia dá a eles, e o coronelismo ainda vigente.

No mais, o principal cacoete nacional que é a visão “assim do alto”. Como registrado na coluna, em setembro de 2017, teríamos mais uma ótima safra. Pouco importa se 2 ou 3% a mais ou a menos do que o ano anterior, sempre serão volumes significativos e, como previsto, com preços estáveis para as principais commodities agrícolas.

Divirto-me com as idas e vindas de CONAB, IBGE, Rally dos Sertões, consultorias com seus vai e vem de previsões de volume e valores da produção agropecuária incertas, e que podem ou não passar raspando. Uma hora elevam, outra abaixam. Assim como previram baixa procura por crédito rural e agora dizem ter sido a maior dos últimos anos.

Mais diversão: a sucursal do Globo, em São Paulo, Valor Econômico, em matéria de Fernando Lopes, do início de janeiro, anunciou: “Renovada a confiança no mercado doméstico”, e diz acreditar na retomada da economia.

Passados dois meses, o sr. Itoshi Kimura, produtor de pimentões em Boituva (SP), com quem conversei na semana passada, disse acreditar na retomada … pelo banco de seus dois hectares de estufas. Torço por Fernando.

Ao mesmo tempo em que escreve que “o sol brilha sobre a economia global”, o editor de economia do Financial Times, Martin Wolf, pergunta: “poderá haver democracia com igualdade”?

Prefiro que sim, embora pense que ele ache que não.

Nota: excelente reportagem do Globo Rural (TV Globo) no último domingo, mostra esperanças e desesperanças criadas pela transposição do Rio São Francisco. Amanhã viajo para lá e trago notícias. Inté.  

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

1 Comentário

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  1. violência…..

    A foto seria justa se mostrasse as condições de vida desta gente, antes da chegada da agropecuária. Ou melhor ainda, mostrasse como era o Cemitério da cidade e seus habituais inquilinos. E como é agora. A agropecuária fez milagres futuristas. O Poder Público ficou na sua inércia medieval. Os milhões de reais produzidos por esta atividade comercial e desenvolvimentista, foram usados de que maneira pelo Estado? Cidades do agronegócio, que tem 5 / 10 / 20 mil pessoas, tem alguma explicação para seus Habitantes morando em barracos? Crianças sem creches, sem escolas, sem lazer, sem saúde? Cidades com ruas estreitas, casas pequenas, calçadas inexistentes? A Pátria da Flora com cidades sem arborização? O responsaável é a Agropecuária? Falando nisto, caro sr., onde está Colniza? Colniza foi ontem. A culpa também é do Agronegócio? Se desconhecemos do nosso país, da Agropecuária, a culpa é nossa mesmo. O sr., está escrevendo com apenas um braço? Do jeito que vai, daqui a pouco só terá espaço para uma mão. Mas tanta coisa interessante e importante está acontecendo, para tomar lugar dos interesses agropecuários e nacionais: a vida dos ‘pets’, o cabelo das Kardashians, o namoro do Neymar,…Para que gastarmos nosso tempo com a besteira de um País sendo loteado? Estudar e conhecer o Brasil? Deixe que os EUA e a China façam isto. Logo, eles se tornarão donos mesmo. Quanto à transposição do S. Francisco, só quero lembrar quie a cerca de uns 40 dias, a Indústria da Seca, que retornava com todo gás, mostrava cidades e seus carros-pipas. Lugares com seca há 5 anos, segundo GloboNews. Bolsa Família já não daria jeito, muito menos transposição. Mudou o enfoque e interesse. E como você percebeu e escreve, só notícias boas devem ser reveladas, não é mesmo sr. Kimura? MILAGRE!!! O Semi-Árido Nordestino está embaixo da água. Está chovendo na época do ano que deveria estar……..chovendo !!! Não sei se é ‘Padim Padi Ciço’, as mudanças climáticas do aquecimento global ou a política do Temer . 12.700.000 Desempregados. Este Brasil está evoluindo !!!! (P.S. Onde estão aquelas imagens que Ursos Polares sofrendo com o degelo do Ártico, que Ong’s oportunistas e apocalipticas adoram veicular? Neve até em Roma? Aquecimento Global?)abs.  

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