A armadilha da apreciação cambial

Do meu próximo livro, mostrando como sucessivos governos são manietados por interesses internos, depois que se estratifica um quadro de apreciação da moeda.

O relato abaixo foi tirado do depoimento de Casemiro Ribeiro ao CPDOC. Ele mostra como o FMI impôs (e o Brasil aceitou) uma paridade cambial totalmente desequilibrada em 1948. Esse desequilíbrio acabou sendo mantido em toda a década de 50 e 60, manietando qualquer tentativa maior de crescimento do país.

Ainda se tentou acertar o câmbio com Café Filho e com JK. No episódio com JK, a reação veio de José Amaria Alkimin, insuflado por Augusto Frederico Schmidt. Otávio Paranaguá, que deveria desempatar em favor da desvalorização cambial (e da unificação do câmbio) acabou refugando.

Essa proposta de desvalorização surgiu ao mesmo tempo em que a Coréia desvalorizava sua moeda e rumava para uma economia competitiva.

Repare que a defesa da desvalorização, na época, partia de ortodoxos (de formação), pragmáticos (na ação) esclarecidos:

“Mas não era apenas a guerra da Coréia. O Brasil já começara a viver a doença da moeda apreciada, que o acompanharia pelas décadas seguintes. O único ajuste, espúrio, era o câmbio negro, a taxa oficial permanecia em 18,72 Em vez de corrigir a taxa, faziam-se controles, o que permitia toda sorte de malandragem . A reação contra a desvalorização vinha dos cafeicultores, que temiam perder receita com a medida”.

“O problema todo foi a rigidez excessiva do FMI para definir o novo quadro de paridade cambial. O órgão se batia pela taxa fixa de câmbio, e isso em um período caracterizado por surtos inflacionários. Removidos os controles de preços, da época da guerra, houve uma expansão dos meios de pagamento e uma inflação que pegou de forma desigual vários países. E como estabelecer simplesmente a paridade do pós-guerra com inflações tão desiguais”.

“Julho de 1948 tinha sido a última data para anunciar a paridade. O Brasil acabou estabelecendo uma paridade de 18,50 por dólar que acabou sendo um desastre. A inflação brasileira no período tinha sido muito mais forte que a americana”.

“Seguiu-se uma enorme discussão, já no governo Café Filho, com os brasileiros, Campos à frente, propondo a flutuação, e o câmbio a favor de uma desvalorização. Campos fez uma exposição brilhante em defesa da flutuação cambial, a primeira que o Fundo assistia. Ganhou a discussão, mas não levou a flutuação”.

Luis Nassif

9 Comentários

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  1. Desvalorizar a moeda de forma
    Desvalorizar a moeda de forma independente é proposta de pais soberano que tem um plano de crescimento definido e claro. Não é coisa que essa vassalagem brasiliana se atreva a fazer !
    É coisa para uma China que cresce a trinta anos, e que ano passado recebeu até o secretário de estado dos EUA implorando para que eles permitissem uma flutuação na moeda Chinesa. O que de fato, diga-se de passagem, não aconteceu.
    Aqui o real irá se desvalorizar também, infelizmente como em 1999, como consequencia de uma crise e não de forma planejada e com objetivos claros. Esse ambiente, artificial, de moeda forte é politicamente confortável para esses carroceiros de Brasilia. O problema é que o Brasil é um Porsche e nós sabemos o quanto sofre essa super-máquina na mão desses demagogos !

  2. Tamos chegando lá!!
    Com o
    Tamos chegando lá!!
    Com o câmbio pra lá de sobrevalorizado, e os centros urbanos com aquelas marchinhas, o samba canção, o xaxado, a chanchada, as vedetes e depois a bossa nova, a sensação era de um anestesiado bom senso e de um falso “savoir vivre”. Na Coréia muita instrução pra saber plantar na pedra da realidade, com a ajuda dos americanos! Não podia esperdiçar nada! Não podia desperdiçar comida, água, tempo ou dinheiro! Coréia 10XBrasil 1! A Bíblia diz(há exatos 2700 anos): a instrução é luz. Sem instrução: trevas…

  3. Luiz, já publiquei há umas
    Luiz, já publiquei há umas duas semanas o artigo do Mical sobre isso, apoiando. Aliás, uma das saídas para evitar a apreciação cambial, no período mencionada no post, foi o compulsório sobre as exportações de café.

  4. O “Cabeça de Planilha” já
    O “Cabeça de Planilha” já está pronto e entregue, e irá para a gráfica na semana que vem. A biografia é que será um pouco mais demorada.

  5. Na minha opinião, para conter
    Na minha opinião, para conter a apreciação cambial excessiva, a melhor medida é cobrar dos investidores em titulos publicos e renda fixa as mesmas alíquotas de imposto cobradas dos investidores brasileiros.

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