A batalha do crescimento

Para mudar o país, antes tem que mudar a agenda. O PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) conseguiu introduzir uma mudança fundamental: a de que sem crescimento, nada dará certo. Os dados macroeconômicos do programa criaram uma armadilha positiva. Essa foi a primeira batalha na mudança da agenda.

A segunda batalha será em torno do chamado PIB potencial, limite de crescimento definido arbitrariamente pelo Banco Central, a partir da qual supostamente haveria riscos de inflação. Segundo especialistas diretamente envolvidos com o PAC, dá para ganhar essa discussão também. Os “modelitos” do BC, ao definir um PIB potencial de 3,5%, balizam a política monetária de tal maneira que a profecia se realiza.

A mãe de todas as batalhas será demonstrar que sem desvalorização do real, não haverá como conseguir crescimento. O argumento do Banco Central será que mexer no câmbio trará de volta a inflação. O contra-argumento é que ou o BC trabalha com meta de inflação ou com meta cambial. Será o lance final para o espetáculo do crescimento. Mas há pouca esperança de que aconteça ainda neste governo. Em Lula, a esperança ainda não venceu o medo. E a prova maior foi o comportamento do Copom (Comitê de Política Monetária) em sua última reunião.

O dilema é que o PAC poderá acrescentar meio ponto ao PIB. Mas o câmbio, sozinho, subtraiu 1,2 no ano passado e vai subtrair mais agora. É uma ciranda ingrata. O consumo cresce, mas, na hora de bater na produção, o câmbio desvia para importações. No ano passado o crescimento poderia ter sido superior a 4 pontos. Não foi exclusivamente por conta do efeito direto do câmbio.

Luis Nassif

19 Comentários

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  1. Marco, um ponto de
    Marco, um ponto de crescimento foi o que o país perdeu com aumento das importações para suprir o aumento da demanda interna. Não foi juros: foi câmbio (que é afetado pelos juros).

  2. Os projetos politicos de
    Os projetos politicos de crescimento acelerado tem como prova de seriedade, isto é, de que são para valer, quando a politica monetária está a serviço desse projeto. Assim foi com o New Deal e com os 50 anos em 5 de JK. O projeto de crescimento exige o engajamento de todos os recursos do País, não pode ser algo meia boca. Tanto Roosevelt como JK impediram que a politica monetária atrapalhasse seus projetos, Roosevelt substituindo o Chairman do Fed e JK rompendo com o FMI, cujo conservadorismo iria afundar o Plano de Metas. Nos dois casos as forças da ortodoxia eram fortissimas e só o pulso forte do comandante domou essas forças. Sem o engajamento da politica monetária no projeto de crescimento este não terá combustível para decolar.
    A politica monetária é a ferramenta essencial para um projeto de crescimento e parece incrível se pretender o sucesso do PAC sem a politica monetária vestir a camisa do projeto.
    As politicas monetárias da China e da India são componentes centrais dos respectivos projetos de crescimento, com taxas de câmbio totalmente administradas em função desses projetos. O crédito na China é abundante e barato, atingindo 160% do PIB contra 34% no Brasil. Dois pilares do crescimento chinês são o crédito abundante e barato e a moeda local desvalorizada. Não se procurem os clássicos requisitos do bom ambiente economico e infra-estrutura. A China é um caos jurídico, social, ambiental e politico.
    Mas tem um projeto de crescimento acelerado que está sendo tocado com todos os recursos do País.
    A exclusividade brasileira será executar um projeto de crescimento com a apatia cínica do BC torcendo contra, uma novidade histórica.

  3. Não entendo de economia, mas
    Não entendo de economia, mas me preocupo com os rumos do país. Segundo alguns comentaristas, o PAC não é suficiente, mas pelo menos o governo nos dá uma meta e uma oportunidade de cobrarmos resultado.
    Mudanças para melhorar o país são muito lentas e burocráticas, não sei se por falta de vontade de crescer ou se por incompetência mesmo.

  4. Deixa ver se entendi: o
    Deixa ver se entendi: o governo é quem deve baixar a porrada no valor do Real; e não, segundo a bíblia do mercado, deixar o câmbio flutuante? Passei anos… duas décadas ouvindo e lendo que o problema era a interferência do Banco Central no câmbio, artificialmente ditando a bagunça neste; de repente ouço e leio que o Banco Central deve determinar que o Real vale menos do que vale… ou não é o mercado quem de fato estabelece o valor real de uma moeda estrangeira? A FIESP vem o tempo todo reclamando disso, desde o início do governo Lula, claro. Começo a duvidar da eficácia de tal intervenção artificial. Mas como eu não entendo de economia…

  5. Olá Nassif,
    Sobre a batalha
    Olá Nassif,
    Sobre a batalha das batalhas (câmbio): acho que os comentários anteriores sobre o etanol já deu uma boa idéia do rolo que vai ser mexer no câmbio. Enquanto o país se contentar em ser exportador de commodities, ignorando os setores industrial e de serviços, vai ser difícil desatar este nó. Considerando ainda nossa tão propagada vocação rural (no sentido mais amplo do termo), enquanto isto render votos, ninguem mexerá em nada.
    [ ]´s

  6. Independente desta questão
    Independente desta questão cambial,acredito que o PAC e nem o governo tem tocado em um assunto que considero de suma importância para os investidores: Trata-se das garantias ao capital investido. Sem um sistema judiciário minimamente eficaz não há como proceder a estas garantias.Sem uma reforma profunda que agilize as ações continuaremos no mesmo ritmo,devagar e,as vezes,nem sempre.

  7. Creio que a grande virtude do
    Creio que a grande virtude do PAC é ao indicar os investimentos na Infraestrutura ele desarma um dos principais argumentos dos defendores das planilhas, de que existe um limite para o crecimento do PIB em função dos investimentos em Infraestrutura no Brasil.

    O outro argumento de que o a diminuição da relação dívida pública/PIB era impossível com os aumentos reais para o salário mínimo, dos defensores das planilhas já foi destruido pelas políticas sociais e pelos aumentos reais do salário Mínimo e dos salários dos funcionários públicos.

    Creio que o golpe final sobre os defensores das planilhas será dado em 2007 e 2008 com o PIB do Brasil crescento ao redor dos 5% ao ano sem as¨”tais profundas reformas fiscais e da previdência”.

    Quando a estabilidade cambial,creio que no primeiro momento o aumento do consumo do mercado será em boa parte desviado pelo câmbio para importações. Mas no segundo momento na medida que vai se consolidando o aumento do mercado interno haverá investimentos para produção interna
    conseguir competir com as importações, principalmente em função do aumento da escala de produção.

  8. PAC é um retrocesso, pois
    PAC é um retrocesso, pois desvia a atenção da nação das reformas estruturais, liberalização da economia, modelos regulatórios e governo menor e mais eficiente, que verdadeiramente permitiriam o Brasil crescer a mais de 5% ao ano.

  9. Prezado Luis Nassif,

    Meu
    Prezado Luis Nassif,

    Meu irmão trabalha em Comércio Exterior. Recente viajamos à Argentina e ao Chile à negócios e ficamos estupefatos com o nível de pobreza da população destes países.

    Estivemos em Santiago (Chile), Buenos Aires, Cordoba e Mendoza (Argentina).

    Em Santiago a informalidade é gigantesca.

    Os “comerciantes” vendem, em sua grande maioria, produtos importados da China e Taiwan).

    Conversando com executivos locais eles disseram que o subemprego fazia com que o consumo interno fosse mínimo.

    Jornais e TV´s chilenos mostram, quase que diariamente, assassinatos em bairros miseráveis.

    Nas cidades argentinas, o preço dos alimentos, materiais e serviços são inflacionados constantemente, em média de 10 a 12%.

    A população não tem consumido bens e serviços adequadamente devido a estes sucessivos reajustes de preço.

    À borda destas cidades havia grandes cinturões de pobreza (os “barrios”).

    Tenho ouvido muito falar sobre crescimento do Chile e Argentina, mas minha impressão foi a de que o dito crescimento parece estar privilegiando alguns setores.

    Eu gostaria de lhe pedir encarecidamente que desmistificasse esta história de “crescimento” de países como India, China, etc…

    Parece que você já colocou algo sobre este assunto aqui em seu blog.

    O que pude perceber, ao menos, nos locais que visitei é que, o crescimento de um país, em nenhuma hipótese, significa a melhora das condições de vida do seu povo.

  10. Cesar,

    O que são reformas
    Cesar,

    O que são reformas estruturantes?
    Seria a da Previdência? Depois das demonstrações expostas neste site pelo Nassi, creio que perdeu o sentido continuar.
    Seriam as regulações? (Quais?)
    Regular é garantir a rentabilidade dos investidores?
    E a garantia da sobrevivencia da nossa população?
    Quando o governo americano aplica subsidios aos seus produtos parece que esta tudo certo, mas quando queremos garantir a nossa sobrevivencia o tal “mercado” exige garantia para investir.
    Por que voce não luta para que os mercados todos se abram (princialmente o agro-industrial da Europa e EUA)?
    Seja brasileiro!!!
    Não pense tão pequeno.

  11. Nassif,
    como nao sei seu
    Nassif,
    como nao sei seu e.mail pra enviar uma msg, to recorrendo a este espaço. Seguinte: voce leu o artigo do ex-reitor da UNB na Folha ontem? O titulo é Universidade Velha? Estou pasmo com o discurso do ex-reitor e gostaria de ouvir alguma consideraçao de sua parte sobre a reforma do ensino proposta..
    abraço pra ti.

  12. Caro Andre Araujo,
    1)
    Caro Andre Araujo,
    1) Inicialmente parabenizo a descrição do ambiente China, complementando que a China tem 40% de poupança (as taxas de juro têm que ser baixas). A China tem um regime econômico liberal nas regiões exportadoras, mas o político é uma ditadura implacável (não existe pressão sindical por salários, só as naturais de mercado).
    2) O que mede a eficicácia de uma política monetária são os resultados. O Bacen pecou em 2004 por uma política frouxa (os IGPs dispararam e os preços tabelados idem). A inflação inercial ia voltar e jogar fora o sacrfício do plano Real. Corrigiu em 2005 e 2006 (a inflação ficou dentro da faixa da meta). Um pouco para cima e um pouco para baixo.
    3) A função da política monetária é defender o valor de compra da moeda e por extensão dar um ambiente de estabilidade monetária para os governos trabalharem. Crescimento tendo por base a taxa básica é demagogia. Os resultados são: inflação e estagnação (o Brasil já passou por isto).
    4) Nassif,
    Se ocorreu aumento de demanda para estimular as importações significa que a política monetária foi correta. Números: O saldo do Movimento Cambial (regime de caixa, entradas e saídas) foi positivo no movimento comercial, e negativo no movimento financeiro (mais saídas que entradas, desmente o argumento de taxas de juros aumentarem as entradas de recursos). O Bacen deu um enorme prejuizo para os contribuintes defendendo o dólar (começou a comprar a R$2,75, entrou na jogatina dos swaps reversos, com certeza de perder). Exigir mais sacrifícios dos outros brasileiros?

  13. Assim como “O PAC (Programa
    Assim como “O PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) conseguiu introduzir uma mudança fundamental: a de que sem crescimento, nada dará certo”, o “programa de aceleração das exportações” (não sei se era esse o nome) do final do governo FHC conseguiu introduzir uma mudança, também fundamental de que sem exportação não teremos a tão falada condição macroeconômica para o crescimento.

  14. Meu caro Marco Aurélio Garcia
    Meu caro Marco Aurélio Garcia : A politica monetária não existe em um vácuo politico, social ou economico. Ela é parte do País, dos problemas do País, das carências do País. A longo prazo a politica monetária tem que ser aquilo que a politica economica quer. A curto prazo ela pode ser autonoma do crescimento mas não a longo prazo.
    Veja só a ironia: por 12 anos pregou-se que a consiistência da politica monetária era essencial para criar as condições macroeconomicas que levariam o Brasil ao grau de investimento para os fundos externos. Esse era o mantra, o dogma. O que aconteceu na realidade? A politica monetária do Brasil nos ultimos doze anos é a mais consistente entre os emergentes, muito mais ortodoxa do as politicas monetárias da Rússia, da India e da China. Mas na bagunça monetária eles todos cresceram muito mais que o Brasil. O que aconteceu então: Todos os três ganharam o grau de investimento das agencias classificadoras (a India ontem). O unico bonzinho da classe não ganhou a vigaem de prêmio. Quais as explicações das agências? Está tudo ótimo com o Brasil mas não tem crescimento. Portanto o prêmio maior que o Brasil ganharia por ter uma politica monetária ortodoxa não veio. Os bagunceiros da classe, todos ganharam. Seria cômico se não fosse trágico.

  15. Para melhorarmos o
    Para melhorarmos o Brasil,precisa_
    mos de boas estruturas no câmbio
    e outras coisas mais.
    Abraços,do seu leitor assíduo do
    “O DIA”,NNS.

  16. Caro Andre Araujo,
    1) O
    Caro Andre Araujo,
    1) O Planejamento Econômico é o principal produto do conhecimento da teoria econômica. O conhecimento dos conceitos de teoria econômica e da conjuntura (econômica, econômica, sociológica, política) permite planos coerentes e consistentes.
    Objetiva:
    a) equilíbrio geral da economia;
    b) preços relativos equilibrados;
    c) ESTABILIDADE MONETÁRIA;
    d) crescimento econômico;
    e) pleno emprego;
    f) distribuição de renda.
    DECISÕES E MONITARAMENTOS:
    a) equilíbrio de interesses de grupos;
    b) meios de pagamentos;
    d) taxas de juros;
    e) inflação;
    f) npivel de emprego;
    g) salários (consumo e custo de produção);
    h) investimentos e poupanças;
    i) Balanço de Pagamentos;
    j) qualidade dos gastos do governo;
    k) qualidade de vida;
    l) fatores de produção (antecipar e vitar gargalos).
    2) Pelo acima exposto deduzimos que a política monetária é uma parte do planejamento econômico (pequena). Faz parte do todo. Sua função é dar estabilidade monetária para os agentes econômicos (privados e governamentais). Quanto maior sua independência mais baixa a taxa de juro natural ou de equilíbrio (que é estabelecida pelo mercado, não pela autoridade monetária).
    A MOEDA tem como funções:a) meio de pagamento; b) unidade de medida; c) reserva de valor.
    A políitica monetária tem que respeitar estes princípios sob pena de estar desrepeitando a MOEDA (ela não pode agredir o que tem que defender).
    3) Não defendo, historicamente, todas as políticas monetárias. Muitos erros foram cometidos. Se existia inflação a política monetária estava errada.
    4) O que tendo escrever é que existe um conhecimento acumulado de teoria econômica que não deve ser agredido. Escolhas podem ser feitas, mas temos que saber antecipadamente que os movimentos que estamos fazendo resultarão nos efeitos tais. Isto não pode ser desconhecido nem escondidido.
    5) Não é a política monetária sozinha que levará o Brasil a conseguir o grau de investimento.
    6) Lembre-se que a dívida pública é responsabilidade do TN (inclusive o gerenciamento). Política monetária (curto prazo, Bacen), dívida púiblica (TN, longo prazo, se conseguir).
    7) O custo de carregamento da dívida (TN) foi maior em 2006 nos títulos pré, IGPM e IPCA do que nos títulos selic (atenção). Já escrevi isto aqui, inclusive listando os títulos (a diferença é absurda).
    8) Delfim Neto (no Valor):
    Falando sobre coisas corretas que candidato nenhum tem coragem de falar:
    “vamos cortar as despesas públicas e reduzir a carga tributária, vamos quebrar os monopólios e aumentar a competição, vamos fazer cada um pagar por sua própria aposentadoria e dar assistência social compatível aos necessitados com nossa renda per capta; vamos desregulamentar o mercado de trtabalho e vamos dar ao mercado o valor supremo na administração pública.” Por enquanto contentemo-nos com o PAC.

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