A culpa é do pedestre?

Displicência nas ruas

 

De um atropelamento no trânsito é comum resultar a atribuição de vilão ao motorista do veículo envolvido. Mas nem sempre pedestres atingidos por carros são meras vítimas, já que seu comportamento muitas vezes contribui para o acidente.

Levantamento realizado pela psicóloga Renata Torquato mostra que as pessoas que se deslocam a pé costumam transgredir normas de trânsito, principalmente por menosprezar o risco contido em ações como atravessar uma rua fora da faixa de pedestres ou no momento em que o semáforo está vermelho para a travessia.

Apesar de se limitar apenas ao contexto da cidade de Curitiba, a dissertação de mestrado da pesquisadora, defendida na Universidade Federal do Paraná, pode servir de referência sobre o assunto no Brasil por ser um dos primeiros trabalhos do país a investigar o trânsito a partir do comportamento de pedestres.

Para o estudo, 303 pessoas foram convidadas a responder um questionário que tratava de 30 diferentes comportamentos de risco. Os voluntários então indicaram o grau de segurança que atribuíam a cada comportamento e a frequência com que realizavam aquela ação.

Além de apontar relação direta entre percepção de risco e frequência de execução de determinado comportamento, a pesquisa revelou diferenças entre gêneros e faixa etária no modo de pensar e agir.

“Homens se mostraram mais propensos a se expor a situações perigosas do que mulheres, e jovens revelaram realizar ações arriscadas com mais frequência do que pessoas mais velhas”, conta a psicóloga.

O comportamento inadequado pode resultar em tragédia. Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba mostram que mais de 70% dos pedestres mortos em acidentes de trânsito são do sexo masculino.

Documento publicado recentemente pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego aponta que cerca de 30% dos óbitos registrados no trânsito do país decorrem de atropelamentos.

Atropelamento
A displicência nas ruas pode resultar em tragédia. Em Curitiba, mais de 70% dos pedestres mortos em acidentes de trânsito são do sexo masculino. No Brasil, 30% dos óbitos registrados no trânsito decorrem de atropelamentos. (foto: Flickr/ fotografo.lucas – CC BY 2.0)

Apesar de os jovens se exporem mais a riscos, a maior taxa de mortalidade, na classificação por faixa etária, se concentra no grupo dos idosos acima de 60 anos. Mas nesse caso pesam fatores como maior fragilidade física e declínio da acuidade visual, próprios da idade avançada.

Contexto

Um aspecto que chamou a atenção nos resultados da pesquisa foi o fato de muitos entrevistados considerarem a travessia sobre a faixa de pedestres um comportamento de risco. A explicação da psicóloga é que alguns motoristas desrespeitam a sinalização e passam sobre a faixa mesmo quando há pessoas atravessando.

Ela defende que a responsabilidade sobre um atropelamento deve ser atribuída a todas as partes envolvidas no trânsito. “A travessia do pedestre em local inadequado faz parte de um contexto em que o condutor de veículo não respeita a faixa e o poder público não fiscaliza o motorista.”

Nesse sentido, uma estratégia para redução dos atropelamentos deve envolver maior fiscalização por parte das autoridades responsáveis e educação de trânsito tanto para motoristas quanto para pedestres.

Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR

Redação

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