A dedicação exclusiva

Enviado por: Carvalho Junior, F H

É inegável a existência de casos de abuso nas universidades. Porém, não creio que esta seja a regra e considero os comentários de “josé antonio martins” exagerados e generalizantes. Em particular, sua relação entre número de professores e número de professores com cargos comissionados é estranha e fiquei curioso em saber de que instituição ele está falando. Conheço poucos em minha universidade que possuem tais cargos e em geral o valor da gratificação não compensa a responsabilidade do cargo que a tornou possível, como, por exemplo, chefe de departamento ou coordenador de curso.

Insisto que a comparação entre universidades federais e instituições de ensino particulares é enganosa. As responsabilidades de professores nas universidades federais são diferentes das de seus colegas em instituições de ensino superior particulares, as quais, COM ALGUMAS EXCEÇÕES, não desenvolvem atividades de pesquisa publicáveis nos melhores veículos nem mantém cursos de mestrado/doutorado.

(…) Um professor doutor, DE, de um departamento de uma universidade pública com mestrado e doutorado tem que lidar com cargas horárias de aulas na graduação e pós-graduação, orientação de alunos para pesquisa em nível graduação, mestrado e doutorado, coordenação de projetos de pesquisa e a realização da pesquisa em si (o ato de pensar sobre problemas complexos exige tempo e motivação).

Além disso, muitos professores são convidados a participar da gestão acadêmica, onde estão os citados cargos comissionados relatados por josé antonio martins. É devido a este grande número de responsabilidades que as universidades federais atualmente dão preferência a contratação de doutores em regime de dedicação exclusiva (DE), com o tal adicional de 50%.

Para aqueles que observam a universidade pelo lado de fora, mesmo alunos de graduação, parece realmente estranho que um certo professor doutor DE ministre “apenas” 8h semanais de aulas (presenciais). Mas estes não conhecem os outros trabalhos desenvolvidos pelo docente na pesquisa, extensão, e gestão acadêmica. Para aqueles que perguntaram, um professor adjunto I (doutor, DE) tem salário liquido de aproximadamente R$4.000, que está aquém do que alguém com tal nível de formação merece. Discordo VEEMENTEMENTE de qualquer tese contrária a contratação de docentes em regime DE. A experiência tem mostrado que o caráter DE atrai justamente aqueles professores interessados na dedicação total as atividades da universidade, especialmente aqueles com doutorado que estão interessados em serem pesquisadores e formar novos mestres e doutores. Esse é o caminho a ser trilhados por todos os departamentos universitários sérios. “Aventureiros” que desejam apenas usarem a universidade como “bico”, detentores de outros cargos públicos ou mesmo empresários, e que nada contribuem nas outras vertentes da atuação da universidade, tão ou mais importantes quanto o ensino de graduação, certamente são evitados com tais restrições.

Entre 2002 e 2004 fui professor efetivo em uma universidade estadual onde a maioria dos professores não era DE e sei bem o que é um quadro de professores que só se dirigiam a universidade para ministrar aulas. Porém, lutavam pelas mesmas “regalias” dos professores/pesquisadores totalmente dedicados a universidade. Pedi exoneração devido às péssimas condições de trabalho e ingressei, por concurso público, em uma universidade federal de perfil mais evoluído.

Na verdade, os casos de professores DE que tem outros empregos são raros e o governo federal tem fechado cada vez mais o cerco a estes. Em uma análise mais detalhada, verifica-se que estes são professores mais antigos e que não tem aptidão para a atividade de pesquisa, apesar de muitas vezes terem um título de doutor pelo simples fato de que um dia desejaram a gratificações advindas do título.

Mas esses casos são minoria e à medida que os departamentos renovam-se com a contratação de novos professores doutores e pesquisadores “de fato”, a reputação destes professores torna-se motivo de discussão em reuniões departamentais.

Infelizmente, o processo de renovação nos quadros das universidade federais públicas foi freado pela “era FHC”, mas já há sinais de recuperação no governo Lula devido aos últimos concursos. Tendo em vista o crescente número de brasileiros que tem obtido o título de doutor, há uma tendência a melhoria dos quadros das universidades, com pessoal qualificado e motivado a dedicação total a instituição. É para esse caminho que as universidades públicas tem evoluído, buscando alcançar os níveis de qualidade das melhores universidade do “primeiro mundo”.

Luis Nassif

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