A faixa de Gaza paulista

O que está acontecendo hoje em dia, com guerras de dossiês e tudo o mais, é a implosão dos partidos políticos brasileiros.

Do lado do PT, a crise dos líderes paulistas liberou coadjuvantes dotados de micro-agendas em vários lugares do país. Um observador privilegiado do PT me conta que esses grupos se movem um pouco por interesse de sobrevivência, um pouco por convicção. E passaram a subordinar o principal ao secundário, do mesmo modo que os defensores das micro-reformas na economia. O resultado, em ambos os casos, são iniciativas sem um grão de consistência estratégica.

Daí o paradoxo aparente, me diz ele, de um time a esmurrar o juiz com o jogo ganho de três a zero, a minutos do final. Em um hora em que é necessário pensar grande e enxergar o passo seguinte da história (pacificação, projetos, pactos etc.) essa opacidade ressuscita gritos de guerra da batalha anterior.

Mas é fake, diz ele. É uma ação desprovida de encaixe na nova hegemonia em fraldas dentro do governo. Formada na crise anterior, e tendo passado com sucesso pelo teste de recosturar certa estabilidade, ela será submetida a outra maratona dificílima a 15 dias do pleito.

Por incrível que pareça, continua, está em melhores condições de superá-la do que na crise anterior. Os cargos têm novos ocupantes com poder, estrutura e foco no conjunto, não na luta pela sobrevivência individual; há uma estratégia esboçada e uma delegação nova (leia-se, apoio de Lula) para ir adiante e pavimentar o terreno –custe o que custar.

Os tucanos menos radicais sabem disso, continua ele. Mas dentro do PSDB a situação interna hoje é muito similar ao estilhaçamento vivido pelo PT no auge do “mensalão”. Os sinais das urnas estão provocando isso: esfacelamento de núcleos dirigentes, falta de sintonia entre projetos individuais e os do partido; vácuo na estratégia e rebaixamento de responsabilidades históricas.

Para alguns do PSDB e do PT, pacificação pode significar final de carreira. Daí a intenção de muitos de prolongar o conflito na faixa de Gaza paulista, lutando a guerra do dia anterior. Com o risco, claro, de uma bomba, como esse dossiê, conflagrar o resto do país.

Luis Nassif

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