A favor das cotas

Do leitor Eduardo Guimarães

Há momentos em que nenhum indivíduo que se pretenda merecedor de seus direitos como cidadão pode deixar de cumprir com seus deveres, mesmo que estes sejam abstratos como o de que todos devem se posicionar contra injustiças, por isso preciso me manifestar quanto ao editorial As cotas inconstitucionais (23/6).

Primeiro é preciso que algo fique bem claro para os que lerem estas linhas, mesmo que sejam poucos: a base onde está assentado o conceito de escola pública é a da necessidade de que quem não dispõe de meios de pagar a privada tenha onde buscar ensino. E o ensino superior é apenas a última etapa da formação escolar de qualquer pessoa mesmo que a maioria delas jamais consiga concluir os estudos, principalmente porque aberrações como a universidade pública gratuita ser acessível só aos estudantes mais ricos existem neste País.

Sempre que a discussão vem à baila dizem que ela serve para mascarar a má qualidade dos ensinos fundamental e médio públicos, mas a verdade é que argumentar com o problema dessa baixa qualidade da escola pública pré-universitária é que serve, sim, para mascarar a injustiça que é os estacionamentos das universidades públicas contarem com quase tantos carrões quanto elas com alunos: não há perspectiva visível de melhora substantiva nos ensinos públicos fundamental e médio, portanto os que estão fora do ensino universitário, sendo que o Estado teria obrigação de oferecê-lo a eles por não poderem pagar, continuarão fora.

Claro, também, que é absurda a idéia de que quem enxerga o escândalo que é a quase total exclusão de pessoas não-brancas nas universidades públicas, se defender cotas que permitam aos discriminados o acesso a elas é que as estaria discriminando por achá-las incapazes de vencerem por si só. Isso é loucura. O que se prega é que esses discriminados o que não são é super-homens, capazes de – mesmo a despeito de não terem sido preparados adequadamente, de alimentarem-se mal e de serem obrigados a trabalhar para se sustentar – passar em vestibulares onde a disputa com os concorrentes ricos é totalmente injusta.

No debate travado entre o presidente Lula e seus adversários durante o primeiro turno da campanha eleitoral do ano passado, na rede globo, ele se comprometeu com as cotas nas universidades, e esse foi um dos fatores que me levou a votar nele. O que se espera agora do mandatário é que não dê ouvidos a essa cantilena sobre as cotas, que é o que tem mantido os que precisam fora das universidades que para eles foram destinadas, e cumpra com sua promessa.

Luis Nassif

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