A geopolítica do gás

Coluna 15/08/2006

Na próxima semana, o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, estará participando de uma reunião em Caracas, Venezuela, para discutir o grande gasoduto integrando a América Latina. Há vários grupos de trabalho discutindo as questões regulatória, ambiental, a certificação das reservas, a tecnologia, o preço e a estrutura societária do projeto. O prazo de entrega do documento deverá ser adiado em um ano, para agosto do ano que vem. Mas poderá mudar a face do continente.

Hoje em dia, a oferta de gás vem de três fontes.

Na Venezuela há um potencial grande, identificação de volumes consideráveis de reservas, mas sem certificação – que assegura o tamanho efetivo da reserva. Na Bolívia, há reservas já certificadas de volume bastante significativo, e boas possibilidades de novas descobertas. Finalmente, o Peru tem um potencial crescente de reservas de gás.

Na outra ponta se tem a Argentina, que é o maior mercado consumidor, mas com reservas declinantes; o Chile, que é um consumidor sem gás. E o Brasil, com a mais alta taxa de crescimento de uso do gás no mundo -porque partindo de uma base baixa. E, finalmente, Trinidad Tobago.

Diferentemente do petróleo, o gás não é uma commodity. Depende essencialmente da infra-estrutura para distribuição. Não há como falar de mercado do gás sem estrutura de transporte, ou via gasodutos ou via gás natural liquefeito (GNL). É um processo que exige capital intensivo, tanto na fase de compressão e liquefação, na de transporte e na de regaseificação.

Trinidad Tobago é importante nessa geografia, porque possui um hub para GNL com plantas de liquefação. A Venezuela ainda vai fazer sua planta, assim como o Peru. A Petrobrás já está construindo duas usinas, uma em Pecem, Ceará, outra no Rio de Janeiro, para entrar em operação em 2008. E o Chile tem planos para uma.

Um dos problemas para os investimentos, é que, com exceção do GNL, o gás não tem preço internacional. No caso do gasoduto (que responde pela quase totalidade do gás na América Latina) o preço é aquele que o consumidor pode pagar. Numa ponta, tem que cobrir os investimentos e os custos operacionais. Mas, na ponta do consumo, o referencial de preço é o combustível alternativo. No caso do Brasil, é majoritariamente o óleo combustível. Justamente por isso não há nenhuma lógica na pretensão boliviana de pautar os preços de seu gás pelas cotações internacionais, ainda mais não tendo GNL.

Há duas limitações para construção do supergasoduto. A primeira, o longo prazo e a baixa taxa de retorno dos investimentos. A segunda, a questão regulatória, em função de passar por vários países de um continente com instabilidade política crônica.

Justamente por isso, a Petrobrás é contra a Lei Rodolfo Tourinho, que pretende regular especificamente o transporte do gás. Sem uma visão integrada, dificilmente haverá investimentos específicos em gasodutos porque, individualmente, ele não dá o retorno desejado.

Obviamente, para controlar todas as etapas do gás, a Petrobrás teria que se submeter a uma regulação forte, para impedir o poder de monopólio.

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Luis Nassif

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