A guerra submarina

Enviado por: Geraldo Aguiar

Prezado jornalista Luiz Nassif:

Não quero parecer irreverente, pois dou ao tema uma grande importância , mas às declarações do Capitão de Mar-e Guerra Paulo Mauricio Farias Alves se aplica como uma luva a famosa definição do biquíni — machista mas precisa—que ele mostra tudo e esconde o essencial. E certamente não por sua culpa. Sua Senhoria diz o que lhe instruem dizer. (…)

Comecemos pelos desmentidos do que diz a imprensa grega. A quantidade de jornais gregos que vem abordando o tema desde o fim de agosto de 2006 ate hoje é amplo demais para ser uma montagem de interesses contrariados, tese defendida pelo principal propugnador da doutrina por traz da escolha feita em 2005. Repassemos apenas os nomes de alguns dos órgãos da imprensa grega que dizem a mesma coisa desde então ELEFTHEROTHYPIA, ADESMEFTOS, TO VIMA, KATHIMERI, TA NEA, ESTIA. São jornais conservadores, liberais e de esquerda.

Tomemos ainda a ultima matéria saída há apenas dois dias no prestigioso TO PONTIKI, semanário de critica política de centro-esquerda, onde as recentes conversações entre a Marinha Helênica e a Marinha do Brasil são reportadas com precisão, e onde é feita uma referencia a uma parte do acordo das negociações entre o estaleiro HDW e a Marinha Helênica de não divulgar a totalidade dos problemas para não aumentar os prejuízos potenciais para o estaleiro alemão no mercado mundial (leia-se para não prejudicar o acesso ao dinheiro do contribuinte brasileiro).

Assim o Almirante Gousis, Comandante da Marinha Helênica informou apenas parcialmente a Marinha do Brasil, mas informou de alguns dos problemas técnicos.

Mas que as coisas não estão fáceis entre a Marinha Helênica e o estaleiro HDW pode-se testemunhar da matéria publicada no ACHILLEAS TOPAS (Athens News) de 17 de novembro ultimo, quando a equipe de negociação da Marinha grega abandonou a mesa de negociações. Será isso intriga de brasileiros e concorrentes internacionais também? É assustador que as respostas do CCSM alinhavem entre suas fontes de informação de que tudo vai bem o estaleiro HDW. O estaleiro do grupo THYSSENKRUPP seria bem o ultimo a admitir que há problemas.

Em segundo lugar atente-se para a data de aprovação pelo Almirantado da compra programada, ou seja, 11 de novembro de 2005. Esta data é muito próxima da data em que o Papanikkolis deveria ter sido entregue. O próprio CCSM refere-se a uma visita de uma delegação técnica em novembro de 2005 por ocasião de provas de mar na Alemanha. Mais adiante o CCSM declara que as provas de mar são exatamente para resolver os problemas, que os fabricantes se obrigam a corrigir. Dá-se a impressão que esses problemas ocorreram agora, quando esses testes teriam tido lugar. Erro completamente verificável.

Os problemas vêm ocorrendo DESDE 2005, quando o submarino ficou pronto, as provas de mar foram realizadas e o submarino não foi recebido. Assim a Marinha Helênica já assinalara os principais problemas que não foram resolvidos ate hoje. Qual a razão do agravamento da situação agora? É que a questão acabou virando um problema de dinheiro. O estaleiro não resolveu desde 2005 os principais problemas e precisava receber os 210 milhões de euros do financiamento bancário para não continuar financiando em seco a correção de seus próprios erros. Faze-lo com dinheiro alheio é mais fácil. Fazer com mais dinheiro alheio, inclusive o do Brasil, melhor ainda. Pode-se ler isso a saciedade no artigo do TO PONTIKI, o mesmo que se refere à consulta brasileira.

Mas há um aspecto das respostas da que merecem a melhor atenção. E isso esta na ventilação de alguns custos.

Primeiro uma informação para os leigos que acompanham esse debate. Há uma omissão importante (…) É que quando se diz que a série Tupi foi feita a partir do segundo submarino, no Brasil, omite-se que a Ferrostaal, agente comercial do HDW vendeu totalmente para importação dos kits de tudo que vai dentro de todos os submarinos da serie, i.e, propulsão, sonar, sistema de armas, periscópio, baterias, cablagem, etc. Inclusive o aço para fazer o submarino no Brasil. (…).

Falemos agora de custos.

(…) Seus recentes artigos sobre os mecanismos de desenvolvimento, aquisição e produção de material de defesa utilizados por outros paises são imensamente adequados ao momento que estamos vivendo no país. (…)

A defesa da costa brasileira não pode mais ser objeto de retórica, discussões medíocres e visão curta por alguns. A Petrobrás investe dezena de bilhões de dólares, em sua grande maioria no mar, as siderúrgicas brasileiras se implantam na costa, bem como nossas usinas nucleares. Uma grande parte da população tem sua atividade econômica no Brasil a menos de 100 kilometros do litoral. Há nesse momento uma transformação na doutrina de guerra naval com a visão de guerra litorânea da qual alguns membros do Almirantado parece não se despertar, preocupado com aspectos de carga de emprego no AMRJ, como se o propósito da defesa nacional fosse esse. (…) Um submarino convencional ou nuclear nos sitiaria hoje, nacionalmente. Com o petróleo tornando-se escasso, toda reserva no mundo será fair game para os paises que hoje se armam para sobreviver um fim do século 21 agitado e sombrio.

Existe na extraordinária comunidade que forma a Marinha brasileira, na ativa e na reserva, teóricos capazes de ver isso e propor idéias. Suas vozes são abafadas pelos compradores de barquinhos, que gostariam de ver o Brasil como auxiliar da Guarda costeira americana (…)

Nassif, este debate, por mais prestigioso que seja o seu blog, precisa se fazer no Congresso, nos meios da engenharia nacional, nos organismos da industria brasileira, nos órgãos de vigilância dos contratos públicos (TCU, AGU, CGU, as Promotorias com jurisdição nessa área). Não é apenas uma questão de dinheiro. Há muito mais envolvido.

Luis Nassif

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