Araraquara e Guantanamo

São Paulo sofreu duas humilhações nas últimas semanas. A primeira, a invasão comandada pelo PCC. A segunda, as cenas da Penitenciária de Araraquara, com 1.400 presos seminus amontoados no pátio de uma penitenciária onde cabem 160 pessoas, com portas lacradas e comida sendo atirada pelo teto.

É ignominioso, covarde. Enquanto Secretários e comandantes policiais dão ordens protegidos por seguranças e carros blindados, presos são fuzilados na penitenciária e agentes penitenciários fuzilados em suas casas. Como se uma retaliação covarde pudesse varrer para baixo do tapete a incompetência geral dos poderes públicos paulistas de combater a criminalidade.

O governador Cláudio Lembo continua insistindo que a culpa é da minoria branca e dos presidiários que destruíram a penitenciária, e endossando as práticas mais vergonhosas e ineptas de repressão. Caiu uma bomba em seu colo, mas ele precisa parar de fingir que não é com ele.

Como ele, um advogado preparado, uma pessoa intelectualmente refinada, comete uma generalização dessa ordem, de atribuir essa situação de campo de concentração aos presos genericamente, dando o aval para a brutalidade? Culpados são sempre os chefes, dos dois lados. E do lado dos cara-pálidas há um chefe que endossa um tratamento que nem em guerra é permitido, uma Guantanamo em pleno período de paz.

E para quê? Vai enfraquecer o PCC ou vai reforçá-lo? Todos os prisioneiros avulsos, vítimas dessa brutalidade, vão se escorar onde? No PCC, óbvio, porque a organização tem poder de retaliação e de intimidação dos agentes penitenciários.

O governador está permitindo a eclosão de uma guerra. Qualquer estratégia minimamente inteligente trataria de reduzir a panela de pressão dos presídios e combater ferreamente o crime fora das penitenciárias. Aqui nada se fez. Permitiu-se a super-lotação dos presídios, não houve trabalho de inteligência policial em cima dos prisioneiros e agora se vai à forra da maneira mais covarde, enlameando o nome do país em todo o mundo civilizado.

Luis Nassif

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