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As derrotas na Copa

do leitor Bento Bravo

Acompanho futebol, e Copas do mundo, desde 1958. Já ví o Brasil ganhar bem, ganhar mal, perder bem, perder mal mas, uma derrota como a de ontem, foi uma novidade para quem pensava já ter vivido todas as emoções no futebol.

Saí de São Paulo por volta de 14 horas para assistir o jogo em Campinas, na casa do Rodrigo, meu filho, que insistiu para que acompanhássemos mais uma vitória da nossa seleção juntos; uma Copa do mundo, para os brasileiros, é equivalente ao Natal ou o Thanks Giving para os americanos, é um evento que confraterniza a família. A idéia era sairmos para comer uma pizza após o jogo para comemorar.

Acho importante ressaltar que, a exemplo de Pelé, eu também estava com um mau presságio para este jogo. A França era a primeira seleção de verdade que iríamos enfrentar nesta Copa e vinha de um excelente jogo contra a Espanha que era uma das surpresas da Copa. Começa o jogo, a França se retrai e observa e, a partir dos 10 minutos o que se vê é uma partida de Copa envolvendo o Brasil que, certamente, entrará para a história pelo bizarro da situação.

Como mencionei no início pensava já ter visto de tudo no futebol. Com relação às desclassificações brasileiras em Copas anteriores tenho ainda frescas na memória meus sentimentos que divido com vocês:

1966 – Decepção. Vínhamos do bi-campeonato, uma seleção confusa, veteranos e novatos, a derrota para Portugal apenas confirmou o que todos desconfiavam, não era uma Copa para não-europeus. Garrincha em final de carreira, Pelé machucado e caçado, enfim, quem conhece futebol não poderia esperar muito mais do que foi feito.

1974 – Conformismo. Após o sucesso de 1970, chegamos à mesma Alemanha com uma certa empáfia, o mesmo Zagallo como técnico, que, me lembro bem, antes do jogo contra a Holanda, perguntado se tinha visto o time deles jogar, disse que eles é que deveriam se preocupar conosco. Deu no que deu, mas, mesmo inferior tecnicamente, fomos derrotados lutando.

1978 – Revolta. Após um começo caótico (lembram? Tiveram que chamar o Roberto Dinamite para nos classificar) a seleção foi se ajustando, quase bate a Argentina na casa deles e teve que se contentar com o 3o lugar graças a um critério duvidoso de saldo de gols (jogos em horários diferentes) que favoreceu os donos da casa.

1982 – Frustração. A mais triste e sentida das desclassificações porque o time era ótimo e merecia ter tido melhor sorte.

1986 – Raiva. Desclassificados pela mesma França, que não tinha Zidane mas tinha Platini, nos pênaltis em um jogo que poderia ter sido decidido no tempo normal se Zico não tivesse perdido aquele pênalti.

1990 – Tristeza. Desclassificados pela Argentina num jogo em que fomos melhor o tempo todo apesar daquela Seleção não ter, efetivamente, um elenco que pudesse impressionar.

1998 – Orgulho. Perdeu a final para os donos da casa num jogo anormal. Mas perder uma final é do jogo.

E chegamos à desclassificação de ontem.

Confesso que nunca em minha vida tive uma reação tão estranha como quando o juiz apitou o final do jogo. Não senti raiva, não senti tristeza, não fiquei puto. Nada. Nem frustração. Na verdade o time do Brasil não nos permitiu sequer torcer. Fiquei anestesiado no sofá, sem reação, sem emoção, apenas observando o inacreditável, ou seja, uma seleção, com os melhores jogadores do mundo, sem vida, sem vontade e sequer com lampejos de que em algum momento poderia entrar no jogo.

Ao final, continuamos todos sentados, vendo e ouvindo os comentários tradicionais, as explicações de praxe, ninguém alterado, triste, revoltado, nada. Acho que o Parreira, e os nossos jogadores, são táo geniais que ontem inovaram de uma maneira que só o futebol brasileiro consegue. Eles inventaram a derrota perfeita. Aquela que não tem explicação, não gera emoções e que, de tão brochante, tira até a vontade de protestar.

Até a próxima Copa, guys.

PS 1 – Ah, esqueci de mencionar que cancelamos a pizza…

PS 2 – É bom esclarecer também que não tomo Lexotan e nenhuma outra marca de tranquilizante…

Luis Nassif

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