Atraso econômico e político

Do leitor Rubens Goyatá Campan

Nassif,

realmente, o problema não é a tomada de posição, em si, pelo intelectual, é impossível a neutralidade completa – o problema é a tomada de posição ultrapassar aquele quantum indefinido mas sabidamente razoável de distanciamento analítico que um intelectual deve ter.

O tucano Bolívar Lamounier e a petista Marilena Chauí ultrapassaram esse quantum.

A pérola de Bolívar Lamounier, para justificar que o voto em Lula é dos pobres e atrasados: “a sociologia política ensina que regiões economicamente dinâmicas tendem a votar em candidatos progressistas”. Deve ser por isso que em São Paulo, a região mais economicamente dinâmica do país desde o sec. XIX, surgiram Ademar “rouba mas faz” de Barros, Jânio Quadros, e, atualmente, esse exemplo de progressismo representado pelos quatro deputados federais mais votados pelos paulistas: Maluf, Russomano, Clodovil e Enéas.

Uma obra clássica da sociologia política desmonta essa ligação fácil entre economia pujante e progressismo político: “Comunidade e Democracia”, do americano R. Putnam, analisa, de forma exaustiva e metodologicamente exemplar, justamente o grau de desenvolvimento político e econômico em várias regiões da Itália moderna, e conclui que as regiões mais “cívicas” (Bolonha, Emília-Romana) não são as mais desenvolvidas economicamente (Milão, Turim). Há certa correspondência entre desenvolvimento econômico e sofisticação política, mas não da forma mecânica e simplista que o “intelectual” (com aspas bem merecidas) Lamounier supõe.

Comentário do Blog

Boa lembrança. Foi nessa Nova Itália que teve início a grande reação contra os desmandos da democracia cristã italiana e a revolução econômica que mudou a Itália. A corrupção se encontrava na velha Itália, de Roma e Milão. No caso brasileiro, sempre supus que essa Nova Itália estivesse mais próxima do interior de São Paulo, nas cidades médias de Minas, Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Mesmo assim, o post do Rubens é relevante para mostrar a complexidade do momento atual, exigindo novos pensadores não comprometidos com os padrões convencionais de análise ou com posições políticas próprias.

Luis Nassif

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