Câmbio e ideologia

Estou saindo de uma palestra em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, em um encontro do setor de couros.

São fascinantes essas viagens aos diversos cantos do país, que permitem juntar as peças desse grande caleidoscópio chamado Brasil.

Por aqui, Lula, que sempre venceu nas eleições presidenciais, foi clamorosamente derrotado pelo câmbio. E o governador Germano Rigotto amargou um terceiro lugar nas eleições porque não conseguiu resolver a questão dos créditos do ICMS, nem evitar a debandada de empresas gaúchas para outros estados. Só não tirou o quarto lugar porque não havia um quarto candidato, me dizem empresários gaúchos.

Curiosamente, os eleitores de Alckmin sentem saudades dos tempos do governador Olívio Dutra, que pagava religiosamente os créditos do ICMS. Mas é provável que a maioria vote em Yeda Crusius. E alguns deles ainda têm esperança de que na véspera das eleições o Jornal Nacional traga uma matéria sobrre a origem do dinheiro que iria comprar o dossiê, permitindo a Alckmin virar o jogo.

Mesmo arrebentados pelo câmbio, alguns deles repetem os clichês de que, enquanto não se fizer a lição de casa e as reformas, os juros não podem cair; e que não há outra maneira de controlar o câmbio, a não ser pelo mercado.

É impressionante o poder da ideologia. Tento lhes mostrar que não há nenhuma relação de causalidade entre inflação, juros e ineficiência econômica. Em um ambiente econômico mais ineficiente o patamar de custos é mais elevado do que em um ambiente mais eficiente, mas não há automaticamente mais inflação, pelo fato de que inflação não são custos altos, mas custos em alta.

Eles se surpreendem. Dizem que sou o primeiro a lhes falar que é possível baixar os juros mesmo sem depender de reformas, que é possível baixar os juros e depois batalhar pelas reformas, porque não há relação de precedência entre uma coisas e outra. Que com juros baixos é muito mais fácil se conseguir outras reformas, porque a briga pelos recursos se torna menos acirrada do que em casa em que falta pão.

Quando termino a palestra sou cercado por vários deles, que me pedem para explicar porque sendo as coisas assim tão óbvias, porque todo mundo que eles ouvem repetem sempre a mesma ladainha da lição de casa.

Penso em lhes falar um pouco sobre a tal ideologia, mas o tempo é curto e o avião me espera.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador