Do leitor

O Governo FHC e a Varig
por José Roberto Mendonça de Barros

Escrevo-lhe a propósito de sua coluna de 16 de junho para fazer um reparo à sua afirmação de que o governo FHC fugiu do problema da Varig. Nossa amizade e o respeito que tenho por seu trabalho permitem-me lhe dizer que sua crítica foi injusta, frente aos fatos que passo a relatar.

No início de 2002 iniciou-se mais uma tentativa de encontrar uma solução para o caso Varig. O Arnim Lore, que conhecia muito bem a companhia por ter sido seu diretor financeiro por duas ocasiões, assumiu a presidência da empresa e trouxe o Clóvis Carvalho para a presidência do Conselho de Administração, do qual passei também a participar. Criou-se um Comitê de Credores para negociar o equacionamento das dívidas e, mais importante, contratou-se a Bain & Company para fazer uma avaliação da viabilidade da companhia e em que condições.

A Bain acumulou larga experiência com o setor aéreo e foi, entre outras coisas, a principal responsável pelo “turn around” da Continental Airlines. Por volta de julho de 2002 a primeira versão do estudo ficou pronta e dizia que com certos ajustes a companhia seria viável. O mais importante era reduzir o custo de vendas que atingia 25% da receita de passagens, recorde mundial. A concorrência nacional tinha custo de 17% e cadente, enquanto o “benchmark” internacional era de 15%, devendo ser reduzido para próximo de 10% com a expansão dos “e-tickets”. Alem disto, certamente teríamos que reduzir o pessoal excedente, especialmente pilotos, e fazer um reordenamento de malha, além de um plano de negócios para as subsidiárias, que não seriam vendidas. Na ocasião a Varig detinha mais de 80% do mercado internacional e algo como 60% (se não me falha a memória) do mercado doméstico.

Se a companhia ficasse viável, a partir destas linhas de reestruturação, o passo seguinte seria resolver a questão da base de capital, fluxo de caixa e endividamento. A negociação com os credores encaminhou-se para uma solução clássica: todos eles, públicos e privados, concordaram em capitalizar seus créditos, trocando-os por debêntures conversíveis em ações e elevando o capital da empresa, sem que a Fundação Rubem Berta acompanhasse o movimento, de sorte que a FRB seria diluída e teria uma participação de algo como 20% do total. O BNDES também participaria da operação e, inclusive, faria um empréstimo ponte para capitalizar a empresa enquanto todas a assembléias e demais questões jurídicas fossem sendo encaminhadas.

Como você vê, a operação toda era algo clássico em mercado de capitais, sempre partindo-se da premissa que a empresa seria viável depois de reestruturada, incluindo a modificação na governança, ou seja, a perda do controle por parte da Fundação Rubem Berta, algo que todos os que passaram pela companhia, e não foram poucos, concordam.

Entretanto, a Fundação, na ocasião controlada por um senhor Yutaka, naturalmente não concordou nunca com isto, e tratou de melar o final da reestruturação, aparentemente acreditando na palavra de assessores do novo governo, que teriam garantido resolver o problemas da companhia em 2003, logo após a posse. Como se sabe hoje, esta foi mais uma das muitas promessas não cumpridas e aí está a Varig em seus estertores finais.

Tudo isto é lamentável. Entretanto, tenho absoluta consciência que em 2002 um número enorme de pessoas competentes e adequadamente posicionadas no grupo Varig, no BNDES e no governo, na Bain, em todos os credores, públicos e privados e outras mais fizeram um enorme esforço para recuperar a companhia, sem perder a liderança do mercado, sem elevar o déficit público e sem a venda de subsidiarias importantes.

Infelizmente faltou a FRB e sua governança a percepção da gravidade da situação, o que parece só aconteceu agora quando a situação se tornou crítica.

Luis Nassif

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