E Berzoini não entrou

A “Folha” de hoje traz, na primeira página, a retificação da manchete que deu em 26 de novembro, de que o presidente do PT, Ricardo Berzoini, seria apontado como um dos mentores da compra de dossiê.

A retificação na primeira página é boa prática; nas páginas internas, a explicação para o erro, não. Internamente, se diz que a informação se baseou em conversas em “off” com três autoridades federais que participaram diretamente do caso.

Alguma coisa está errada nessa explicação. Recorre-se ao número cabalístico das três fontes consultadas –presente em todas as respostas à contestação de informações dadas, álibi inspirado no livro sobre Watergate, no qual os autores afirmavam que sempre checavam as informações com três fontes. Quem acompanha o dia a dia da mídia, sabe que esse procedimento da tríplice checagem quase nunca ocorre, mas virou álibi padrão. Uma coluna de notas publica uma nota com determinada interpretação da fala de alguém em uma reunião fechada. Se o autor contesta, lá vem o álibi: consultamos três fontes. E não queira saber quem são.

No dia 28 de novembro, em matéria de reforço à denúncia, o repórter Kennedy Alencar garantiu que Lula tinha certeza do envolvimento de Berzoini. Disse que “em conversas reservadas” (com quem? onde? em que circunstâncias) Lula teria acusado Berzoini de omitir fatos.

Suponha que a apuração tivesse sido feita de forma correta, que três fontes, de fato, tivessem identificado sinais de participação de Berzoini no dossiê, a ponto de garantirem que seu nome seria incluído no processo. A grande matéria seria explicar porque não foi.

Há três hipóteses.

(1) Houve interferência política no relatório para retirar Berzoini. Não faz sentido porque o relatório incluiu o senador Aluízio Mercadante.

(2) A fonte era uma, não três, e sem acesso efetivo às investigações.

(3) As três fontes plantaram um balão de ensaio falso. Quando uma fonte mente, a prática jornalística obriga o repórter a denunciá-la. Se a notícia era falsa, e a fonte levou o jornal a um erro tão relevante na manchete principal, qual a razão para poupar essa legião de fontes? Porque o jornal preservou o “off”, mesmo depois de constatado o erro?

Por essas razoes, cravo sem medo de errar na alternativa 2.

Luis Nassif

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