O pedágio e a matemática

Os grandes lucros em cima do setor público, em geral, se dão através do bom uso da matemática financeira.

Segundo dados dos jornais, o TCU (Tribunal de Contas da União) detectou casos de lucros excessivos de concessionárias. Lembre-se que esse setor é de baixo risco. Grosso modo, as únicas projeções que têm que serem feitas são em cima do movimento de veículo e dos custos operacionais. No caso de rodovias em operação, nem esse risco existe.

Em geral, o plano de negócios do setor consiste dos seguintes dados:

No campo das despesas, a) despesas operacionais de manutenção da estrada; b) investimentos adicionais na ampliação da malha; c) pagamento pela concessão.

No campo das receitas, a) o número de veículos que transitará anualmente pela estrada; b) o valor do pedágio.

Vamos a algumas simulações, mostrando as possibilidades que existem em um contrato de concessão mal feito.

Clique aqui para conferir a planilha.

Exemplo

Despesas

1) Manutenção: R$ 30 milhões anuais, crescimento de 2% ao ano.

2) Investimento: R$ 480 milhões em dez anos, começando no primeiro ano.

3) Pagamento pela concessão: R$ 100 milhões

Receita

4) Movimento inicial de carros: 4 milhoes/ano

5) Crescimento: 5% ao ano estabilizando a partir do 10o anlo

6) Pedágio: R$ 17,00

Resultado

TIR: 17% ao ano

Simulação 1

Em vez do investimento começar no 1o ano, começa no 5o

Basta isso para a TIR saltar para 37% ao ano.

Simulação 2

Vamos supor que houve uma subavaliação do movimento nas estradas. Em vez de 4 milhões de veículos ano, o movimento inicial real é de 5 milhões.

A TIR vai para 29%.

Estimando-se um crescimento do movimento de 10%, não mais de 5%, juntando com o movimento inicial maior, a TIR salta para 39%.

Simulação 3

Permitindo investimentos a partir do 5o ano (e não mais do primeiro ano), supondo-se um movimento inicial de veículos de 5 milhoes ano e um crescimento de 10% ao ano, a TIR explode para 68% ao ano.

Simulação 4

Vamos pegar esse Cenário Real (movimento inicial de 5 milhoes de veículos, crescimento de 10% e uma TIR de 13%). Nesse caso, em vez de R$ 18,00, o pedágio deveria ser de apenas R$ 8,11.

Aparentemente o TCU procedeu a cálculos similares e chegou à conclusão (não em cima de estimativas mas de dados reais) de que houve subestimação de receita e superestimação de despesas.

Em vez de avaliar tecnicamente o relatório, analisar consistências ou inconsistências – afinal, o que está em jogo é o pedágio a ser pago pelo usuário –, ficou-se nesse estardalhaço de que o jogo é estatização vs privatização.

Luis Nassif

28 Comentários

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  1. De acordo com vários
    De acordo com vários veículos, o governo estaria sim avaliando a “gestão estatal” das praças de pedágio. Portanto, a discussão não é entre dois modelos de privatização, mas entre um modelo de concessionário e o estatal. No caso estatal, já se sabe: é pôr pedágio em estrada esburacada. Outra: quatro anos não é tempo demais para se definir um modelo de gestão de meia dúzia de rodovias? Por que não levar mais quatro? Com o terceiro mandato do Lula (a conferir), vai haver tempo de sobra.

  2. Paulo, tentar reduzir preço
    Paulo, tentar reduzir preço de pedágio é o quê? Deveria ser saudado por todos. Mas a herança fiscalista trata qualquer medida de desoneração como populismo. O primeiro governo Lula foi o terceiro de FHC. Quando se começa a romper com esse fiscalismo, ainda que timidamente, merece aplausos ou ser acusado de populista?

  3. Há o risco de revogação da
    Há o risco de revogação da concessão por quebra de contrato do poder concedente sem o devido ressarcimento. Muda o governo central e baixa o espírito do Evo Morales. Acho que o prêmio embutido na taxa de retorno é menos pela leniência ou burrice do poder concedente, do que pela percepção de risco governo pelo concessionário. É o risco país aplicado dentro do próprio país, daí o prazo exageradamente curto do retorno de capital. As coisas me parecem que são assim, embora eu sonhe que deveriam ser diferentes, como dizia G.Bernard Shaw “You see things as they are and ask, ‘Why?’ I dream things as they never were and ask, ‘Why not?'”–

  4. Para não deixar passar em
    Para não deixar passar em branco, acho que esse debate é da maior pertinência. Sua abordagem é instigadora, concordemos ou não com a sua opinião. Parabéns.

  5. Nassif:
    Isto não tem nada com
    Nassif:
    Isto não tem nada com o assunto! Mas é importante ver o que está acontecendo no desabamento das obras do metrô de São Paulo!!! Os operários que escaparam estão sendo proibidos de se manifestarem e a polícia do metrô está sequestrando os seus celulares. Como você sabe para esta estranha polícia do metrê é proibido morrer dentro do metrô, até quem se joga embaixo das composições é recolhido com pás e “removido” para o hospital, falecendo a caminho.
    A coisa pode ser grave!!!

  6. Nassif:
    Vou refazer minhas
    Nassif:
    Vou refazer minhas simulações neste tópico

    Custo de usar estradas com pedágio todos os f-d-s por 1 ano (50 semanas) = 500 reais

    Custo de uma voltinha na régisbittencourt = 500 reais (pneu, roda, amortecedor, fora o perrengue eos riscos intangíveis q não se materializaram)

    Eu quero +pedágio, tá barato
    É essa a conta/buraco que nós consumidores nos preocupamos
    abrx

  7. Nassif,
    Você acertou na
    Nassif,
    Você acertou na mosca!
    Siga em frente, pois essas planilhas simples ajudarão a todos entenderem como os golpes são dados e, como efeito colateral, a combater os ‘cabeças-de-planilha”…Assim é que se usa planilha!

  8. Parabéns pelo comentário
    Parabéns pelo comentário ontem no JC. Em 18.10.78, trabalhando como tesoureiro, foi inaugurada a Bandeirantes. Com o pedágio irrisório, não era cobrado das 0 às 6 hs. O Quércia, através do Gov. Montoro, começou a falir a Dersa, para hoje estar se aproveitando disso, fazendo parte das concessionárias. Aliás, nesse país conceder é dar presente, ou será que essas privatizações não foram concessões de Natal. Adolfo César(ex-func.Nossa-Caixa)

  9. Economistas canalhas, achava
    Economistas canalhas, achava que advogados eram os mais canalhas, estou começando achar que no brasil são os economistas, com rarissimas exceções, culpa sua Nassif.
    Um abraço.

  10. Nas estradas se SP o
    Nas estradas se SP o pedágio é um verdadeiro roubo, que enriquece algumas famílias . O caras arrendaram estradas novas , de primeiro mundo,e fazem nada mais que papel de gigolo de estrada . Ida e volta de Campinas a Ribeirão a Preto dá mais de 40m reais. E se não me engano já existe um imposto para manuteção de estradas. E sempre entre os ferrados está a amaldiçoada classe média brasileira, que verdadeiramente paga os impostos .

  11. Foi o que disse no post do
    Foi o que disse no post do outro texto sobre o assunto. Os contratos não devem permitir lucros incompatíveis com um negócio de risco próximo de zero. Isto ocorrendo, é a sociedade financiando a galinha dos ovos de ouro dos empresários do setor.

  12. Já que o assunto é sobre
    Já que o assunto é sobre obras viárias, é importante apoiar as iniciativas, inclusive do MP, de investigações relativas à linha amarela do metrô. O acidente de hoje é grave e os moradores vizinhos já tinham informado sobre rachaduras em casas e afundamento da rua lateral. Como resposta, o consórcio responsável afirmou que não havia relação com a obra. É uma barbaridade. As casas estão lá há trezentos anos, de repente surgem trincas e as obras do metrô não têm nada a ver com isto? Já morreu um operário no trecho do túnel da Oscar Freire. Que fim levou o inquérito? Uma investigação, inclusive de cunho criminal, é necessária.
    Longe de ser simpatizante de Paulo Maluf, não há como negar a superioridade técnica das obras “do” Maluf. Sem entrar nos méritos urbanísticos (minhocão, que horror) nem nos financeiros (águas espraiadas). Já viram as infiltrações no túnel Cidade Jardim, da gestão Marta-PT? Observem o teto do túnel, é tosco. Comparem com o túnel Airton Senna, da gestão Maluf. Verifiquem também os problemas na linha verde, gestão Quércia. E, finalmente, os problemas na linha amarela tucana. Vão todos ter que admitir que, tecnicamente, Maluf faz e, além do mais, faz melhor.

  13. Olá Nassif,
    Pôxa, olhando os
    Olá Nassif,
    Pôxa, olhando os comentários, percebo que ainda sobra ideologia e falta objetividade. Um diz que as rodovias estavam um brinco quando foram concedidas, o que não é verdade. Outros querem praticamente tabelar o lucro das empresas. Muitos ainda acham que ganhar dinheiro é pecado mortal.
    Gente, trata-se de empreendimento financeiro como qualquer outro. Regule claramente, incremente a concorrência, analise resultados, renegocie, e o resultado é (bom) jogo jogado. O resto é ideologia barata.
    [ ]´s

  14. Acho muito correto a
    Acho muito correto a sociedade controlar abusos. Inclusive é o que espero de um governo digno do nome.
    Não faz muito sentido defender preço alto de pedágio se pode ficar mais barato.

  15. Não há razão para que o
    Não há razão para que o Estado não possa administrar de forma eficiente ,se pode construir as estradas, de primeiro mundo como é o caso de SP. A Washingtom Luis, a Bandeirantes, a D Pedro, e parte da Anhaguera foram entregues novinhas. Que famílias herdaram isto? Qual aseu lucro ?
    Assim é um maná para quem recebe este presentão. Houve muito papo a boca pequena sobre parentes de políticos herdando esta benesse em SP.

    Ida de volta e a Ribeirão a mais de 40 reais é assalto!. E pagamos IPVA, e tem , acho, mais imposto para sustentar o sistema rodoviário.

    A questão é que, potencialmente, interessa deixar a coisa ficar ruim, de propósito, para que o publico clame por pedágio. Clame pelos gigolos de estrada .

    Fpi assim na telefonia . Reprimiram as tarifas, descapitalizaram inviabilizaram o investimento, e entregaram a telefonia , de um País que fez até fibra óptica , área em que trabalhei , a dois paises atrasados na área: Portugal e Espanha.

    Eu esctei que foi assim porque Alemães e Suecos e outros que faricamos equipamentos não poderiam aomesmo tempo gerir o sistema .Ou seja Portuqgueses e espanhois, são uma nova forma de laranjas.

    Hoje nossa fabrica de fibras ópticas, que sei TER SIDO UMA DAS MELHORES DO MUNDO, esta enferrujando vitima de um golpe financeiro.

    Teorias a parte é o seguinte: é o velho entreguismo e patrimonialismo em ação. Nada mudo de substancial na nossa cultura. Cok citado por Tomma sodi Lampedusa: os leões deram lugar aos chacais .

  16. A Tejofran é da área de
    A Tejofran é da área de serviços. Mas é um absurdo o tanto de contratos que conseguiu no governo de São Paulo. Romper com esse cartel será um dos maiores desafios do governo Serra.

  17. Nassif,

    é claramente um
    Nassif,

    é claramente um problema ideológico.

    Usar dados incorretos ao se fazer a concessão tem cura: é só pedir na Justiça a repactuação dos valores em virtude de onerosidade excessiva. Se for feito no âmbito da justiça não há o que se falar de quebra da segurança dos contratos e da legalidade.

    Eu não conheço a história completa do caso das rodovias paranaenses mas digo, se o governador não está entrando na justiça, então ele está só fazendo marola para aparecer, e não para resolver.

    Agora com respeito à suspensão dos leilões é claramente um problema ideológico.

    Para se baixar o preço do pedágio e evitar a bitributação o governo terá de fazer uma concessão não onerosa e NÃO COBRAR PELA CONCESSÃO E NEM EXIGIR INVESTIMENTOS adicionais, só a manutenção.

    Agora se o Lulla (com dois elles) foi eleito empunhando a bandeira do NÃO ÀS PRIVATIZAÇÕES.

    Como é que ele vai passar a concessão de uma rodovia à iniciativa privada sem cobrar nada? Vai “doar” as estradas brasileiras?

    Manter as rodovias federais e cobrar pedágios cai no caixa único da União.

    Criar uma autarquia vai se criar mais um cabide de empregos.

    Alguém pelo amor de Deus ajude a Dilma Russef a sair da armadilha criada pelo discurso anti-privatização do Lulla porque as estradas estão paradas por culpa delle.

  18. Nassif:
    A Tejofram além de
    Nassif:
    A Tejofram além de ser da área de serviços tem como proprietário o Sr. Felipe que por coincidência foi tesoureiro da campanha do Covas, sendo que o comitê do Covas funcionou em uma casa do Sr. Felipe.
    Durante o tucanato a Tejofran multiplicou o números de funcionários quase 10 vezes!
    Isto sem contar com a Power Segurança que durante um bom período teve quase que exclusividade no setor de segurança privada nos orgãos estaduais. Nos hospitais da Estado era muito comum as outras empresas de segurança que não recebiam em dia denunciarem o contrato e abandonarem os serviços de segurança.
    Daí apelava-se para o artigo 24 da lei de licitação e contratavam a empresa de segurança em regime de urgência. Pago dez brejas se você adivinhar qual empresa era contratada!

  19. Sou contra essa idéia de
    Sou contra essa idéia de que pedágio administrado pelo governo resulta em rodovia esburacada, existe uma rodovia em SP (acho que Airton Sena) que o pedágio é administrada pelo DERSA e já foi objeto de reportagem ressaltando a qualidade desta gestão!

  20. parabéns pelo belo artigo
    parabéns pelo belo artigo publicado,que li antes no “jornal o dia”, a respeito dos pedágios no brasil. mesmo não tendo carro penso que as concessões de rodovias no brasil sejam caso de polícia.

  21. As privatizações feitas nos
    As privatizações feitas nos últimos 15 anos no Brasil, deveriam ser tema de um estudo mais aprofundado.

    O motivo pelo qual a privatização das estradas gera mais discussão, é o fato de que os usuários lidam diretamente de quem os cobra.

    Mas, todas elas foram mal feitas, por um único motivo apenas: visavam captar dinheiro.

    Apenas isso. Não têm cunho ideológico – tanto que não foi tema da 1a. campanha de FHC – não se preocupou com as garantias – a AES recebeu um aporte de 5 bilhões do Gov. Federal por conta do Mendonça de Barros e cia. terem admitido as garantias, e que, quando foi necessário executá-las não tinha nada em Cayman… etc..

    Tome-se pela falta de gerência financeira, um brutal aumento do gasto com a dívida, um aumento cavalar dos tributos e aí sim, a venda de empresas públicas para se arrecadar dinheiro extra.

    Aloysio Bionde estava certo, o que se gastou nas empresas antes das vendas foram quantias iguais ou até maiores em nome de sanear o que já ia ser alienado.

    Não entro no mérito do bem ou mal que a privatização leva, mas creio ser essa uma admissão de imcompetência, vender pra melhorar o investimento, ou pior, a gestão.

    É um país bem estranho esse…

    Abs

    Paulo

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