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O “suponhamos” do Delfim

O deputado Delfim Netto, em seu artigo de hoje na “Folha” ironiza o “suponhamos” de econoimistas que “supondo” que haja uma queda violenta nas despesas correntes, resolverão todos os problemas do país.

Participo do Conselho de Economia da FIESP, dirigido por Delfim, que logrou juntar um grupo bem heterogêneo de membros. Durante várias sessões, revezaram-se os óbvios Fábio Giambiagi, Armando Castellar, Raul Velloso, acenando com o fogo do inferno para as despesas em geral (especialmente Previdência e pessoal), sem mencionar juros.

Certo dia, vendo meu incômodo com a desconsideração do tema juros, Velloso interompeu sua exposição: “Estou vendo que o Nassif está incomodado (eu não conseguia parar de mover a cabeça negativamente) com o fato de eu não mencionar os juros. É que minha palestra é especificamente sobre despesas correntes”. Só faltava: um consultor vai analisar uma empresa que tem superávit operacional, mas que não consegue pagar os juros da dívida; e evita falar dos juros, porque sua proposta é só falar de outras despesas.

No Conselho, várias vezes alertei que o jogo nunca mais seria o mesmo, que a facilidade com que se conseguia reduzir benefícios sociais (mesmo os flagrantemente injustos, como as superaposentadorias) era prática de outros tempos, que a falta de resultados na economia tinha eliminado esse álibi, que havia um novo agente político, o povão, que não aceitaria mais goela abaixo esses sacrifícios em troca de promessas vãs.

Como mediador do Conselho, Delfim só observava. Mas é evidente que, por dentro, sabia da irrelevância dos “suponhamos que” dos cabeças.

Na verdade, o único economista que apresentou propostas consistentes de redução de despesas era Yoshiaki Nakano, por sua experiência de gestor no governo Covas, quando conseguiu uma revisão geral em licitações (pregão eletrônico), nos contratos, em processos e na implantação da informatização ampla. Mas conseguiu mergulhando no micro, nas entranhas do orçamento, não apenas nos grandes números, como fazem os planilhas.

Luis Nassif

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