Os ciclos especulativos

O artigo de Yoshiaki Nakano, no “Valor” de hoje, traz a pergunta que não quer se calar. Nakano observa um paradoxo, que acompanhou outros momentos de internacionalização financeira. Através de seus mercados e instrumentos financeiros sofisticados, os países centrais têm mais condições de criar riqueza financeira do que riqueza real; os emergentes mais condições de criar riqueza real do que financeira.

Cria-se um dilema, então, cujo reflexo são as diversas bolhas especulativas. O investimento passa a ser contido pela demanda. Há um descasamento entre a abundância de capital financeiro e a incapacidade da economia real em dar vazão a novos investimentos – que esbarram, justamente, nos problemas de demanda. O resultado é um aquecimento nas cotações dos ativos reais, explodindo em várias bolhas especulativas.

Em outras palavras, compro ações de uma empresa com capacidade de vender 100. Há excesso de recursos disponível. Cria-se uma competição que faz as ações subirem para 150, só que a rentabilidade não sobe na mesma proporção, porque não é possível encontrar demanda para a nova produção.

Por outro lado, nos emergentes há um enorme aumento da produção (absorvida pelos EUA) sem que haja instrumentos financeiros. A poupança fica maior do que o investimento, levando-se a aplicar nos ativos financeiros dos desenvolvidos.

Esse descompasso levou a sucessivas crises, do século 19 a 1929.

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. “Por outro lado, nos
    “Por outro lado, nos emergentes há um enorme aumento da produção (absorvida pelos EUA) sem que haja instrumentos financeiros. A poupança fica maior do que o investimento, levando-se a aplicar nos ativos financeiros dos desenvolvidos.”
    Prezado Nassif, essa e’ a visao, entre outros, de Ben Bernanke.
    Eu acho q a situacao e’ um pouco mais complexa, faz parte de uma armadilha .
    Demais simples achar q nos pais pobre esiste um excesso de poupanca..
    E

  2. Desculpe-me, caro Nassif, mas
    Desculpe-me, caro Nassif, mas essa tese eu já tinha lido antes no artigo escrito por John Holloway, Frente ao abismo: ascensão e queda do keynesianismo”. A tese completa ´´e que, frente ao descompasso entre a rentabilidade esperada/apostada e a rentabilidade efetiva, a expansão do crédito acomodava os problemas, daí o ucesso das políticas keynesianas. Tenho cá minhas dificuldades com essa tese. Ela só me parece bastante aderente à realidade pós anos 1960. Abraços, Paulo de Tarso.

  3. Sempre quis entender como
    Sempre quis entender como isto funcionava..pois se o Basil já pagou, acho, centenas de bilhões de dólares só em juros, para onde ia este dinheiro..? A resposta é bem lógica…

  4. Ué, isso é uma derivação da
    Ué, isso é uma derivação da análise do Marx sobre a crise de superprodução. Por isso o capital tem uma aspecto destrutivo, para reequilibrar oferta e procura.

  5. Caro Nassif:

    Vamos analisar
    Caro Nassif:

    Vamos analisar um pouco essa estória de “instrumentos financeiros sofisticados” aos quais o professor Nakano se refere.

    A parte matemática é bastante elaborada, mas a identificação das principais variáveis envolvidas nos estudos permite a montagem de planilhas bem mais simples com resultados coerentes com os modelos mais complexos. É o que você está habituado a fazer no dia-a-dia, o que já é um trabalho notável.

    Mas existe um nível superior, que é a análise do meio-ambiente do investimento, que pouquíssimas pessoas no Brasil fazem e você tateia em seus artigos de tempos em tempos. Pena que seja mais por (boas) intuições do que por um trabalho mais elaborado de análise sistêmica, metodologia que os professores ligados ao Nakano poderiam desenvolver no país.

    Um exemplo de pensamento realmente sofisticado é o do professor Ignacy Sachs. Acompanhar o fluxo de idéias dele é uma das experiências mais gratificantes para quem pretende estudar Economia a sério. Para que os leitores possam ter uma breve noção do que se trata, vou contar um exemplo bem simples:

    Digamos que as planilhas do Nassif indiquem que é um bom negócio produzir vinhos finos no vale do rio São Francisco. Existe demanda firme para o produto, o custo das terras é baixo, existem variedades de uva adaptadas à região, o custo da mão-de-obra treinada é reduzido, os governos da região fornecem incentivos fiscais, além de uma boa estrutura de escoamento da produção. Investimento interessante, não é?

    Aí chega seu Inácio, um sujeito vindo da terra do Papa (o anterior) e fala:

    – Woda.

    O entusiasmo se arrefece na hora. Todo o empreendimento depende de “woda” (água, em polonês) e as condições das nascentes, em especial na Serra da Canastra (MG) e nas veredas é precária. Se por um lado o clima seco garante uma maior sanidade das plantas e a qualidade da uva, por outro aumenta demais a evaporação da água cujo fornecimento está cada vez mais comprometido. No limite, tal qual os rebanhos que teimam em perambular pelo sertão, as parreiras podem morrer de sede. Prejuízo total.

    Sofisticação é isso aí. Os economistas mais avançados fazem exercícios assim o tempo todo e é por esse motivo que o Brasil – e outras nações – recebem tão poucos investimentos: não pensam o circuito completo, para usar o exemplo, o país não refloresta e protege a Serra da Canastra e as veredas. Tudo o mais – desde a sobrevivência dos rebanhos e a subsistência dos sertanejos até a produção de excelentes vinhos – é conseqüência.

    Como a análise econômica é primitiva, o mercado financeiro brasileiro se refugia nos papéis. Os sertanejos precisam sobreviver, mas o desemprego é enorme. Seu Inácio fala:

    – Gwalt.

    E aí, quem tiver juízo…

  6. Não li o artigo, mas colocada
    Não li o artigo, mas colocada desse jeito a questão, fica parecendo que todo movimento especulativo foi gerado por uma força oculta, ou mesmo por características inerentes e diferenciadoras entre os emergentes e os “centrais” – mas aí, a meu ver, cairíamos num situação sem escapatória.
    O que você pensa da tese dos austríacos de que essas crises foram geradas devido a uma má compreensão, por parte do governo, das preferências temporais dos agentes? Assim, ao reduzir a taxa de juros além do ideal, teriam agravado a crise…
    (não sou economista; favor não descer a lenha no meu comentário)

  7. Se entendi corretamente
    Se entendi corretamente tanto os produtos como a poupança da periferia flui para o centro. Mas este “financiamento” do consumo dos americanos tem um custo. Certo? É aquela questão do jogo de poker . Alguém tem que perder para alguns ganharem.

    Senão o consumo seria também moeda? Ou seja a capacidade de consumir deveria ter uma “valor”? Ou um preço? Acho que não

    O resultado de um período anterior de liberalismo, aind a com a ética protestante valendo, foi 1914, 1929 e 1939.

    O que virá agora? A China me dá a imagem de dois 747 aterrisando ao mesmo tempo num Titanic que acaba e bater num Iceberg. Nem oxigênio, muitomenos água, eles terão para continuar assim.

  8. Um exemplo típico destes
    Um exemplo típico destes cicloe especulativos é o que esta acontecendo com a CHINA e os EUA.

    A CHINA vende seu excesso de produção para os EUA, o que gera um tremendo acúmulo de divisas. Com dinheiro em caixa a CHINA investe em Títulos do Tesouro Americano, ai o dinheiro volta para os EUA.

    A crise pode ocorrer se quebrar um dos elos desta corrente.

  9. O curioso é que, de um certo
    O curioso é que, de um certo lado oposto, o site Cultura e Mercado, traz uma discussão semelhante no seu Fórum da semana (http://www.cultura e mercado.com.br):
    Qual desenvolvimento?
    14/01/2007 André Martinez
    O ser humano quem detém o poder da preservação do meio ambiente e o da constituição dos modelos sociais. E sua capacidade em lidar com a ética das relações entre o local e o global – determinante. Depende dela, um futuro viável para o estranho e paradoxal presente em que vivemos, quando paradigmas tecnológicos e comportamentais de toda uma Era são rompidos enquanto abismos sociais, conflito étnicos, guerras e excessos ambientais banalizam a morte em todo o planeta.

    – Como posicionar o papel político da cultura diante do paradigma neoliberal de desenvolvimento?

    – Como conciliar cultura e economia local com os interesses hegemônicos globais do capital?

  10. Taí este é o principal motivo
    Taí este é o principal motivo para deixar a taxa cambial flutuar, esta bolha vai estourar e quem tiver com dólar vai perder dinheiro.

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