Os grupos nas universidades

Enviado por André Oliveira

Nassif,

Interessante seu comentário a respeito dos concursos para docentes. Apesar de não podermos dizer que todos os concursos públicos para docentes são uma ação entre amigos, o fenômeno é, de fato, bastante conhecido, tornando-se até anedótico na vida universitária.

A discussão em torno deste problema entretanto terá de passar por outras discussões tão ou mais espinhosas como o que vem a ser a tal democracia universitária ou quem detém o poder político em uma universidade pública. Da forma como hoje está a administração e gestão de uma universidade pública é, de fato, uma ação entre amigos.

Temos uma versão de democracia peculiar na qual há uma assimetria entre o direito de votar e o de ser votado. Na versão comum da democracia estes direitos estão sempre juntos. Ter direitos políticos significa tanto poder votar quanto poder concorrer a um cargo eletivo. A versão universitária de democracia produziu uma cisão nesta relação polar. O direito a concorrer aos cargos eletivos, tenham eles funções acadêmicas ou não, é exclusividade de uma classe de funcionários universitários, a classe dos docentes. O restante da comunidade universitária, funcionários não docentes e corpo discente, é chamada para dar legitimidade a esta disputa particular, interna, mas de resto ficará, a partir do encerramento do processo eleitoral e da partilha dos cargos que se segue, fora das instâncias decisórias da Universidade.

Como a indicação para cargos de confiança é feita pelos ocupantes de cargos eletivos, a resultante deste sistema é o controle absoluto da administração universitária nas mãos de uma classe de funcionários, a classe docente pois professores indicam professores para ocupar os cargos de confiança. Me refiro aos professores desta forma pois a percepção que estes têm de si, ao menos nas instituições publicas com louváveis exceções, é de uma classe a parte.

Como regra geral não se sentem como parte de um corpo de funcionários. É nítida, de fato, uma certa atitude proprietária, o que é de se esperar considerando sua posição de dominância na estrutura hierárquica. A palavra funcionário costuma ser usada para referir-se aos funcionários não docentes. Mas como se justifica tal situação? A resposta: Os títulos. Se é um doutor então é porque é competente, é inteligente, brilhante. Só quem convive no meio universitário para entender como isto é uma ilusão feita por encomenda. Tão vazia quanto a expressão “excelência acadêmica”, tão repisada.

Não são apenas os concursos docentes que sofrem com tendências a serem ações entre amigos. O próprio processo para se alcançar o título em uma pós-graduação já tem em si as sementes para esta mentalidade. Os membros das bancas examinadoras são escolhidos pelo próprio pós-graduando em conjunto com seu orientador. Se excluirmos casos de tentativa de suícidio acadêmico esta escolha passa, mesmo que inconscientemente, por relações de simpatia pessoal, de preferências pessoais. Estão postas aí as pré-condições básicas para a formação das igrejinhas do mundo acadêmico as quais Milton Santos costumava se referir com amarga ironia quando falava da hipocrisia na academia. São os grupinhos fechados. É esta lógica de grupos que domina o quotidiano da vida acadêmica e é ela que precisa ser combatida pois é nela que está encravado o cerne da ineficiência administrativa

Comentário meu

André,

leve em conta que esse conceito de democracia está mal aplicado para a Universidade. A Universidade não é uma democracia gerida por seus membros, mas uma instituição pública que deve prestar contas aos verdadeiros controladores: os cidadãos.

Por isso mesmo, defendo que haja um controle externo, um reitor ou um conselho universitário que represente a comunidade, os cidadãos, as forças produtivas. Esse Conselho não iria interferir no conteúdo acadêmico, mas fixar metas e cobrar.

Luis Nassif

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