Bolívar Lamounier foi o primeiro cientista social, de que me lembro, a identificar claramente o surgimento da opinião pública moderna no Brasil, em fins dos anos 80.
Seu engajamento político na campanha, no entanto, faz mal a ele e a nós, seus admiradores. Que jornalistas definam o voto em Lula como o do atraso (por provir do Nordeste) e em Alckmin os do progresso (por virem de regiões do agronegócios) ainda passa. Mas, para um sociólogo da sua envergadura, não dá, conforme escreve hoje na página de Opinião da “Folha”.
Lula não foi eleito no nordeste por ter um perfil ideológico confuso. Foi eleito porque a Bolsa Família funcionou e os pobres entenderam que havia alguém do seu lado. E nem se venha falar em coronelismo e coisa e tal, porque o voto em Lula aconteceu passando por cima da mediação dos coronéis.
Lula perdeu votos nas regiões de agronegócios e em muitas outras, não por ser anacrônico ou coisa que o seja, mas porque praticou uma política cambial suicida.
Dizer que os votos em Alckmin representam a ânsia do país por uma plataforma modernizadora e progressista tem a mesma irrelevância que o artigo pró-Lula de Leonardo Avritzer, na mesma página do caderno Opinião da “Folha”, afirmando que a eleição de Alckmin “não permitirá o crescimento econômico nos próximos anos”, e pretende “insistir em valores morais próprios de uma sociedade oligárquica que contrariam uma agenda de ampliação de direitos no país”.
Que Deus nos proteja dos intelectuais engajados. Mais que isso: que Deus os proteja de seu engajamento. E que Bolívar volte o mais rápido possível para a luz das opiniões técnicas e das análises profundas. Deixe esse proselitismo cego para Boris Fausto e Marilena Chauí.
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