Todo gay tem que morrer

Todo gay tem que morrer

24/09/2011
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Que virem cinzas, purpurina, alimento para vermes, tanto faz. Mas o fato é que, sim, todo gay tem que morrer. Sabe por que? Todo gay é gente, e antes disso, um ser vivo. Até onde sei, seres vivos, um dia, morrem. E esse texto começou com esse título polêmico e frágil justamente pra mostrar que, nós, gays, somos seres vivos. Capazes de mudanças!

Que muitos de nós levamos vidas muitas vezes insalubres, regadas a muito álcool, drogas, sexo e Lady Gaga, a mídia já fala. Aos montes. O que fica meio pra escanteio é o nosso dia-a-dia. Os longos e talvez difíceis anos de escola, e pasme, difíceis não só por termos que entender sobre a polaridade de moléculas orgânicas em química, mas também por entender como um mundo, fruto de uma evolução de moléculas à seres complexos, seja lá se você acredita em Deus ou no Big Bang, pode discriminar uma – hoje classe – de pessoas que nada mais são que produtos dele.

Deixa eu ser mais claro.. o que mais me impressiona em toda essa discussão é que as pessoas não entendem, a fundo, que nós somos também pessoas. Posso estar te confundindo, mas não. É só olhar bem para os olhares que nos lançam todos os dias nas ruas. Aposto que se, alguém considerado “normal” passear com uma lhama na avenida paulista receberá os mesmos olhares que eu recebo quando dou às mãos ao meu namorado.

É inusitado para o mundo ser gay. Estar com alguém do mesmo sexo, é no mínimo, para eles, antinatural. Mas quer saber? Ser inusitado é legal. Não tem essa corrente filosófica moderna (pra não dizer filosofia barata de Orkut) que em resumo diz que ser diferente é legal? Pois é.. nós somos sim diferentes, e queremos direitos de iguais. Olha, não é viagem minha, mas aposto que pelo menos metade dos que me lêem agora, carregam consigo algum trejeito ou objeto gay. Sei lá, uma corrente da Tinker Bell, um cabelo estilizado, uma roupa mais ousada. Somos, sim, diferentes. E temos que nos fazer entender como diferentes.

A grande não aceitação vem do fato de querer criar-se um estereótipo humano. Mas quem seria o modelo desse estereótipo? Quais são os reais bons costumes? Pra mim a pessoa com mais moral e bons costumes é aquela que sabe respeitar. Sou a favor da diversidade, e não só sexual. Assim como aprendemos a entender que negros são gente, que mulheres tem as mesmas capacidades que os homens, e que índio não quer cachimbo. Aprendemos a respeitar comunistas, judeus e asiáticos. Vamos também entender que ser gay não é sinônimo de ser pervertido, drogado, sem-futuro?

Poderia agora fazer uma lista de gays do mundo artístico, corporativo e político. Muitos ficariam perplexos, tanto pela quantidade, como pela qualidade dessas pessoas.

Nem todo gay quer ser mulher, e nós gays precisamos entender isso mais que os não-gays. Você precisa mesmo se purpurinar tanto? Olha, não é preconceito meu, mas não sei se vocês sabem, esse estereótipo gay-rosa pode ter sido útil em determinada época para, através do humor, tentar uma aceitação. Todo não-gay ri de uma bicha louca! Mas chegou a hora de pararmos de nos tratar e/ou deixar tratar como piada. É hora de sentar, conversar e agir. Agora a coisa tá séria!

Não que já não tenhamos passado por perrengues maiores. Já fomos perseguidos, enforcados, queimados. Sempre odiados. E que vergonha eu tenho daqueles que afirmam que isso é por medo, ou por inveja. Vamos acordar.. isso é porque o ser Humano, por natureza ou não, é intolerante. E a menos que o provem o contrário, vão continuar sendo. É hora de provar a nossa força, aproveitar o momento propício onde, mais do que nunca, temos pelo menos aqui na nossa terrinha, a oportunidade de mudar algumas coisas.

Passamos de alvo de críticas para alvo de discussão, em prol da tolerância, da aceitação, dos direitos! Galera, se tem alguém errando muito nessa nossa época, não são os não-gays, somos nós. Há alguns anos, conquistamos um espaço enorme aqui em São Paulo, um dia muito esperado por muitos de nós todos os anos, na principal avenida da cidade. Por uns poucos anos, chegamos a tratar o movimento com seriedade política, e reivindicações. Mas assim como toda a sociedade brasileira, perdemos totalmente nosso norteamento. Nos fechamos em nós mesmos, e estamos cada vez mais nos perdendo.

A maioria de nós mantém todas as baladas lotadérrimas aos finais de semana. Custa, em um final de semana, dedicar-se ao seu direito de exigir mudanças? São 52 finais de semana por ano, em um deles, vamos nos juntar e discutir o que queremos? Somos enormes, grandes, estimados em 10% da população mundial. Poxa, somos pelo menos 600 milhões de pessoas. Temos força, e olha, podemos mudar os resultados de uma eleição, por exemplo.

Está mais do que na hora de nos fazermos ouvir, de parar de nos omitir. Nós estamos nos escondendo, não por medo, mas por nos acharmos bons o suficiente para não precisar de mais ninguém. Olha, não nos culpo, afinal, desde pequenos passamos por situações desagradáveis que nos fizeram manter distância daquilo que precisamos mudar: o mundo!
Amigos, tá na hora de irmos ao supermercado, e ter uma estante de cosméticos para gays! Tá na hora de irmos à uma loja de departamentos, e ter uma seção de artigos Masculinos despojados, modernos.. porque é isso que nós somos! Vocês percebem que nós não avançamos nada nessa pseudo mudança que estamos passando? O que eu quero mesmo é ir comprar um carro sedan, e o comercial ter um casal gay com um filho no banco de trás.

Eu quero que no Dia dos Namorados, eu vá à Boticario, e a atendente me mostre os perfumes para homens e para mulheres, não me levando diretamente aos femininos. Quero cartões de presente trabalhados especialmente para nós. Quero um buquê de flores que exprima nosso sentimento, que não é igual. Quero que na novela, os casais gays se beijem. Quero que no shopping, o segurança não peça para eu me retirar pois é um local de “família”. Quero ser recebido em um restaurante famoso, na melhor mesa para dois, sem que o recepcionista me diga que ela é para casais, não para amigos.

Quero que quando eu vá comprar um título de um clube, eu possa incluir meu filho e meu esposo sem que a senhorinha da tesouraria me olhe estranho.

Quero um dia ser presidente de uma grande empresa, e que nenhum funcionário me chame de bichona imprestável quando eu tomar alguma decisão que não lhe pareça boa. Eu quero ser respeitado, como gay, mas antes, como Humano.
Olha, eu quero tanta coisa.. e aposto que cada um quer mais outras tantas incontáveis. Parece utópico, mas tanta coisa já pareceu, e hoje é normal. Mas o que eu mais quero mesmo, é que não resumamos nossas existências, que são tão belas, inexplicáveis até para a Ciência, a coisas torpes e passageiras.

Nós podemos, sim, ter o que queremos. Não acredito que eu vá assistir o produto dessas mudanças, e me saciar dele, mas quero fazer parte. Se, por sorte, na próxima encarnação voltar maravilhosamente gay de novo, estarei satisfeito com o trabalho feito nesta.

O mundo caminha para um futuro cada vez mais segregado, paralelamente à essa pseudo união dos povos, onde um quer engolir o outro. Nós, por natureza, somos diferentes. Logo, não precisamos caminhar pelo mesmo caminho que eles, certo?



Texto enviado pelo leitor Thiago Alves Ferreira, em colaboração ao site.

Redação

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