Acima de tudo, escrever é um ato de fé, por Ricardo Kotscho

Enviado por Maria Carvalho

Do Balaio do Kotscho

Quando escrever é, acima de tudo, um ato de fé

O que leva alguém a escrever? Por que e para que as pessoas passam cada vez mais tempo escrevendo, em vez de ler bons livros, e se informar melhor, antes de emitir suas opiniões?

Acho que os brasileiros nunca escreveram tanto como agora e, no entanto, as comunicações humanas nunca foram tão pobres e estéreis, como se pode notar nos comentários que circulam nas diferentes plataformas das redes (anti)sociais.

Qualquer coisa que aconteça, das grandes tragédias à compra de um pijama novo, milhões de pessoas estão neste momento digitando para serem lidas por outros milhões de pessoas. Parece que todo mundo se sente obrigado a dizer o que pensa sobre todos os assuntos e contar as novidades da sua vida pessoal, sem se perguntar se tem alguém interessado em saber.

Para mim, escrever sempre foi, acima de tudo, um ato de fé, além de meu ganha-pão, desde os tempos da velha da máquina de escrever, do papel e do telégrafo: denunciar o que está errado para ser consertado e louvar o que bem merece para servir de inspiração. Se você não acreditar nisso, que as palavras podem contribuir para melhorar o mundo em que vivemos, melhor nem começar a escrever. Devem existir outras formas de ocupar o vazio do seu tempo.

As palavras não foram feitas para alimentar a guerra, mas para construir a paz. A informação deve ser usada em defesa da vida, não como instrumento de morte. Quem só consegue ver inimigos nos que pensam de forma diferente, estimulando o ódio e o conflito, faz mal a si mesmo.

É preciso ter algo para dizer que possa ser útil para a vida dos outros, seja informando ou refletindo sobre o que está acontecendo. Esta é, afinal, a função do jornalista profissional, que é pago para fazer isso, mas deveria ser também a motivação de todos os que passam boa parte de suas vidas juntando letras e palavras, seja qual for o meio e a finalidade.

Não jogue palavras fora, foi um dos primeiros conselhos que recebi do padre José, meu professor de português no ginásio, que reclamava das minhas redações muito longas. Escrever é cortar palavras, já nem me lembro onde li este sábio ensinamento.

Tenho alguma coisa proveitosa a acrescentar ao que os meus colegas já escreveram nos jornais e portais que leio todas as manhãs? Se não, melhor é buscar outros temas, não necessariamente os que estão nas manchetes. Como me habituei a escrever quase todos os dias do ano, quando não atualizo o blog, como aconteceu neste feriadão no sítio (meu laptop pifou de novo), fico frustrado, sinto falta. Gosto de acompanhar a reação dos leitores, estabelecer um diálogo permanente com eles.

De uns tempos para cá, porém, confesso que dá um certo desânimo ler alguns comentários enviados para o Balaio. Moderá-los já foi por bastante tempo um prazer; hoje, isso apenas faz parte do meu compromisso com os leitores e o cumpro com resignação. São muito repetitivos, sempre o mesmo bate-boca entre “coxinhas” e “petralhas”, que já encheu o saco de todo mundo.

Para vocês terem uma ideia, tem dois psicopatas, em campos opostos, que continuam escrevendo todos os dias, mesmo sabendo que seus comentários não serão lidos por ninguém, já que sumariamente os deleto. Um me acusa de ser perigoso comunista do PT; outro, de ter me vendido para os tucanos. Quer dizer, segundo estes cachorros loucos, sou um comuno-tucano… O pior é que eles vão ficando cada vez mais agressivos, e chegam a fazer ameaças, mas não pretendo, por conta disso, fechar a área de comentários, como já fizeram muitos amigos blogueiros.

Seria o mesmo que os parisienses jogarem a toalha para os terroristas e deixarem de ir ao bar da esquina.

Só não posso perder a fé, pois, além de tudo, sou são-paulino…

Redação

7 Comentários

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  1. O conselho do Padre José
    Maria,

    bastaria que Ricardo então tivesse postado este trecho:

    “As palavras não foram feitas para alimentar a guerra, mas para construir a paz. A informação deve ser usada em defesa da vida, não como instrumento de morte. Quem só consegue ver inimigos nos que pensam de forma diferente, estimulando o ódio e o conflito, faz mal a si mesmo.”

    Obrigada por compartilhar.

  2. Requiem para um grande Jornalista…

    O jornalismo brasileiro está tão em baixa, mas tão em baixa, com profissionais submissos e inteiramente prostados diante de seus patrões que até chegamos a nos esquecer de um Ricardo Kotscho. Que saudades dos tempos em que os grandes jornalistas comandavam as redações. Estou muito pessimista que isso um dia retorne aqui no Brasil… 

  3. Mano, na boa… se é

    Mano, na boa… se é intolerante demais ou incapaz de perceber virtudes nas conversações que ocorrem na internet você já está se tornando um bruto.

    A conversação, mesmo que povoada de lugares comuns e ofensas, faz parte do processo civilizatória.

    Quando a conversação deixa de existir é que os problemas começam: a sociedade deixa de existir e violência ocupa o lugar das palavras.

    Pense nisto antes de escrever bobagens Ricardo Kotscho. E se puder releia o livro de Gabriel Tarde publidado pela editora Martins Fontes. Ha, ha, ha…

  4. “Palavras são palavras e a gente nem percebe o que disse…”

    Olá Debatedor Kotscho, bom dia.

    separei estes dois parágrafos do seu texto para comentar. Vejamos

    1 As palavras não foram feitas para alimentar a guerra, mas para construir a paz. A informação deve ser usada em defesa da vida, não como instrumento de morte. Quem só consegue ver inimigos nos que pensam de forma diferente, estimulando o ódio e o conflito, faz mal a si mesmo.

    2 É preciso ter algo para dizer que possa ser útil para a vida dos outros, seja informando ou refletindo sobre o que está acontecendo. Esta é, afinal, a função do jornalista profissional, que é pago para fazer isso, mas deveria ser também a motivação de todos os que passam boa parte de suas vidas juntando letras e palavras, seja qual for o meio e a finalidade.

     

    1-Comentário preliminar:  

    Como “milhões de brasileiros não resisti e  tive de comentar. rsrsrs.

     

    2-Comentário para discutir o conteúdo acima selecionado. Vejamos.

    Quanto ao parágrafo nº1 acredito que compreendi o seu “desejo” ( pacificador) ao  nos dizer que as palavras não foram feitas para alimentar a guerra, mas para construir a paz em defesa da vida, não como instrumento de morte. Sem dúvida é um bom “desejo”, um bom pensamento, enfim.

    Mas, desculpe-me, sua premissa é flagrantemente falsa. Ora, de onde você tirou que as palavras não foram feitas TAMBÉM para isso, para alimentar a guerra? Ora, você limitou o uso das palavras de acordo com o que você pensa. Por óbvio, não esgota o uso das palavras.

    Palavras foram feitas para muita coisa além de propagar a “paz”.

    Aliás, o “idioma” foi feito também para “demarcar” um território que se invadido o pau come! Guerra na certa!

    Palavras também discriminam.

    Estados Modernos ao estilo europeu  também  foram feitos com o uso de “palavras”.

    Noutra linha , basta exemplicar o uso da palavra guerra , em determinados momentos, para saber que o desejo é de guerra!

    Ou mesmo as palavras morte, assassinato, homicídio culposo, doloso, furto, roubo, estupro e mais um infinidade de “palavras”, todas com “significados” denotativos que contradizem o seu “desejo” pacificador. 

    Portanto, mais uma vez, desculpe-me mas não posso concordar com suas “palavras” nesse particular.

     

    Quanto ao parágrafo nº 2, desculpe-me de novo, mas nesse caso não tem jeito de concordar com suas “palavras”.

    Isso porque dizer algo útil para vida das pessoas, sobretudo, no sisteminha capitalista meritocrático e com sistema de preços para validar o mérito é piada.

    Se alguém, profissionalmente,  diz algo para “ajudar” a vida das pessoas, é por que vai “receber” algumas unidades monetárias por isso. E, vamos combinar, o que vale é o “resultado” ainda que lá no íntimo, o propagador das “palavras” tenha vontade de “matar” aquele que “ajuda”. 

    Logo, o uso da palavra não mostra a  vontade de quem fala, necessariamente. 

    Também a “metáfora” pode nos mostrar um “anjo” que  no fundo, não passa de um “diabo”.

    Uma  “ajuda para entrar no reino dos céus”, por exemplo, tem colado ainda.

    E a  filantropia hem! Essa “palavra” é boa!

    Noutra linha, as “palavras que  mais lemos em nossa maravilhosa, adorável e  filantrópica grande midia, convenhamos, só servem mesmo para nos “ajudar”, certo?

    Não, errado! 

    Precisa dizer mais?

    ____________________

    Lado outro, a comunicação social é também norma constitucional. E olha que é uma “norma” muito bem respeitada, certo?

    Não errado!

    Basta ler as “palavras” que estão escritas na CR/88 e olhar para a “realidade” para que possamos concluir o tremendo ENGODO desta parte constitucional. Balela pura! Servem para enganar “programaticamente” os idiotas administrados!

    Todavia, essas normas constitucionais da comunicação social,  na prática,  servem pelo menos para nos proporcinar momentos de gargalhadas! E aqui vale o kkkkkkkk que o r. jornalista LN gosta tanto! rsrsrss

    Por fim, estou me lembrando aqui da teoria hipodérmica do tipo estímulo-resposta ( passivamente).

    Pensar no uso das “palavras” com essa “teoria”, até que deve render bons resultados no sistemão capitalista com o uso da grande mídia, não?

    Saudações

    Obs: tudo que eu disse acima é apenas um sub-conjunto. Logo, há pessoas que , de fato, estão em outro sub-conjunto e  podem usar as palavras com o viés pacificador.( suponho que seja o seu caso) Mas, note bem, são apenas “sub-conjuntos” do conjunto universo.

     

  5. como diria o poeta, é preciso

    como diria o poeta, é preciso ler muito.

    escrever, nem tanto….

    mas, sério, o único  senão do texto é que o kotscho não é  corintiano!!!

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