Apesar das elites políticas, cultura brasileira é o caminho, diz De Masi

Jornal GGN – O sociólogo italiano Domenico de Masi está lançando um novo livro sobre o Brasil, chamado “2025 – Caminhos da cultura no Brasil”, nos quais ele faz previsões para o país baseado num questionário respondido por personalidades brasileiras de diferentes áreas.

O jornal O Globo entrevistou De Masi. O sociólogo afirmou que o país, por suas características culturais únicas, é capaz de oferecer um modelo alternativo de sociedade para a Europa e os Estados Unidos.

Ele enxerga o conflito entre os grupos de poder como um problema, mas acredita que as características culturais do povo brasileiro continuam presentes “apesar de suas elites políticas, e continuam a oferecer um exemplo precioso que perpassa o pacifismo, a miscigenação, a estética e o ecletismo cultural”.

“O mundo, que agora ganhou um profundo apreço pelo Brasil, se pergunta por que a classe dominante tem demonstrado tamanha miopia para destruir esse tesouro, o progresso socioeconômico que tornou o Brasil tão admirado no grupo dos BRICs”.

Enviado por Gilberto Cruvinel

Do O Globo

Para Domenico de Masi, disputa entre situação e oposição destruiu o Brasil

Por Leonardo Cazes

Sociólogo italiano lança livro em que faz previsões para o país em 2025

RIO – Domenico de Masi é um otimista incorrigível. Dois anos após lançar “O futuro chegou” (Casa da Palavra), em que mergulhou nas interpretações do Brasil feitas por nomes como Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, o sociólogo italiano volta a escrever um livro sobre o país, mas agora apontando para o futuro. Em “2025 — Caminhos da cultura no Brasil” (Sextante), ele faz previsões sobre a cultura brasileira daqui a uma década. Seu diagnóstico foi baseado num questionário respondido por 11 representantes de diferentes áreas: Caio Túlio Costa, Cláudia Leitão, Cléber Eduardo Miranda dos Santos, Cristovam Buarque, Fábio Magalhães, Gloria Kalil, Jaime Lerner, Leonel Kaz, Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, Paulo Werneck e Tárik de Souza.

De Masi afirma que o mundo vive uma crise cultural pela falta de projetos capazes de orientarem o futuro. E, apesar do momento difícil pelo qual passa o Brasil, o sociólogo acredita que o país, por suas características culturais únicas, é capaz de oferecer um modelo alternativo de sociedade para a Europa e os Estados Unidos. Em entrevista ao GLOBO, por e-mail, ele explicou suas decisão de consultar 11 intelectuais antes de formular o seu prognóstico para os próximos dez anos.

— A ideia para esta pesquisa surgiu de críticas que recebi por causa do meu último livro. Fui acusado de superficialidade intelectual e de não conhecer a estrutura e a cultura do país. Então, eu queria ouvir a opinião de 11 intelectuais para entender como as coisas realmente são — afirma o sociólogo.

A economia do Brasil encolhe, a instabilidade política é grande. Mesmo nesse cenário, o senhor continua acreditando que o Brasil pode oferecer um modelo alternativo para a Europa e os Estados Unidos?

Vista de fora, a situação brasileira nos últimos anos se caracterizou por uma impressionante disputa autodestrutiva entre os grupos no poder e na oposição. Os dois lados fizeram o possível para levar o Brasil à falência. E, ao menos em parte, eles tiveram sucesso. O mundo, que agora ganhou um profundo apreço pelo Brasil, se pergunta por que a classe dominante tem demonstrado tamanha miopia para destruir esse tesouro, o progresso socioeconômico que tornou o Brasil tão admirado no grupo dos BRICs. Mas as qualidades antropológicas do povo brasileiro continuam presentes, apesar de suas elites políticas, e continuam a oferecer um exemplo precioso que perpassa o pacifismo, a miscigenação, a estética e o ecletismo cultural.

O senhor afirma nos seus dois últimos livros que o Brasil é o país do futuro e que esse futuro chegou. Por que então o sentimento do brasileiro é de uma crise sem fim?

Todos os países no mundo estão em uma crise profunda: em alguns, a crise econômica, em outros, a crise da guerra. Mas em todos há uma crise cultural, uma crise de identidade. Nenhum país tem um modelo que inspire seu destino no médio e longo prazo. As duas únicas forças que têm um modelo a oferecer são a Igreja do Papa Francisco e o Estado Islâmico.

E como isso afeta o Brasil?

O Brasil ganhou sua identidade apenas no século XX, graças ao trabalho de grandes cientistas sociais, os chamados “inventores do Brasil”: Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Holanda. Graças a esses intelectuais, que “revelaram o Brasil aos brasileiros”, como disse Fernando Henrique Cardoso, o povo brasileiro se tornou consciente da sua própria cultura e de suas pragas endêmicas: a corrupção, a violência, a desigualdade, o analfabetismo. Ao mesmo tempo, o PIB cresceu em média 1,6 ponto nos anos 1980, 2,6 pontos nos anos 1990 e 3,9 pontos na primeira década dos anos 2000. Por causa das políticas social-liberais de FHC e Lula, a classe média cresceu e a riqueza foi redistribuída. No entanto, desde 2013 há uma reação neoliberal, sustentada pelos erros e a corrupção da esquerda, que está alimentando esse sentimento de crise que deixa um país rico como o Brasil se sentindo pobre e sem futuro.

“2025 — Caminhos da cultura no Brasil” parece um desdobramento de “O futuro chegou”. Agora, o senhor tenta antever o futuro. Que traços do passado vão continuar presentes em 2025?

O passado do Brasil é marcado por duas características incríveis. A primeira é sua vocação para a paz demonstrada ao longo de 500 anos de boas relações com seus 11 vizinhos no continente, com exceção da guerra com o Paraguai, enquanto os países europeus ficam brigando entre si indefinidamente. A segunda característica é a miscigenação, que permite uma coexistência quase pacífica entre dúzias de grupos étnicos de todo o mundo. Essas duas características estão sedimentadas no curso da história do Brasil e vão marcar o futuro também. Em um mundo dilacerado por conflitos e ondas de migração, o Brasil já é um modelo de coexistência pacífica tanto externamente quanto internamente.

Um dos pontos centrais para se pensar a cultura em 2025 é a inter-relação entre o local e o global. Como a cultura brasileira vai se inserir nesses circuitos globais?

A terceira característica única da cultura brasileira é sua habilidade sensacional para pegar, digerir e assimilar diferentes culturas. Nada pode ser mais oposto, por exemplo, do que as culturas indígenas e a dos portuguesas, que ainda assim se juntaram e permitiram a criação de outra cultura, mameluca, original e frutífera. O Brasil está assimilando a cultura global sem perder as características positivas da sua cultura local. É aí que reside a superioridade do Brasil em relação à Europa, que, ao contrário, é muito mais americanizada.

O senhor tem uma visão otimista sobre o Brasil, ao contrário de grande parte dos brasileiros. De onde vem o seu otimismo?

Nelson Rodrigues disse que o “Brasil não é popular no Brasil”. Mas, na verdade, poucos países no mundo são tão amados por seus habitantes. Pessimistas, no Brasil assim como em qualquer país no mundo, são a maioria dos intelectuais. Noam Chomsky é pessimista em relação aos Estados Unidos. Pessimistas somos Umberto Eco e eu em relação à Itália. Meu otimismo vem do fato de que eu conheço bem o Brasil, suas enormes diferenças naturais e antropológicas, sua história, seus talentos. E eu conheço bem o resto do mundo para fazer uma comparação embasada.

Redação

7 Comentários

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  1. Bizarro!  Essa eh a unica vez

    Bizarro!  Essa eh a unica vez que ele menciona Lula e eh altamente questionavel:

    “Por causa das políticas social-liberais de FHC e Lula, a classe média cresceu e a riqueza foi redistribuída”.

    De outra maneira, a entrevista ignora tanto o gigantesco Lula que deixa impressao que o entrevistado nao acha que Lula deixou heranca pros brasileiros pelos proximos 50 anos que seja.

    1. Bizarro! Nem Tanto Assim…

      “Por causa das políticas social-liberais de FHC e Lula, a classe média cresceu e a riqueza foi redistribuída…”.

      Não é tão bizarro assim, caro Ivan de Union. Conhecendo-se a fonte, aplica-se o devido filtro. Colocar Lula e o homem do IBAD no mesmo patamar é natural, vindo de onde vem.

  2. esse é um dos poucos que

    esse é um dos poucos que compreende que não se deve esperar de nações fundadas  por escórias socias e que segue preceitos baseados e referenciados por tais imundices humanas o mesmo que acontece com nações que foram fundadas por gente.

    ===========

     

    O jeito escandinavo de lidar com mau uso de dinheiro público

     

    http://www.claudiawallin.com.br/2015/12/19/o-jeito-escandinavo-de-lidar-com-mau-uso-de-dinheiro-publico/

  3. O “sociologo” fez  seu

    O “sociologo” fez  seu diagnóstico baseado num questionário respondido por Glorinha Kalil?

    O cidadão deveria ao menos saber que no Brasil tem gente bem mais qualificada para isso.

  4. o  perguntador-questionador é

    o  perguntador-questionador é do time dos pessimistas de plantão…

    que o brasil pode ser um exemplo para o mundo é uma tese  criada,  bem

    defendida e explanda pelo professor darcy ribeito….

  5. num ponto, Anita Leocádia Prestes tem análise similar:

    considera as politicas desde FHC a Dilma como neoliberais. Entrevista recente. Daí, decorre que pro PC do B, tanto faz se aliar a partido X ou Y, dependendo do lugar, da cidade, do estado. ( Trago como ilustração. Não concordo com ela )

    ACHO UM LIXO MIDIÁTICO ESSE DOMENICO. TÁ ASSIM DE LIXO MIDIÁTICO,  CULTUADO, PALESTRANTES, TREJEITOS ESTUDADOS.

    MAS SE TÊM SEU PUBLICO, SE MERECEM.

    NÃO SEI POR QUE, POR QUAL MOTIVO,  O GGN TRAZ PRA CÁ. (Talvez pra gente se questionar)

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