Lições de Berlim e as elites brasileiras, por Flávio Aguiar

Enviado por Webster Franklin

Da Rede Brasil Atual
 
Direita brasileira parece desistir de querer ser Europa
 
Lições a considerar desde Berlim: nossas elites insistem em achar que Brasil não tem jeito, mesmo quando o país se aproxima de padrões do Primeiro Mundo
 
Flavio Aguiar
 
Uma das características de muita gente da direita brasileira é sua extrema falta de educação, selvageria, incivilidade, grossura e desprezo pelo próprio país. Com exceção deste último item, os restantes não são exclusivos do Brasil. Por exemplo, aqui na Alemanha a extrema-direita tem-se esmerado em atos de selvageria, grossura, etc., contra os imigrantes, refugiados, que aqui acorrem (embora muitos cidadãos daqui estejam se esmerando em bem recebe-los). Recentemente houve casos como o do cara que entrou numa estação de metrô e urinou – urinou (!) – em cima de imigrantes que lá estavam, inclusive uma criança. Houve atentados a faca em casas de refugiados, ou até com gás pimenta, mandando gente para o hospital. Sem falar nos incêndios criminosos que se multiplicam contra estes abrigos durante a noite.

 
Mas no Brasil predomina um “gestus” da direita que consiste em afirmar constantemente que “o que é bom para a Europa e os Estados Unidos não é bom para o Brasil”. Transporte público privilegiado em relação ao individual, corredores de ônibus, restrições ao uso de carro, controle rígido de velocidade, saúde pública, etc., etc., etc., tudo isto é bom para a Europa, mas não para o Brasil, “nem existe no Brasil” o que, aliás, é mentira, porque o SUS é muito melhor do que muito do que existe em muitos países na Europa e também nos Estrados Unidos (onde o sistema público de saúde claudica e está sendo reerguido por Barack Obama, contra uma feroz oposição dos republicanos).
 
Tome-se o exemplo do controle de velocidade. Li estarrecido que há uma ação judicial movida pela OAB-SP (corrijam-me se eu estiver errado) contra a diminuição da velocidade máxima nas marginais de S. Paulo. Apesar do número de acidentes ter baixado depois da medida. Vi outras manifestações grosseiras na mídia velha, por parte dos arautos do individualismo feroz, contra a extensão de corredores de ônibus e de ciclovias em São Paulo. Um descalabro político e moral, só compreensível pelo desvario mal-educado que tomou conta dos direitistas no país desde a Copa do Mundo e em especial depois da inesperada (só para eles) derrota do Aécio em outubro passado.
 
De vez em quando vale mesmo prestar atenção em lições que podem ser lidas a partir da Europa, desde que sem eurocentrismo nem aquilo de acreditar que o Brasil não tem jeito.
 
1. Aqui em Berlim, como em todas as cidades da Alemanha, o limite de velocidade nas ruas é de 50 km. por hora. Perto de escolas ou em regiões densamente povoadas, 30. Exceções: as auto-estradas de administração municipal, onde o limite é 100.
 
2. Pedestre tem preferência em qualquer lugar.
 
3. Nas auto-estradas federais, a responsabilidade é do governo nacional. Em muitas delas não há limite de velocidade. Mas em outras há: 130, 100, 80.
 
4. Em estradas de zonas rurais o limite é 100, 90, 80, 70. Mas atravessando zonas urbanas ele cai para 50, e em centros de cidades, 30.
 
5. O controle destes limites é rígido. Não há recurso, a menos que se comprove um erro por parte da autoridade ou de radares, etc.
 
6. 3 vezes passado um sinal vermelho, adeus carta de motorista. Alcoolizado, idem. Multas enormes. Penas penosas, no caso de acidentes.
 
7. Para completar este quadro que muita gente da nossa “élite” acharia dantesco se fosse no Brasil, o Senado de Berlim (em termos brasileiros o conselho de secretários municipais) adotou uma nova lei, estabelecendo um limite de 30 km em certas ruas durante a noite, para diminuir o ruído, pois está comprovado que a submissão constante a ruídos acima de 55 decibéis durante o sono aumenta o risco de problemas cardiovasculares.
 
 Durma-se com um silêncio desses!
Redação

15 Comentários

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  1. Qualquer motivo é motivo para

    Qualquer motivo é motivo para a direita brasileira querer acabar com o PT. Com o PT especificamente porque é o único partido brasileiro capaz de enfrentá-los.

  2.  
    Mas vosmecê Flavio, queria

     

    Mas vosmecê Flavio, queria o quê? Se aqui no Brasil a direita conservadora e reacionária tem como um de seus lideres uma desgraça como o tal de José Serra. Um cabra que não sabe nem o nome do país em que nasceu e vive.

    O entreguista, em entrevista a um capacho de TV de nome Casoy responde a uma pergunta, tipo, levantada de bola combinada, pro gajo se esbaldar, coisa que cumpre com a característica empáfia dos tucanos: “sou brasileiro dos Estados Unidos do Brasil,” provavelmente, não exatamente nestes termos.

    O fato, é que o arrogante e imbecil é um político velhaco da escola udenista. Já foi governador, prefeito, diz ser economista, porém, deve ter extraviado o diploma que ninguém viu. Ora, está Senador tucano que em parceria com o tal Aloísio Nunes 300 Mil andam empenhados em entregar a Petrobras aos rapazes da Chevron, importante tarefa da bancada entreguista. Mesmo assim, o gajo ainda não aprendeu onde porra nasceu. Olhe! Vá à merda (lá ele), com uma elite dessa…

    Orlando

  3. Vira-lata é o cão
    O Brasil deve ser o único país do mundo em que o povo é mais culto, esclarecido, educado, gentil, amoroso, alegre e feliz que a sua elite.
    A elite vira-lata, principalmente a sudestina, é o encosto desse país.

  4. AS ELITES BRASILEIRAS NÃO

    AS ELITES BRASILEIRAS NÃO QUEREM O POVO C AUTOESTIMA

    E RECONHECENDO QUE O BRASIL MELHOROU NOS ÚLTIMOS ANOS

    NOTEM Q LOGO APÓS DILMA VENCER,MUDARAM O FOCO E COMEÇARAM

    DIA APÓS DIA NOTICIAR A LAVAJATO OU SEJA SÓ COISAS NEGATIVAS E

    TENDENCIOSAS,SÃO EGOÍSTAS E NÃO QUEREM Q O POVO TENHA CONDIÇÕES

    DE AO MENOS COMPRAR  UMA PICANHA UMA SÓ P COMER ,É PURO EGOÍSMO!!!

  5. Em debates que costumo travar

    Em debates que costumo travar com um colega conservador eu costumo afirmar que no Brasil  palavra elite nunca significou o que há de melhor na sociedade, mas o que há de mais conservador, autoritário, reacionário, preconceituoso e incivilizado. A elite brasileira é a pior do mundo. Há um texto contundente, demolidor, escrito por Henrique Abel, que foi publicado no Observatório da Imprensa, que resume bastante bem a elite brasileira. Se formos regionalizar, a elite paulista é o pior do pior, ou seja, ela é que intensifica as péssimas qualidades exibidas pela ‘elite’ nacional.

    Segue abixo o texto de Henrique Abel.

    ———

    A inteligência da elite social brasileira

    Por Henrique Abel em 07/08/2012 na edição 706

    Um dos preconceitos mais firmemente bem estabelecidos no Brasil é aquele que afirma que a culpa de todos os problemas do país decorre da “ignorância do povo”. A elite social da população brasileira, formada pelas classes A e B, em linhas gerais, está profundamente convencida de que o seu status de elite social lhe concede – como um bônus – também o título de “elite intelectual” do país.

    Dentro desse raciocínio, a elite brasileira “chegou lá” não apenas economicamente, mas também no que diz respeito às esferas intelectuais e morais – talvez até espirituais. O país só não vai pra frente, portanto, por causa dessa massa de ignóbeis das classes inferiores. Embora essa ideia preconcebida seja confortável para o ego dos que a sustentam, os fatos insistem em negar a tese do “povo ignorante versus elite inteligente”.

    O motivo é simples de entender: em nenhum lugar do mundo, a figura genericamente considerada do “povo” se destaca como iluminada ou genial. Por definição, uma autêntica elite intelectual de um país se destaca, precisamente, por seu contraste com a mediocridade (aí entendida como “relativa ao que é mediano”). Ou seja, não é “o povo” que tem obrigações intelectuais para com a elite social, e sim, justamente o contrário: é preferencialmente entre a elite social e econômica que se espera que surja, como consequência das melhores condições de vida desfrutadas, uma elite intelectual digna do nome.

    Analfabetos funcionais

    Uma elite social que, intelectualmente, faça jus ao espaço que ocupa na sociedade, não apenas cumpre com o seu papel social de dar algum retorno ao meio que lhe deu as condições para uma vida melhor como, ainda, cumpre o seu papel de servir como exemplo – um exemplo do tipo “estude você também”, e não um exemplo do tipo “lute para poder comprar um automóvel tão caro quanto o meu”.

    Tendo isso em mente, torna-se fácil perceber que o problema do Brasil não é que o nosso povo seja “mais ignorante”, pela média, do que a população dos Estados Unidos ou das maiores economias europeias. O problema, isso sim, é que o nosso país ostenta aquela que é talvez a elite social mais ignorante, presunçosa e intelectualmente preguiçosa do mundo, que repele qualquer espécie de intelectualidade autêntica precisamente porque acredita que seu status social lhe confere, automaticamente, o decorrente status de membro da elite intelectual pátria, como se isso fosse uma espécie de título aristocrático.

    Nenhum país do mundo tem um povo cujo cidadão médio é extremamente culto e devorador de livros. O problema se dá quando um país tem uma elite social que é extremamente inculta e lê/escreve num nível digno de analfabetismo funcional. Pesquisas recentemente divulgadas dão por conta que apenas 25% dos brasileiros são plenamente alfabetizados, e que o número de analfabetos funcionais entre estudantes universitários é de 38%. A elite social brasileira possivelmente acredita que a totalidade desses 75% de deficientes intelectuais encontra-se abrangida pelas classes C, D e E.

    Sem diferença

    Será mesmo? Outra pesquisa recentemente divulgada noticiava que o brasileiro lê uma média de cerca de quatro livros por ano. Enquanto os integrantes da Classe C afirmavam ter lido 1,79 livro no último ano, os integrantes da Classe A disseram ter lido 3,6. O número é maior, como naturalmente seria de se esperar, mas a diferença é muita pequena dado o abismo de condições econômicas entre uma classe e outra. Qual é o dado grave que se constata aí? Será que o problema real da formação intelectual do nosso país está no fato de que o cidadão médio lê apenas dois livros por ano? Ou está no fato de que a autodenominada elite intelectual do país lê apenas quatro livros por ano? Vou encerrar o argumento ficando apenas no dado quantitativo, sem adentrar a provocação qualitativa de questionar se, entre esses quatro livros anuais, consta alguma coisa que não sejam os últimos e rasos best-sellers de vitrine, a literatura infanto-juvenil e os livros de dieta e autoajuda.

    O que importa é ter a consciência de que o descalabro intelectual brasileiro não reside no fato de que o típico cidadão médio demonstra desinteresse pela vida intelectual e gosta mais de assistir televisão do que de ler livros. Ora, este é o retrato do cidadão médio de qualquer país do mundo, inclusive das economias mais desenvolvidas.

    O que é digno de causar espanto é, por exemplo, ver Merval Pereira sendo eleito um imortal da Academia Brasileira de Letras em virtude do “incrível” mérito literário de ter reunido, na forma de livro, uma série de artigos jornalísticos de opinião, escritos por ele ao longo dos anos. Ou seja: dependendo dos círculos sociais que você frequenta, hoje é possível ingressar na Academia Brasileira de Letras meramente escrevendo colunas de opinião em jornais. Podemos sobreviver ao cidadão médio que lê dois livros por ano, mas não estou convencido de que podemos sobreviver a uma suposta elite intelectual que não vê diferença literária entre Moacyr Scliar e Merval Pereira.

    “Vão ter que me engolir”

    Apenas para referir mais um exemplo (entre tantos) das invejáveis capacidades intelectuais da elite social brasileira: na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo noticiou que uma celebridade global havia perdido a compostura no Twitter após sofrer algumas críticas em virtude de um comentário que havia feito na rede social. A vedete, longe de ser uma estrelinha de quinta categoria, é casada com um dos diretores da toda-poderosa Rede Globo.

    Bem, imagina-se que uma pessoa tão gloriosamente assentada no topo da cadeia alimentar brasileira certamente daria um excelente exemplo de boa formação intelectual ao se manifestar em público por escrito, não é mesmo? Pois bem, vamos dar uma lida nas sua singelas postagens, conforme referidas na reportagem mencionada:

    “Almas penadas, consumidas pela a inveja, o ódio e a maledicência, que se escondem atrás de pseudônimos para destilarem seus venenos. Morram!”

    “Só mais uma coisinha! Vão ter que me engolir, também f…-se, vocês são minurias [sic] e minuria [sic] não conta.”

    Em quem se espelhar?

    Não vou nem entrar no mérito da completa falta de educação dessa pessoa, que parece menos uma rica atriz global do que um valentão de boteco. Vou me ater apenas a dois detalhes. Primeiro: a intelectual do horário nobre da Globo escreve “minoria” com “u”, atestando para além de qualquer dúvida razoável que se encontra fora do grupo dos 25% dos brasileiros plenamente alfabetizados (ela comete o erro duas vezes, descartando qualquer possibilidade de desculpa do tipo “foi erro de digitação”).

    Segundo: ela acha que “minorias não contam”, demonstrando, portanto, que ignora completamente as noções mais elementares do que vem a ser um Estado democrático de Direito, ou mesmo o simples conceito de “democracia” na sua acepção contemporânea. Do ponto de vista da consciência de direitos políticos, sociais e de cidadania é, portanto, analfabeta dos pés à cabeça.

    Com os ricos e famosos que temos no Brasil, em quem o mítico e achincalhado “homem-médio” poderia mesmo se espelhar?

     

    1. Caro João.

      Concordo plenamente com a análise, e para complementá-la chamo a atenção que o que mais agride a “elite” paulista são as políticas de inserção na Universidade, as políticas de cotas, antes da divulgação da pesquisa feita na última manifestação escrevi um texto denominado Cronica de um roubo de um sonho que procura mostrar a preocupação e o MEDO desta em função da perda de privilégios em relação as classes mais baixas e a diminuição de nível cultural entre as duas, para tanto escrevi um texto denominado Uma explicação lógica às ilógicas expressões nas últimas manifestações. Depois deste segundo texto veio a pesquisa de opinião que corroborou por completo a explicação proposta.

      As chamadas “elites” brasileiras são culturalmente as mais incultas de todos países, diria eu, que são mais incultas do que qualquer elite de qualquer país africano, pois estes ainda tem o hábito de mandar os seus filhos para estudar na Europa, enquanto os filhos das “elites” brasileiras vão para Miami comprar roupas, passear na Disneylândia.

      O Brasil nunca ligou muito para a cultura, e quando começava um período de questionamento veio o 64 e deixou todos amordaçados, com a redemocratização a cultura dos Yuppies e posteriores derivativos neo-liberais deram cada vez menos importância ao conhecimento histórico e outras ciências sociais. Fazer uma licenciatura nas áreas de ciências humanas ficou completamente “demodê” e o importante era fazer um MBA.

      O problema cultural é o pior no Brasil do que o reacionarismo derivado deste, simplesmente porque o segundo é uma consequência do primeiro.

  6. a elite não tem mais jeito

    Houve épocas qye pensei que eles iriam evoluir, Hoje eu não tenho mais esperança. O problema maior é que term um monte de pobre quer chegar na elite com os mesmos preconceitos ainda mais reforçados. No Brasil rico detesta classe media que detesta pobre. O pobre ama os dois, quer ser como eles, vai entender, so Freud. 

  7. Lições de Berlim

    Flávio, sou esquerdista, mas quero fazer uma ressalva a teus comentários. 

    O que chamas de direita na realidade é uma parte, maior ou menor, desse lado político/social. Conheço muitos direitistas que abominam  as idéias defendidas por suas lideranças. A direita que ocupa espaço e trombeteia pela “midia velha” é a parte conservadora e reacionária, já chamada de “vanguarda do atraso”.  Imagino que seja a maior parte da elite e seus inevitáveis súcubos a clamarem a volta da Casa Grande & Senzala, ao período trevoso.

    No mais, concordo com teu post.

  8. Ontém assisti o filme “Que

    Ontém assisti o filme “Que horas ela volta”. Talvez o melhor que tenha assitido esse ano! Não deixem de ver, a mais pura demonstração da Casa Grande e Senzala moderna, e o troco que a Senzala tá dando (ou estava dando) na casa grande. Um filme especialmente corajoso, em tempos de “dilma, vtnc”, a diretora, Anna Muylaert foi extremamente corajosa ao espor a casa grande nua e crua!

  9. sus

    Está mais q provado q ruído encurta a vida. Tive oportunidade de ver um jornal sueco, país q tem um sistema de saúde q dizem funcionar, e é universal para cerca de 9 milhões de pessoas. A página sobre casos na saúde parecia o festival do horrores: menino com doença séria mandado para casa pelo hospital; pessoa q caiu da maca e morreu, outra q tinha q operar uma perna e operaram a outra etc Veja então as dificldades de gerir o SUS q tem q funcionar para uns 160 milhões ou mais já q quem tem emprego e plano de saúde pode ficar sem de uma hora para outra e na velhice dificilmente será capaz de bancar um plano pela idade.

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