Maffesoli, teórico francês, analisa Brasil como grande laboratório da Pós-Modernidade

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O sociólogo francês Michel Maffesoli afirma que a raiz da crise atual está na saturação de valores da Modernidade, como individualismo, individualidade, progresso. Um dos maiores teóricos da Pós-Modernidade, veio ao Brasil para uma série de conferências e diz ver o país como um laboratório da Pós-Modernidade, por abrigar valores como criatividade, presente e comunidade. Leia a matéria de O Globo.

de O Globo

Para Maffesoli, crise tem origem na saturação dos valores da Modernidade

Para sociólogo francês, Brasil é um laboratório pós-moderno ao congregar valores como criatividade, presente e comunidade

POR CLARICE SPITZ

RIO – O sociólogo francês Michel Maffesoli, um dos maiores teóricos da Pós-Modernidade, diz não ver a economia na origem da crise mundial. Antes, afirma o professor da Sorbonne, diretor do Centro de Estudos sobre o Atual e o Cotidiano e do Centro de Pesquisas sobre o Imaginário (M.S.H.), que veio ao Brasil para uma série de conferências, a crise está, na base, na saturação de valores da Modernidade, como individualismo, racionalidade, futuro como progresso, trabalho como valor e utilitarismo.

Para uma plateia formada por acadêmicos, estudantes e empresários em conferência nesta segunda-feira na Associação Comercial do Rio em evento organizado em conjunto com o Instituto Palavra Aberta e com o Ibmec, Maffesoli diz ver no Brasil um laboratório da Pós-Modernidade, por abrigar na sua cultura valores como criatividade, presente e comunidade. Ele afirma que a sociedade de maneira geral vive um momento paradoxal em que conceitos modernos e pós-modernos coexistem.

— A palavra democracia não quer dizer mais nada, a liberdade não está mais na pauta do dia. O conceito de Estado-Nação dá lugar ao localismo, ao mosaico de ideias. Não é mais o materialismo que vai predominar, a dimensão somente econômica não vai predominar — afirma o professor, que orientou vários estudantes brasileiros na França.

Com base nas novas tecnologias, no conceito de horizontalidade da internet, na percepção das gerações mais jovens, Maffesoli baseia sua série de hipóteses. Agora, segundo ele, não existe mais o indivíduo, mas pessoas múltiplas. Não se está preso a uma identidade sexual ou profissional, pode-se ser várias coisas diferentes e não excludentes. O presente se contrapõe à noção de futuro. As coisas inúteis também são importantes, haja vista que a Google quer que seus funcionários gastem parte do tempo de seu dia pensando em outras coisas, que não apenas o trabalho.

— O fim do mundo não é o fim do mundo, mas a sua metamorfose. Nós vimos por muito tempo a luz de uma estrela morta — disse, ao afirmar que ainda vivemos com os valores do século XIX.

Autor de diversos livros, ele lança no Brasil ‘Homo Eroticus – As Comunidades Emocionais’, pela editora Forense. Ao ser indagado, diz que não comenta o livro do colega Thomas Piketty “O Capital no século XIX” porque não o leu. Grande demais, disse. Ele diz, no entanto, que o igualitarismo, democracia, liberdade e educação são temas que estão em crise.

— A democracia moderna se baseia no hierárquico, mas agora há o retorno das diferenças. Podemos pensar num ajuste das desigualdades, mas não no fim das desigualdades. Estamos em um período em que a crueldade vai retornar. A Modernidade foi essencialmente dramática, mas havia uma solução, agora vamos nos virar com o que dá prá ser. Não se resolve tudo, mas, ao mesmo tempo, há vida com sombra e luz — afirma.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. “Brasilianistas”

    Nós estamos somente começamdo a experimentar a democracia como sistema em que a divergência deve ser tolerada. Lá na Europa é que a legitimidade do sistema está sendo posta em xeque por causa da hegemonia do capital que está acachapando as conquistas sociais, por um lado, e a extrema racionalização burocrática das sociedades crescentemente complexas, por outro.

    Beira o etnocentrismo essa mania de observar por telescópio (nem por microscópio é). E o pior é que agrada muita gente por aqui; os mesmos que procuram “essencialismos” na sociedade brasileira tais quas “cordialidade”, miscigenaçao”, “tradição ibérica”, etc.

    A gente acaba de ter uma eleição em que o eleitorado se dividiu claramente diante de duas propostas econômicas; uma eleição em que a igualdade estava no centro do debate; uma eleição com um eleitorado claramente marcado em função da posição na estrutura socio econômica; e esses acadêmicos europeus vêm fazer esse tipo de projeção…

    É evidente que a economia não é tudo, como um materialismo vulgar muito divulgado insiste em repercutir, mas negá-la faz até mesmo Weber se revirar no túmulo.

  2. Michel Maffesoli aponta os

    Michel Maffesoli aponta os caminhos para o futuro. 

    Apresenta os traços para o “novo”, e cita o Brasil como referência nessa trajetória.

  3. Intelectual não vale nada!

    Dá até vontade de falar:  vai tomar  @#@#$%&*@# . Ou assim: vai pra @#$%@ ! Caro alienígena.

    Para os desatentos, não se trata de ênfase xenofóbica. Isso porque em pleno século XXI   esse papo FURADO de brasil como laboratório de qualquer coisa já não cola mais.

    Mas  estou respeitando o alienígena da   Sorbonne, assim como devemos, por exemplo,  respeitar a linha “branda” de 1964!

    Apenas sugeri para ele tomar banho e ir pra São paulo. Conhecer melhor São Paulo…

    Quanto à democracia , ao contrário do forasteiro , penso que a d.  moderna não se baseia no hierárquico. Sem essa de hierárquico!

    Penso também que a democracia NÃO PODE CONVIVER ad aeternum com o tal de   CAPITALISMO.

    E com isso não quero dizer que devemos negar o capitalismo ou que a democracia é inexistente. Ela ,como tese exite e é muito interessante. É elegante, bonita,  romântica e atraente!

    É mais do que evidente que a PSEUDO CIÊNCIA  ECONÔMICA serve para enganar otários . E ela não é tudo.

    Ela pode ser uma pseudo ciência fajuta que tenta, normalmente SEM ÊXITO, explicar   parte de um todo. Um todo que é perseguido desde os primórdios. 

    Esse “todo”, quando encarado como subconjunto, ai sím,   seria possível, razoável, dizer liberdade, democracia, bem como planeta terra e   seus habitantes,   dentre eles o homem que se diz “racional”.

    Aliás, alguns mentecaptos ortodoxos se dizem “racionais”. São paradoxais, isso sim.

    São emocionais também e são outras coisas que ninguém sabe dizer ainda.  Apenas especula-se. E com essa premissas já dá para extrair um conclusão segura:  são racionais idiotas porque se acham apenas  racionais. E , pra piorar: “atemporais”.

    Claro está, nessa linha, que são   mesmos uns  estúpidos paradoxais.

    Ao contrário do que pensa o autor, é razoável supor que  o indivíduo assim como as  comunidades, a sociedade, diferenças, igualdade , enfim, esse monte de BABOSEIRAS acadêmicas que tenta estabelecer o que “existe” só deve existir mesmo em nossas cabeças!

    Vejam vocês que  um bom  banho também existe na França.

    Por fim e  para encurtar,  Darcy Ribeiro parece ter razão:

    Não acredite em intelectuais, eles nada valem!

    Saudações 

  4. ah, os intelequituais!
    ao

    ah, os intelequituais!

    ao desprezar a história e as profundas marcas selvagens

    do capitalismo, o pos-modernismo superficializou tudo.

    como se não houvesse mais-valia,

    luta de classes, trabalhadores,

    o capital versus trabalho.

     

  5. Paciência!

    Alguém aqui já leu alguma obra de Mafesoli? Se não leu, por favor, não vão tirando conclusões precipitadas por causa dessa matéria ridiculamente ligeira da porcaria d’O Globo ou, pior ainda, por causa de sua gravata borboleta. Pelamordedeus, uma matéria dessa não dá pra se tirar conclusões nem sobre as posições de Tiririca ou da Mulher Pera!

    (Espero que o comentário de Athos se refira à matéria e não ao intelectual, que nunca li – só assisti a uma palestra dele há quase 30 anos – e que não apoio nem condeno exatamente por não conhecer o suficiente, mas que me parece estar sendo criticado sem a menor base).

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