Negros são os mais ameaçados por crise econômica no Brasil, diz relatora da ONU

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Hugo Bachega

Da BBC Brasil

A “pobreza tem cor no Brasil”, e os negros são os mais ameaçados pela crise econômica do país, diz Rita Izsák.

Relatora especial das Nações Unidas sobre Questões de Minorias, ela elogiou políticas de igualdade adotadas pelo Brasil, mas alertou que essas comunidades “imploram” por resultados imediatos. “As pessoas estão muito impacientes”, disse Izsák, em entrevista à BBC Brasil.

No relatório, apresentado na última quinta-feira, ela criticou a falta de representatividade de negros em posições públicas e privadas e disse que o país pode fracassar em capitalizar nos avanços feitos até agora se não houver diálogo e confiança. “O tecido social é muito frágil”.

Foi a primeira missão oficial de Izsák no Brasil. Em 11 dias, visitou cidades na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.

Nascida na Hungria, ela disse ainda que a mídia precisar expor mais “modelos negros” para romper o ciclo de marginalização, e que a exposição de negros na TV é, geralmente, relacionada à violência e à criminalidade. “Infelizmente, não há modelos positivos”.

Veja abaixo trechos da entrevista, feita por telefone, de Brasília.

BBC Brasil – Qual é a conclusão do relatório?

Rita Izsák – Há muitas boas leis e políticas para proteger os direitos das minorias. No entanto, elas exigem medidas mais imediatas que possam se manifestar em mudanças reais em suas vidas.

Trata-se de um momento muito positivo no Brasil. (Mas) eu vejo que o tecido social é muito frágil, as pessoas estão muito impacientes, especialmente grupos que sentem que estão marginalizados há muitos anos e querem mudanças reais.

Mas, ao mesmo tempo, todo mundo reconhece que depois de 500 anos de injustiça e escravidão é muito difícil obter progresso. Mas há certas medidas e políticas que deveriam ser adotadas o mais breve possível.

BBC Brasil – No relatório, a Sr.ª diz que os negros brasileiros são “marginalizados”, apesar de todas as políticas recentes de inclusão. Como isso se dá na realidade?

Izsák – Há estatísticas claras das diferenças de expectativa de vida, renda, representação dos negros na sociedade. E há alguns dados bem chocantes que deixam claro esse ‘abismo racial’: em termos de representação política e poder econômico, a população negra está realmente atrás da população não-negra, branca.

O ponto bom é que isso é mostrado por dados e o governo brasileiro adotou muitas leis para superar estes desafios.

BBC Brasil – A Sr.ª disse que a violência tem uma “clara dimensão racial clara”, incluindo violência policial. Negros se tornam alvo por causa da cor?

Izsák – É uma questão muito complicada. A guerra às drogas é uma fonte de violência contra brasileiros negros. A taxa de homicídios no Brasil é estimada em 56 mil pessoas por ano (O Brasil é o país com o maior número de homícidios do mundo em termos absolutos), e há estimativa que 75% das vítimas sejam negros.

Trata-se de algo preocupante. Especialmente se considerarmos que negros são 75% da população carcerária.

Continue lendo aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Porque são pobres

    Óbvio que crises econômicas pegam em cheio os pobres, em qualquer lugar do mundo em qualquer época.

    Por isso qu eu acho até divertido quando alguns comentaristas aqui insinuam que a CPMF ou qualquer outra atitude ortodoxa deste governo pretensamente popular vá afetar mais ricos do que pobres.

    Quer fazer os ricos pagarem a conta ? Só tem um jeito, metendo a mão nas propriedades deles.

    1. A proposta prevê que uma

      A proposta prevê que uma movimentação bancária mensal de até 3 salários mínimos estará isenta da CPMF.

      A CPMF só incidirá para quantias que excederem 3 salários mínimos.

      1. Isso é irrelevante

        Qualquer imposto que incida sobre a cadeia produtiva e distributiva, como a CPMF, será repassado para o consumidor. Como o pobre gasta todo seu dinheiro consumindo para viver, será o mais penalizado. 

        Um camarada pode ganhar cem mil por mes, e daí, se ele não precisar gastar e deixar aplicado, não vai pagar porra nenhuma de CPMF.

        Nem vou falar dos caras que já estão com seus milhões ou bilhões investidos e podem trocar a vontade de investimento que não pagarão nada se for no mesmo CPF.

        E os donos de dezenas, centenas ou milhares de imóveis alugados ? Quem vai pagar a CPMF ? Eles ou o coitado do locatário quando tirar o dinheiro do banco para pagar o aluguel ???

        Esse imposto só atinge os pobres.

         

  2. A única maneira dos negros

    A única maneira dos negros serem ouvidos é por meio de manifestações de massas nas ruas.

    É preciso acabar com o apartheid no Brasil usando o modelo revolucionário da África do Sul.

    Enormes manifestações de negros e negras, adultos e crianças, descendo das favelas e vindo das periferias para o centro das grandes cidades vão fazer os branquelos defecar amarelo.

    Que história de “minorias” é essa ? Os negros são maioria. Uma parcela significativa de homens e mulheres de cor branca, como eu, também tem ascendentes negros.

    Imaginem 500.000 negros (pretos e pardos) desfilando na av. Paulista. acompanhados de brancos que os apoiam.

    O Skaf (o poder econõmico), olhando, lá da janela do último andar do prédio da FIESP, aquele mar de rostos negros, indignados por séculos de injustiça, mas pacíficos e determinados, vai agir como os brancos na África do Sul: entregar os anéis para não perder os dedos

    Não é proibido sonhar..

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