Nós, os gregos e as selfies, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Entre os mitos fundadores do Ocidente o mais importante é aquele que diz respeito ao mesmo ser herdeiro da civilização grega. Mas se consultarmos a cultura grega, veremos que as coisas não são bem assim.

Na última década o Ocidente foi soterrado por um inesgotável e crescente tsunami de imagens que foram produzidas e compartilhadas na internet. Às fotos digitais tiradas e compartilhadas pelos internautas foram rapidamente acrescentadas fotos digitalmente produzidas para registrar situações inusitadas, inverídicas, curiosas e engraçadas (como aquela em que o avião que vai atingir o WTC aparece no fundo da foto tirada por alguém que estaria no alto de uma das torres no dia do atentado).  

A selfie  (foto tirada de si mesmo numa situação considerada relevante) é um fenômeno recente que se tornou uma verdadeira febre ocidental depois que Barack Obama fez uma de si mesmo e a compartilhou na internet. No Brasil, uma pessoa chegou a fazer uma selfie de si mesma com o caixão de Eduardo Campos morto num acidente aéreo antes da eleição presidencial.

Esta obsessão pela produção e difusão da própria imagem se tornou um fato econômico importante. Tanto que alguns produtos foram concebidos, produzidos e comercializados especificamente para que o interessado faça selfies. Este é o caso do “pau de selfie, um bastão mais ou menos sofisticado que alonga a distância entre o fotografo e sua câmera voltada para si mesmo. Também é o caso da mais recente câmera lançada pela Canon, cujo mostrador de LCD é móvel e pode ser posicionado para que o fotógrafo veja a selfie que está fazendo.

Durante o período clássico e até seu declínio, a Grécia também produziu imagens. As estátuas e relevos que foram cinzelados em mármore ou moldados em bronze pelas mãos dos seus escultores habilidosos chegaram até nós. Algumas delas representam pessoas que existiram. Também chegaram até nós textos antigos que fazem referências a pinturas que foram famosas entre os gregos na antiguidade. A cultura grega, porém, reprovava o apego exagerado à própria imagem. Prova disto é a existência do mito de Narciso. O filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope definhou e morreu à beira de um lago admirando a própria beleza.

O narcisismo, que é reprovado pelo mito grego de Narciso e descrito pela moderna ciência médica como um transtorno da personalidade, caracteriza cada vez mais a sociedade ocidental. O Ocidente deixou seu berço? Esta é uma pergunta difícil de responder.

A irracionalidade sempre foi um componente da mitologia. Todos os mitos ensinam por caminhos tortos, procuram transcender os limites da realidade e da racionalidade para introduzir num outro universo simbólico aquele que entra em contato com o mito.

Como todo mito fundador, aquele que liga o Ocidente moderno à Grécia antiga, independe das semelhanças e diferenças entre a nossa cultura e a cultura dos gregos antigos. Além disto, os partidários da presença do legado grego na cultura ocidental sempre poderão dizer que a criação do mito de Narciso indica que a auto-admiração era um fato socialmente relevante na Grécia Antiga. E finalizariam com um anacronismo bem ao gosto de alguns cronistas, filósofos jornalísticos, especialistas televisados e eruditos midiáticos brasileiros: se tivessem máquinas digitais os gregos também fariam selfies. Fariam mesmo?

Fábio de Oliveira Ribeiro

11 Comentários

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    1. Não há nenhum auto-retrato
      Não há nenhum auto-retrato conhecido que tenha sido pintado por um pintor da antiguidade (período que foi referido no texto). Se você viu algo parecido foi enganado por um falsário. Caso não viu o falsário é você mesmo, pois presume que os leitores são todos ignorantes que merecem ser enganados.

  1. Ai que preguiça!
    O rapaz

    Ai que preguiça!

    O rapaz mistura selfie com democracia e mitologia grega e acha que entende do assunto, santo Zeus!

    O ocidente não deriva moralmente da Grécia antiga, mas tão somente e apenas a democracia ocidental tem inspiração na democracia grega. Daqueles remotos tempos até a revolução francesa foram alguns milhares de anos.

     

    1. Ai que preguiça. Mais um
      Ai que preguiça. Mais uma cretina narcisista que se dedica a fazer ataques pessoais porque só consegue admirar sua própria imagem no espelho e, por causa disto, acredita que o que difere de si é feio, errado, grosseiro e tem que ser descartado, ignorado, desprezado e ofendido. Ha, ha, ha…Você já tomou sua medicação tarja preta hoje Geruza?

  2. Antiguidades

    Na cidade de Roma antiga — mais de 1 milhão de habitantes, ambiente da corte imperial e as matronas romanas (!!!) — o selfie seria uma praga.

    Na Grécia, com a distância entre as ilhas, o sinal digital é problemático. As conexões só se aperfeiçoaram com a chegada da OTAN e as neuroses da Guerra Fria.

    Mas vamos ser francos: com aquele mar de um azul quase pornográfico, a vida longe dos grandes centros de poder da antiguidade, para que ficar se exibindo para os outros?

    Tudo o que uma pessoa poderia querer em termos de amizade e reconhecimento de seus semelhantes estava ao alcance das mãos… o selfie na Grécia antiga seria um tremendo fracasso!

  3. …A selfie (foto tirada de

    …A selfie (foto tirada de si mesmo numa situação considerada relevante) é um fenômeno recente que se tornou uma verdadeira febre ocidental depois que Barack Obama fez uma de si mesmo…

     

    …No Brasil, uma pessoa chegou a fazer uma selfie de si mesma com o caixão de Eduardo Campos…

     

    Você e a selfie de si mesmo. Do pleonasmo duplamente vicioso à tautologia reiterada.

    1. Felizmente não escrevo textos
      Felizmente não escrevo textos para leitores como você. As pessoas comuns não são tão mesquinhas ao julgar meu estilo, pois escrevo como elas. E em razão disto elas se sentem tão a vontade com meus textos como se sentem mal quando se deparam com quem as censura como você me censurou. Seu público é outro, seleto, minúsculo. O meu público pode ser maior do que o seu. Portanto seguirei meu caminho me expressando como gosto. Procure sua turma e seja feliz com sua turma porque na sua turma todos são gramaticalmente repressivos e infelizes como você.

      1. Censura? Onde? Neste espaço

        Censura? Onde? Neste espaço só o dono do blog tem o poder de censura. Comentei apenas de suas incongruências. 

        E nem mesmo chamei-o de cretino narcisista como vc o fez respondendo a uma mensagem bem aqui abaixo. 

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